CAPÍTULO 10 SÓ É POBRE QUEM QUER
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CAPÍTULO 10 SÓ É POBRE QUEM QUER

CAPÍTULO 10

anderson
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CAPÍTULO 10

SÓ É POBRE QUEM QUER

O que não vemos, o que a maioria de nós nunca suspeita existir, é o poder

silencioso, mas irresistível, que vem ao resgate daqueles que lutam em face ao

desânimo.

- NAPOLEON HILL.

Na mesma década em que a Dra. Gladys estava entrando na área médica para

salvar vidas, a Segunda Guerra Mundial estava perdendo vidas. Alguns lutaram

na batalha e sobreviveram. Outros não se envolveram na guerra, mas, no entanto,

lutaram pela sobrevivência. As vítimas do Holocausto tiveram suas próprias

feridas de batalha, que lhes custaram tanto física quanto mentalmente. Aqueles

que estavam em campos de concentração tiveram que confiar em uma

determinação interior para suportar as realidades de serem mantidos em cativeiro

- uma determinação baseada na fé, mas cimentada pela força.

O filme de Steven Spielberg vencedor do Oscar, A lista de Schindler, retratou

as cenas que muitos prisioneiros do Holocausto experimentaram todos os dias.

Os contos de sobrevivência embutidos em suas memórias são exemplos de força

e perseverança que prevaleceram mesmo nas situações mais brutais. Jack Beim é

um desses sobreviventes. O comportamento calmo de Jack fala de graça e

dignidade, mas suas palavras contam uma história de incrível força e fortaleza

que supera a compreensão de uma pessoa comum.

SOBREVIVENDO NA ESPERANÇA

Jack era um menino quando se tornou prisioneiro. Uma das suas primeiras

memórias é a realização das seleções, onde separavam os prisioneiros em linhas

que selariam seu destino. Devido à sua idade, ele foi considerado útil e

categorizado como trabalhador. Entretanto, seu pai e seu irmão mais novo foram

colocados em uma linha diferente. Sabendo o que aconteceria, seu pai empurrou

seu filho mais novo para outra linha, com a intenção de salvar a vida dele.

Todos os dias, Jack foi forçado a executar extenuante trabalho físico, mas

duas coisas lhe deram força para continuar. Uma era esperança; a outra era seu

irmão. Muito jovem para um trabalho físico, seu irmão era deixado para trás. A

comida era, no mínimo, escassa, e seu irmão arriscava sua própria segurança e

bem-estar para esconder um pedaço de pão para dar ao irmão mais velho. A

lealdade familiar e o altruísmo ajudaram Jack a suportar os momentos mais

sombrios.

Durante seus anos em campos de concentração, Jack era espancado com

frequência. Suas habilidades de observação cresceram depois de testemunhar um

ritual de morte diário. Logo, aprendeu a observar de onde vinham os tiros e para

onde eles eram apontados, e ele corria na direção oposta. Sem sinal de libertação

iminente, a esperança estava por um fio – mas era a esperança que o observava

através das horríveis condições e experiências que ele estava exposto durante sua

prisão. Quando perguntado como ele conseguiu – como suportou a fome, a dor e

a brutalidade – ele respondeu: “Esperança. Eu tinha uma chance…se eu

permanecesse vivo.”

Era bem sabido que escapar não era uma opção. Apesar dos prisioneiros

superarem em número os guardas, os guardas estavam fortemente armados. Seus

cachorros encontrariam o que suas balas perdessem. Aqueles que estavam presos

nos campos tinham apenas uma escolha: ficar no campo, fazer o que lhes diziam

e esperar que vivessem o suficiente para experimentar a liberdade. Para aqueles

que ainda estavam do lado de fora, a escolha era bem clara. A única maneira de

evitar a prisão ou a morte, a única maneira de sobreviver, era se esconder.

Tal foi o caso da esposa de Jack, Adele, que tinha apenas cinco anos quando

se tornou o que ficou conhecido como “uma criança escondida”.

Um dia, sem aviso prévio, Adele foi enviada para viver com um dos clientes

de seu pai. Depois que seus avós foram tirados da casa e empurrados para os

caminhões, seu pai a levou para outra família, para mantê-la segura.

Originalmente, eles foram convidados a mantê-la por alguns meses. Aqueles

meses se tornaram três anos. Uma igreja encontrou outra casa para seu irmão.

Como muitos judeus, eles permaneceram escondidos. Sem permissão para ir à

escola, ela também não podia ir para a cidade ou ver sua família. Durante as

buscas domiciliares, ela subiu e ficou escondida entre as tábuas da casa,

tremendo de medo e – embora fosse apenas uma criança – plenamente

consciente de que, se alguém soubesse que ela era judia, ela seria morta.

Naturalmente, Adele perdeu os pais e a família. No início, passou muitas

noites chorando. No entanto, ela estava ciente de que, quando estava escondida,

não podia chorar ou emitir qualquer som. Como os prisioneiros em campos de

concentração, sabia que sua sobrevivência exigia que aceitasse suas condições.

Experiências traumáticas deixam cicatrizes emocionais. Essas cicatrizes se

revelaram quando Adele conseguiu retornar à sociedade, à família e à escola.

Após a guerra, ela era a única criança judia na escola e uma criança de oito anos

que acabara de entrar no jardim de infância. Para ajudá-la a se ajustar, seus pais a

colocaram no sistema escolar Montessori, mas ainda assim ela se sentia como

uma pessoa inferior aos outros. Ela era acanhada e tímida, com medo de que os

outros não gostassem dela por ser judia, compreensível dadas as circunstâncias

do início de sua vida. Esta insegurança e o complexo de inferioridade levaram

tempo para serem superados. Sentir-se “menos” não é fácil, mas ela aconselha

outros que sofrem dos mesmos sentimentos para serem mais fortes e se amarem.

Depois de muitas décadas, Adele entende que o trauma nos torna mais fortes,

o que faz com que ela aprecie o que tem. Ao longo dos anos, ela e seu marido

compartilharam suas experiências individuais de sobrevivência com seus filhos.

Tem sido o objetivo deles proporcionar aos filhos uma vida mais feliz do que

eles tiveram. Esse objetivo foi concluído.

Os sobreviventes do Holocausto podem nos dar uma lição de esperança. Não

havia nenhum fim à vista, nenhuma data marcada no calendário que significaria

o fim de ser mantido em cativeiro. A libertação não era certa. Era apenas um

desejo – a única coisa que fazia continuar mais uma hora, mais um dia, semana,

mês e ano.