Baianinho: uma história de luta e determinação
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Baianinho: uma história de luta e determinação

Quando, em 1978, o senhor José Xavier – em memória – (sergipano da Tapera, município de Itaporanga D’Ajuda) e a senhora Vanda (baiana de Salvador) resolveram morar em Aracaju-SE, não tinham ideia que, entre os filhos, estaria um dos jogadores...

Redação
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Em pé da esquerda para a direita: Agnaldo, Ita, Denílson, Osvaldo, Pedrinho e Carlos.

Agachados da esquerda para a direita: Gilvan, Baianinho, Sandoval, Paulinho e Elenílson.

Segue a escalação completa: Carlos; Agnaldo, Ita, Denilson e Pedrinho; Osvaldo, Sandoval, Baianinho e Elenilson; Gilvan e Paulinho. Técnico – Luíz Pondé.

Club Sportivo Sergipe – 1988

Acervo: Baianinho.

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Em pé da esquerda para a direita: Agnaldo, Osvaldo, Valmir, Ita, Pedrinho e Flávio.

Agachados da esquerda para a direita: Sandoval, Celso Mendes, Baianinho, Elenilson e Carlinhos.

Club Sportivo Sergipe – 1990

Acervo: Baianinho.

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Em pé da esquerda para a direita: Professor Sérgio, Alex, Agnaldo, Ita, Denílson, Elenilson e Flávio.

Agachados da esquerda para a direita: Baianinho, Gilvan, Celso Mendes, Sandoval e Carlinhos.

Club Sportivo Sergipe

Acervo: Baianinho.

Quando, em 1978, o senhor José Xavier – em memória – (sergipano da Tapera, município de Itaporanga D’Ajuda) e a senhora Vanda (baiana de Salvador) resolveram morar em Aracaju-SE, não tinham ideia que, entre os filhos, estaria um dos jogadores mais brilhantes do futebol sergipano. O garoto de doze anos tinha nome e sobrenome, mas, no Conjunto Médice e, posteriormente, no Ponto Novo, o chamavam de Baianinho.

Baianinho estudava no Colégio Emílio Garrastazu Médice e, naquela época, existia o concorridíssimo Jogos da Primavera. O Médice nunca foi campeão dos Jogos da Primavera, mas, Gilmar, técnico de futebol de salão da equipe do Médice e um dos melhores jogadores de futebol de salão de Sergipe, apostou em muitos jogadores e, entre eles, estava Baianinho. Aquele baixinho assimilou as orientações do “mestre’’ Gilmar e arrebentou durante a competição e, como prêmio, o Médice conquistou o tão sonhado título de Campeão de Futebol de Salão dos Jogos da Primavera.

Dona Lurdes, diretora do Colégio Emílio Garrastazu Médice e torcedora da Associação Desportiva Confiança, queria que Baianinho fosse fazer um teste no juvenil do clube do Bairro Industrial. Mas, quis o destino, que Jaime, goleiro do Club Sportivo Sergipe, levasse Baianinho para fazer um teste no juvenil no clube do Bairro Siqueira Campos. Mera formalidade. Afinal, quem assistia Baianinho nas quadras e nos campos de pelada já sabia que ele seria selecionado e faria parte do juvenil do Club Sportivo Sergipe.

Sempre determinado e focado, Baianinho aproveitou a oportunidade de realizar o sonho de ser um jogador de futebol e, não demorou muito, já estava treinando entre os profissionais. Orientado pelo saudoso Geraldão – símbolo do Club Sportivo Sergipe – e pelos companheiros, Baianinho foi ganhado espaço e, todos os técnicos que chegavam no clube, tentavam extrair o máximo da qualidade técnica daquele baixinho veloz e indomável.

Baianinho não nasceu para perder (tenho certeza que a palavra perder’ não existe no dicionário de Baianinho) e, quando entrava em campo, se transformava em uma “fera indomável’’. Habilidoso, veloz, inteligente, confiante e com muita facilidade para fazer gols, Baianinho gostava de jogo grande e não aceitava ser intimidado pelos oponentes. Quanto mais diziam que iam bater / dar pancada ele partia pra cima e, na maioria das vezes, os defensores se arrependiam de provocá-lo.

Jogador de personalidade forte, muitos o chamavam de polêmico. Como todo ser humano que tem personalidade forte, Baianinho enfrentou muitos desafios. Alguns técnicos, tentaram, sem sucesso, deixar Baianinho no banco de reservas. O problema é que quando a situação estava difícil, a torcida começava gritar o nome “Baianinho, Baianinho,….’’ e quando ele entrava resolvia. Ele resolvia porque treinava muito e sabia que quando surgisse uma oportunidade teria que estar preparado.

Chegou o dia de sair do Club Sportivo Sergipe e fazer a alegria de outras torcidas. O amor e a vontade de vencer jogando futebol era renovada a cada dia, independente do clube que ele estivesse defendendo. Mas, como nós estamos carecas de saber, futebol não é somente o glamour e a emoção de entrar em campo com as arquibancadas lotadas. Baianinho teve que sobreviver em uma época em que grande parte dos jogadores não ganhavam o mesmo que ganham hoje e, para completar, muitos dirigentes enganavam os jogadores com promessas impossíveis de serem realizadas. Sem falarmos que Baianinho nunca fez “média’’ com dirigente para ser beneficiado. Sempre foi sincero e reto.

Um belo dia, depois de ter sido enganado mais uma vez por dirigentes – deixaram de pagar salários e outros direitos trabalhistas – Baianinho, com trinta e três anos, decidiu encerrar a carreira de jogador profissional. Sem sentir nenhum tipo de arrependimento por ter deixado de ser um jogador profissional, seguiu a vida em outros segmentos do mercado sem baixar a cabeça e com a certeza que sairia vencedor de mais uma batalha.

Em outro belo dia, Baianinho resolveu ir para São Paulo. Foi, em São Paulo, que ele enfrentou o maior desafio da vida. Mas, como quem nasceu para vencer e não desiste facilmente, Baianinho começou a jogar nos campeonatos amadores em São Paulo. Os campeonatos amadores em São Paulo são fortíssimos e os jogadores de boa qualidade técnica são bem remunerados. Disputando uma partida, o proprietário de uma indústria estava assistindo a partida e, depois da partida, chamou Baianinho e fez a seguinte pergunta: quanto você quer para jogar no meu time? Baianinho não pensou duas vezes e respondeu o seguinte: eu só quero que o senhor dê uma olhada no meu currículo e, se for possível, me dê um emprego. O empresário observou o currículo de Baianinho e disse que ele já estava empregado.

Baianinho reside em Mogi das Cruzes, trabalha na mesma empresa há quinze anos. Continua jogando futebol amador, dando muito trabalho para os marcadores, fazendo gols e levantando taças.

Antes de encerrar, quero fazer três observações.

  • Quando perguntei sobre a emoção de ver o Batistão lotado gritando o nome dele e sobre seus pais, Baianinho não conseguiu segurar a emoção.
  • Não citei o nome de alguns amigos de Baianinho. Não tenho a menor dúvida que cometeria uma enorme injustiça e estamos carecas de saber quem são os verdadeiros amigos de Baianinho.
  • Sei que não tenho autorização para falar em nome dos torcedores dos clubes que Baianinho jogou. Mas, tenho certeza que a esmagadora maioria dos torcedores tem por você (Baianinho) um enorme respeito e muitas saudades. Vale a pena lembrar que o futebol brasileiro ficou chato e muitos jogadores entram em campo sem o que chamamos de “fome pela vitória’’. E isso você tinha e tem de sobra.

Um forte abraço, do amigo Riva!!!!!