Por: Redação
Por: Redação | ||
Atualizado: 01 de março de 2022 / terça-feira / 12h45 | ||
Seria tolice da minha parte querer enumerar os casos de violência no futebol nas últimas décadas, anos, meses ou dias, porque muitos casos não chegam ao conhecimento da imprensa e não tem uma ampla divulgação. Xingamentos, gestos obscenos, agressões e falas racistas, agressões físicas e morais, machismo e homofobia, faziam parte de um passado em vivíamos em um clima – principalmente dentro e fora dos estádios de futebol – de vale tudo e de absoluta normalidade. Mas o Mundo e a sociedade mudaram e atitudes aceitáveis em décadas passadas são inaceitáveis nos tempos atuais. Essa cultura do vale tudo e selvageria só trouxeram malefícios para o futebol e para a sociedade. | ||
É chagada a hora de uma ruptura e discutirmos uma ampla mudança estrutural no futebol brasileiro para alcançarmos a tão sonhada mudança comportamental de uma pequena parte de pessoas que se dizem torcedores. Para que essa ruptura aconteça e seja benéfica para todos, vai ser necessário uma mudança de atitude dos dirigentes dos clubes, dos presidentes das Federações Estaduais, dos organizadores de competições e da CBF. Sim. Sem o comprometimento dos comandantes do futebol brasileiro vamos continuar assistindo cenas de violência e selvageria cada vez mais graves. | ||
O futebol é uma grande fonte de receitas para ambulantes, lojas que comercializam materiais esportivos, profissionais de imprensa, profissionais que se qualificam para desenvolver alguma atividade dentro ou fora das quatro linhas, jogadores, empresários do mundo da bola,…… É uma cadeia que gera emprego e renda para centenas de milhares de pessoas somente no Brasil. Os interesses comerciais são enormes e não se limitam somente para o topo da pirâmide. O problema é que o topo dessa pirâmide (com raríssimas exceções) estão de braços cruzados sem a mínima preocupação com o que está acontecendo com o esporte mais popular do Brasil. E, se estão preocupados, estão fazendo muito pouco para que essa grande fonte de receitas continue crescendo. | ||
Quando um dirigente aceita ou colabora com a invasão de pessoas que se dizem torcedores a um centro de treinamentos para ameaçar jogadores e comissão técnica, ele está colaborando para que o ambiente fique hostil. Quando um dirigente patrocina pessoas que se dizem torcedores com combustível, alimentação e ingressos para que elas estejam no estádio – independente da localidade – ele está errado. Não é novidade para ninguém que muitos dirigentes utilizam essas pessoas que se dizem torcedores para ter apoio político dentro do clube, hostilizar os possíveis adversários políticos e críticos ao modelo de gestão. | ||
Quando um dirigente é contrário a esse tipo de situação, ele é execrado por essas pessoas que se dizem torcedores e começa sofrer represálias. Os torcedores não são proibidos de questionar o modelo de gestão dos dirigentes ou o desempenho dos atletas e da comissão técnica. Mas esse questionamento deve ser feito de forma respeitosa e com civilidade. A partir do momento que um grupo de pessoas que se dizem torcedores soltam bombas dentro do ônibus que conduz os atletas e a comissão técnica para um estádio ou invade o campo de jogo para agredir jogadores e membros da comissão técnica, o limite da civilidade foi ultrapassado e é preciso ser tomadas as devidas providências dentro da lei. | ||
Em determinadas situações, exemplo dos atos terroristas contra o ônibus do Bahia e do Grêmio, os clubes não deveriam entrar em campo e cancelar as partidas de forma definitiva. Mas, para tomar uma atitude desse tamanho é necessário que dirigentes, técnicos e principalmente os jogadores estejam unidos para lutar contra os interesses comerciais das Federações Estaduais, dos organizadores das competições e da CBF. Os jogadores e comissões técnicas são os responsáveis pelo espetáculo e, por incrível que pareça, são os mais expostos aos atos de vandalismo e não tem apoio dos clubes para tomarem uma decisão de mais impacto. Vale a pena lembrar que eles (jogadores e comissões técnicas) por várias vezes tentaram se unir mas a desunião e a submissão foram maiores. Em alguns casos, principalmente quando atinge jogadores que ainda não conseguiram a independência financeira e estão escondidos em alguma localidade distante dos holofotes, podemos trocar as palavras desunião e submissão por necessidade de levar o pão para casa. A iniciativa mais incisiva deveria partir dos jogadores independentes financeiramente e com maior visibilidade. | ||
A violência no futebol e na sociedade não pode ser normalizada e não devemos achar que são casos isolados. Não. São atentados planejados e orquestrados que estão privando os verdadeiros torcedores de vestir a camisa do clube que torce e de frequentar os estádios por causa da barbárie promovida por pessoas que se dizem torcedores. Essa sensação de impunidade dessas pessoas deve ser combatida pelos clubes, pelas Federações, pela CBF e pela Justiça. A Justiça, independente da instância, faz um enorme esforço para combater e inibir essas pessoas que se dizem torcedores, mas, enquanto não tivermos leis que às punam de forma rígida, vamos ter que conviver com situações que estão afastando os verdadeiros torcedores dos estádios e de locais que possam assistir as partidas de forma tranquila. |