A transformação através do corpo
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A transformação através do corpo

A transformação através do corpo.

anderson
9 min
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A transformação através do corpo.

Por que a maioria das religiões condena ou renega o corpo? Tenho a impressão de que as pessoas

interessadas em uma busca espiritual sempre olharam o corpo como um obstáculo ou mesmo como um

pecado.

Por que tão poucas pessoas encontram o que procuram?

Os seres humanos são bastante semelhantes aos animais no que se refere ao

funcionamento do corpo. Ambos têm as mesmas funções corporais básicas, como respirar,

comer, beber, defecar, dormir, sentir prazer e dor, ter o impulso de buscar um parceiro e

procriar e, é claro, nascer e morrer. Muito tempo depois de terem decaído do estado de 

graça e unidade para o estado de ilusão, os seres humanos repentinamente despertaram no

que parecia ser um corpo animal e ficaram bastante alarmados. “Não se iluda. Você não

passa de um animal”. Era uma verdade óbvia, mas bastante difícil de suportar. Adão e Eva

perceberam que estavam nus e sentiram medo. A negação inconsciente de sua natureza

animal acabava de acontecer. A ameaça de que poderiam ser dominados por impulsos

instintivos poderosos e reverterem ao estágio de total inconsciência estava muito próxima.

A vergonha e alguns tabus em torno de certas partes e funções do corpo, especificamente

quanto à sexualidade, passaram a existir. A luz da consciência dos humanos ainda não era

forte o bastante para conviver com uma natureza animal, para permiti-la ser e até mesmo

apreciar esse aspecto, muito menos para penetrar profundamente dentro dela, para

encontrar a divindade oculta em seu interior, a realidade dentro da ilusão. Os humanos,

então, fizeram o que tinham de fazer. Começaram a se dissociar de seus corpos. Viam

agora a si mesmos como possuindo e não simplesmente sendo um corpo.

Essa separação ficou ainda mais acentuada quando as religiões surgiram, graças à

crença de que “você não é o seu corpo”. Inúmeras pessoas do Leste e do Oeste, em todas

as eras, tentaram encontrar Deus, a salvação ou a iluminação, através da negação do corpo.

Essa procura passou por uma negação da satisfação dos sentidos, em especial da

sexualidade, e por jejuns e outras práticas ascéticas. Algumas pessoas infligiam até mesmo

sofrimento ao corpo, numa tentativa de enfraquecê-la ou puni-la, porque ele era visto

como cheio de pecado. No cristianismo, isso era chamado de mortificação da carne. Outras

pessoas tentaram escapar do corpo entrando em estados de transe ou buscando

experiências extracorpóreas. Muitas ainda adotam essas práticas. Conta-se que até Buda

praticou a negação do corpo através do jejum e de práticas extremadas de ascetismo

durante seis anos, mas ele só atingiu a iluminação depois que abandonou essa idéia.

O fato é que ninguém jamais atingiu a iluminação negando ou combatendo o corpo,

ou através de experiências fora dele. Embora uma experiência desse tipo possa ser

fascinante e nos proporcionar um vislumbre do estado de libertação da forma material, no

fim, sempre temos de voltar para o corpo, que é onde acontece o trabalho essencial de

transformação. A transformação acontece através do corpo, e não distanciada dele. Essa é a

razão pela qual nenhum dos verdadeiros mestres jamais defendeu lutar ou abandonar o

corpo, embora seus discípulos, com base na mente, freqüentemente defendam.

Dos antigos ensinamentos relativos ao corpo, somente sobrevivem fragmentos, como

as palavras de Jesus “todo o seu corpo será preenchido pela luz”, ou mitos, tal como a

crença de que Jesus jamais abandonou seu corpo, mantendo-se unido a ele e com ele tendo

subido ao “paraíso”. Quase ninguém, até hoje, compreendeu esses fragmentos ou o sentido

oculto de certos mitos. A crença de que “você não é o seu corpo” prevalece em todas as

partes do mundo, levando a uma negação do corpo e a tentativas de escapar dele. Isso tem

impedido que inúmeras pessoas alcancem a realização espiritual e encontrem o que

procuram.

É possível recuperar os ensinamentos perdidos sobre a significação do corpo ou reconstruí-los a partir

de fragmentos existentes?

Não há necessidade disso. Todos os ensinamentos espirituais vêm da mesma Fonte.

Nesse sentido, existe e sempre existirá somente um mestre, que se manifesta de vários

modos diferentes. Eu sou esse mestre e você também é, desde que seja capaz de acessar a

Fonte interna. E o caminho é através do corpo interior. Embora todos os ensinamentos

espirituais tenham origem na mesma Fonte, no momento em que eles são verbalizados e

escritos não passam de ajuntamentos de palavras, e uma palavra não passa de um letreiro

em um poste apontando o caminho de volta à Fonte.

Já comentei sobre a Verdade escondida dentro do nosso corpo, mas vou resumir,

outra vez, os ensinamentos perdidos dos mestres. Portanto, aqui está um outro letreiro. Por

favor, procure sentir o seu corpo interior enquanto ler ou ouvir.

O sermão sobre o corpo.

Aquilo que percebemos como uma estrutura compacta chamada corpo, que é sujeito

às doenças, ao envelhecimento e à morte, não é real, não é você. É uma percepção errada

da nossa realidade essencial, que está além do nascimento e da morte, cuja causa está nas

limitações da nossa mente. A mente, tendo perdido o contato com o Ser, cria o corpo

como uma prova da sua crença ilusória de separação para justificar o seu estado de medo.

Mas não despreze o corpo, porque é no interior desse símbolo de não permanência,

limitação e morte que está contido o esplendor da nossa realidade essencial e imortal. Não

desvie a atenção para outro lugar em sua busca da Verdade, pois ela não pode ser

encontrada em nenhum outro lugar que não no interior do seu corpo.

Não lute contra o seu corpo, porque, ao fazer isso, você está lutando contra a sua

própria realidade. Você é o seu corpo. O corpo que você vê e toca é somente um delicado

véu de ilusão. Debaixo dele encontra-se o seu corpo interior invisível, a porta de entrada

para o Ser, para a Vida Não Manifesta. Através do corpo interior, estamos

inseparavelmente conectados a essa Vida Não Manifesta – onde não há nascimentos nem

mortes –, que é eternamente presente. Através do corpo interior, estamos sempre com

Deus.

Finque raízes profundas no seu eu interior.

A chave é estar em um estado de conexão permanente com o nosso corpo interior,

em senti-lo em todos os momentos. Essa prática vai se intensificar rapidamente e

transformar sua vida. Quanto mais consciência direcionamos para o nosso corpo interior,

mais cresce a freqüência vibracional, tal qual a luz que vai ficando mais forte quando

giramos o botão do dimmer, aumentando o fluxo de eletricidade. Nesse nível de energia

mais elevado, a negatividade deixa de nos afetar e tendemos a atrair novas circunstâncias

que refletem essa alta freqüência.

Quanto mais concentramos a atenção no corpo, mais nos fixamos no Agora. Não nos

perdemos no mundo exterior, nem na mente. Pensamentos, emoções, medos e desejos

podem até estar presentes, mas não vão mais nos dominar.

Verifique onde está a sua atenção neste momento. Ou você está me ouvindo ou está

lendo minhas palavras em um livro. Aqui está o foco da sua atenção. Você também está

percebendo o que está ao redor, as outras pessoas, etc. Além disso, pode haver alguma

atividade mental em volta do que você está ouvindo ou lendo, algum comentário mental,

embora não haja necessidade de nada disso absorver toda a sua atenção. Verifique se você

consegue estar em contato com o seu corpo interior ao mesmo tempo. Mantenha parte da

sua atenção no interior. Não permita que ela se disperse. Sinta todo o seu corpo, lá do

fundo, como um só campo de energia. É quase como se você estivesse ouvindo ou lendo

com todo o seu corpo. Pratique nos próximos dias e semanas.

Não desvie toda a sua atenção da mente nem do mundo exterior. Procure, por todos

os meios, se concentrar naquilo que você está fazendo, mas sinta o corpo interior ao

mesmo tempo, sempre que possível. Tenha as raízes fincadas dentro de você. Observe,

então, como isso altera o seu estado de consciência e a qualidade do que você está fazendo.

Sempre que você tiver de esperar, esteja onde estiver, use esse tempo para sentir o seu

corpo interior. Assim, os engarrafamentos de trânsito e as filas vão se tornar mais

agradáveis. Em vez de se projetar mentalmente para longe do Agora, aprofunde-se no

Agora ao se aprofundar no seu corpo.

A habilidade de perceber o corpo interior vai gerar um modo de vida novo, um estado

de conexão permanente com o Ser, e trazer uma profundidade à sua vida que você jamais

imaginou.

É fácil ficar presente como o observador da mente quando as raízes estão firmemente

fincadas no corpo interior. Nada que aconteça do lado de fora pode nos abalar.

A menos que você esteja presente – e habitar o corpo é sempre um aspecto

fundamental dessa prática –, a mente vai continuar governando você. O script armazenado

na mente, aprendido há tanto tempo, vai ditar o modo de pensar e agir. Podemos nos livrar

dele por períodos curtos, mas dificilmente por um período longo. Isso se comprova

facilmente quando alguma coisa “vai mal” ou quando existe alguma perda ou

aborrecimento. Nossa reação condicionada vai ser então involuntária, automática e

previsível, alimentada por uma emoção básica que está por baixo do estado identificado

com a mente, que é o medo.

Portanto, quando surgirem os desafios, como sempre surgem, adote o hábito de

penetrar direto em seu eu interior e se concentrar o máximo que puder no campo da

energia interna do seu corpo. Não leva muito tempo, só uns segundos. Mas isso tem de ser

feito no exato momento em que o desafio acontece. Qualquer demora vai permitir que a

reação condicionada mental e emocional apareça e domine você. Quando dirigimos o foco

para o campo interno e sentimos o corpo interior, imediatamente ficamos serenos e

presentes, porque estamos tirando a consciência do campo da mente. Se precisarmos de

uma resposta durante essa situação, ela virá desse campo interior. Assim como o sol é

infinitamente mais brilhante do que a chama de uma vela, há uma inteligência infinitamente

maior no Ser do que em nossa mente.

Enquanto mantivermos um contato consciente com o nosso corpo interior, somos

como as árvores que estão enraizadas bem fundo na terra, ou como um edifício com

fundações sólidas e profundas. Essa última analogia foi utilizada por Jesus na geralmente

incompreendida parábola dos dois homens que construíram suas casas. Um deles construiu

a sua na areia, sem fundações, e quando as tempestades e enchentes vieram, arrastaram a

casa com elas. O outro homem cavou fundo até que alcançou a rocha, e só então construiu

sua casa, que não foi arrastada pelas enchentes.