Por quem os sinos dobram.
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Por quem os sinos dobram.

“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, [...] E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.” Medita...

Monalisa
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“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, [...] E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.” Meditação 17 – John Donne

Sinos, Pixabay. 
Sinos, Pixabay. 

Quando eu li a primeira vez esses versos, na contra capa do livro do Hemingway, eu estava num quarto de hospital acompanhado a minha vó, em fase terminal de uma doença. Talvez por essa razão cada leitura desse poema  seja carregada de emoção, e o coração nunca fique em silêncio diante dessas palavras, mesmo tantos anos depois, da primeira leitura.

Talvez ainda, porque nesse primeiro contato, o momento que eu vivia, me permitia muito mais sentir, do que entender, a dor da perda e a consciência de pertencimento a essa humanidade que o eu lírico cantava, ao sentir que um dos meus mais preciosos “torrões de terra” estava sendo arrastado para mar.

Muitas vezes, nesses período  pandêmico eu me lembrei desse poema, eu o ressignifiquei das mais variadas formas:  na ausência dos amigos, em novos sustos com as pessoas amadas, ao ler as notícias dos jornais, ao me entristecer com histórias de desconhecidos, ao me indignar com a má gestão do dinheiro público que segue mesmo em meio a uma pandemia; e prejudica os mais pobres sempre.

“Nenhum homem é uma ilha isolada...”

Você já parou para pensar sobre isso?

Consciente ou inconscientemente, espero que sim!

Interpretando essas linhas, de um modo muito simplista, pode-se afirmar que somos menores sozinhos, ficamos diminuídos isolados. Pode-se dizer até que menos humanos.

Por isso precisamos nos deixar tocar pelo outro.

Vivemos num tempo de culto à beleza, de valorização do ego, de busca pela felicidade, de priorização de individualidades e esquecemos muitas vezes das pessoas ao nosso  lado, e da importância de quem nos cerca, porque nos supervalorizamos ou porque nos desvalorizamos.

São filtros de mais e realidade de menos.

Mas, sempre podemos começar a olhar pro outro.

Toda vez que leio esse poema eu fico pensando no nome que lhe foi dado

Meditação 17.

E algumas vezes, fico pensando sobre o significado da palavra meditar que é: estudar o pensamento, entregar-se a longas e profundas reflexões...

Meditar gasta tempo...

Gastar-se com o outro toma do nosso tempo.

E não temos tempo para gastar com outro.

“_ A vida é uma correria!”.

“_ É tudo para ontem!”.

Então, pessoas podem ficar para amanhã.

E nem temos amanhã.

Somos por vezes obstinados demais com as nossas vontades, com as nossas opiniões, com os nossos desejos; e em determinadas situações esquecemos ou até apagamos a existência do outro.

“Se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída”

O que acontece com o outro nos afeta, ou pelo menos deveria!

Sendo assim, que sejamos sempre “um ombro na noite quieta, um colo pra começar o dia”. (Tomando emprestado esses versos de um outro autor).

E nessas pequenas coisas possamos reconhecer a nossa humanidade.

“...Portanto, não procures saber por quem o sino toca, ele toca por ti...”


     Para ler quando quiser:

  • Meditação 17 – John Donne
  • Por quem os Sinos Dobram - Ernest Hemingway