O eterno aprendizado de uma sociedade que tem dificuldade em inovar

Vários jargões foram criados ao longo dos anos em diversos idiomas para situações de erros e fracassos. Os famosos conceitos "errar é humano" e "aprender com os próprios erros" são louváveis e admiráveis, mas são também muito restritos.

Especialmente na sociedade brasileira, esse aprendizado com os erros, seja com os próprios ou com os erros alheios, não fazem parte da cultura da maioria da população. Os poucos que aprendem, se destacam e existem alguns segmentos que validam essa linha de raciocínio: política, educação, esportes, economia, empreendedorismo. A imagem destacada é assunto na maioria dos textos que destacam inovação e transformação digital na internet atual, com a história da ascensão da gigante das mídias digitais Netflix e a derrocada da rede de locadoras (alerta de expressão cringe) Blockbuster, que é sempre citada como um exemplo de gigante que foi derrotada pela falta de inovação.

Um grande exemplo de "Blockbuster da sociedade" é o esporte em geral. Em 2021 tivemos uma edição de jogos olímpicos com skate, surfe, escalada e modalidades-teste de esporte eletrônico (péssimo teste, por sinal) e uma tentativa de rebelião de clubes europeus de futebol, modalidade mais popular do planeta. Dois acontecimentos que a grande massa pode julgar como surpreendentes e ridículos, mas que não trazem surpresa alguma a quem acompanha a interface dos temas esporte, popularidade e inovação.

O esporte convencional está em crise, seja em praticantes, espectadores ou prospecção futura. Tudo isso pois a geração "convencional" vem se transformando e se recusa a consumir determinadas tradições que são forçadas por uma geração que está envelhecendo e morrendo. Tomando como ponto de exemplificação o esporte mais popular do mundo, não é novidade toda a politicagem, corrupção e desorganização do futebol brasileiro, que está refletida no campeonato nacional. Mas há alguns anos vem se desvendando um novo caso: as demais entidades do futebol mundial tem os mesmos defeitos! E os prejudicados são os clubes.

Vamos fazer um breve exercício de raciocínio, onde a UEFA Champions League, que reúne os melhores clubes do esporte mais popular do mundo durante 10 meses de competição por ano, no mesmo formato há mais de 20 anos não é a liga mais rica do mundo. O sistema de federações no mundo do futebol é uma das coisas que mais atrasam o esporte, especialmente no Brasil. É inadmissível que as ligas mais valiosas do mundo sejam ligas de esportes como futebol americano e beisebol.

A ideia de uma Superliga Europeia é antiga e diria, inevitável. A UEFA e a FIFA, assim como as entidades mundo a fora regulam o esporte de maneira até criminosa e em algum momento esse movimento dos clubes observando modelos de sucesso em outros esportes chegaria para ameaçar a mina de ouro destas entidades. O modelo da Superliga proposta em 2021 talvez tenha sido precipitado e longe do ideal, mas a cada contrato milionário da NFL e da MLB, a UEFA, a FIFA e as demais entidades sentem a zona de conforto se esfacelar.

Outro ameaçado por essa geração transformada e totalmente digital é o COI. A cada edição dos jogos olímpicos a tradição dos esportes convencionais atrai menos público e a entidade, da mesma laia de UEFA, FIFA e demais, se vê obrigada a ceder um pouco para não transformar as Olimpíadas em um grande meme futuramente. A ascensão de esportes relativamente novos e super recentes como os eletrônicos colocam em cheque as entidades e seu poder de ceder a inovação.

São inúmeros os casos que demonstram o quanto os jogos Olímpicos podem ser a nova Blockbuster, como a comparação de brasileiros medalhistas olímpicos como Arthur Zanetti e Esquiva Falcão sofrendo com dificuldades financeiras e o ucraniano do levantamento de peso pego no dopping com FalleN e S1mple, respectivamente seus compatriotas do CS:GO, um dos maiores cenários competitivos do esporte eletrônicos, que tem contratos milionários com organizações milionárias. 

Há casos de possíveis Blockbusters em vários outros segmentos, mas uma coisa é certa para todos nós: não repita os erros já cometidos e acompanhe a transformação, para que as lembranças do passado não sejam uma deveras cringe locadora de filmes vazia.