E se o Le Figaro tivesse cancelado o Marinetti?
175
0

E se o Le Figaro tivesse cancelado o Marinetti?

Se o Le Figaro, tivesse cancelado o Marinetti. O Fascismo não teria deixado de existir, e a luta das mulheres não teria sido mais branda.

Monalisa
3 min
175
0
Capa Le Figaro, widewalls.ch
Capa Le Figaro, widewalls.ch

O Manifesto Futurista, foi publicado em Fevereiro de 1909, no jornal  francês Le Figaro. Com pé na modernidade e com a cara de que já veio ao mundo para ser controverso.

"[...]9-    Nós queremos glorificar a guerra - única higiene do mundo - o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos libertários, as belas ideias pelas quais se morre e o desprezo pela mulher.

10   -Nós queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academias de toda natureza, e combater o moralismo, o feminismo e toda vileza oportunista e utilitária.[...]"

Marinetti, chegou dizendo tudo que pensava e se transformou, ele mesmo, na representação do futurismo e o futurismo, enquanto movimento artístico literário acabou por se transformar no movimento oficial do fascismo, na Itália.

Começar uma aula de literatura sobre Vanguardas Europeias apresentando o senhor: Filippo Tommaso Marinetti, que foi um escritor, poeta, jornalista e ativista político italiano.

É deixar tudo fervendo, é fazer pensar o oposto, o pensamento diferente, move, provoca, deixa a mente adolescente; eu diria: deixa a mente humana inquieta (de um modo satisfeito ou não).

Apresentar o manifesto, pode ser chato, sim! Mas, quando chegar nos pontos 9 e 10; até quem estiver tirando uma sonequinha, vai querer falar.

Agora imagina você, se o Le Figaro, tivesse cancelado o Marinetti?

 _ Le Figaro:    Ma che, desprezo pela mulher? Antifeminismo? Destruir museus, bibliotecas e academias, amico!?

_ Marinetti: É, essa é a ideia!

 _ Le Figaro : Querido não vai rolar... A gente só vai publicar os outros; que são legais, e a gente gosta!

O Le Figaro tinha um impacto menor na sociedade, do que as rede sociais possuem nos nossos dia?

Eles influenciavam menos? Certamente, não.

Até porque toda a base de mudanças de valores da nossa sociedade no século 21, vem da influência da arte e da cultura que foi divulgada e difundida, tendo esse e outros veículos da época como suporte.

Então, onde quero chegar?

Construção de história, juízo de valor, temos direito de saber todos os lados. O mundo é lindo, é cor de rosa? Não. Então, temos que ouvir e deixar registrado os fatos.

Hoje, só podemos falar da associação equivocada de Marinetti ao fascismo, que limitou e diminuiu o futurismo, enquanto movimento artístico literário; graças aos registros históricos, muitos deles por meio dos jornais da época.

Se o Le Figaro, tivesse cancelado o Marinetti. O Fascismo não teria deixado de existir, e a luta das mulheres não teria sido mais branda.

Mas, nós teríamos perdido uma parte da história, teríamos menos conhecimento, teríamos menos capacidade de analisar, criticamente as Vanguardas sem o contraponto, sem o diferente, entre os diferentes daquele tempo.

Vivemos em um momento no qual a mídia que nasceu, cresceu e sempre se vendeu como imparcial e responsável por registrar fatos, está tomada por paixões.  

Por isso, ela facilmente caí na tentação de calar e opinar, ela ferve no passional e nem se recorda do imparcial ou do mero registro do fato. E como diria o Bardo: “Mostre-me um homem que não seja escravo das suas paixões.”

O espaço concedido ao Manifesto Futurista nos permiti hoje, mais de um século depois, questioná-lo, analisá-lo, considerando o seu valor histórico para sua época e o que ele significa para nós artisticamente, ainda hoje.

Construímos a história de modo diferente no nosso tempo e se cairmos na tentação de calarmos as figuras contemporâneas, por mais contrários que sejamos a elas e as suas ideias, sem fatos, como contaremos a história do nosso tempo, para as gerações futuras, daqui alguns séculos?

Talvez seja melhor estabelecer algumas metas: deixaremos os fatos, mas responsabilizaremos os atores quando esses forem culpáveis, busquemos um jeito fiel de guardar a história do nosso tempo.

Lembremos, do Le Figaro de fevereiro de 1909.