capítulo seis
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capítulo seis

capítulo seis.

anderson
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capítulo seis.

ACEITAÇÃO E ENTREGA.

Sempre que puder, olhe para dentro de si mesmo e procure ver se você está inconscientemente

criando um conflito entre as circunstâncias externas de um determinado momento - onde você

está, com quem está ou o que está fazendo - e os seus pensamentos e sentimentos. Você

consegue sentir como é doloroso ficar se opondo internamente ao que e?

Quando reconhece esse conflito, você percebe que agora está livre para abrir mão dessa guerra

interna inútil.

Quantas vezes durante o dia, se você fosse verbalizar sua realidade interior, teria de dizer "Não quero

estar onde estou"? Como é sentir que não quer estar onde está - num engarrafamento, no seu local

de trabalho, na sala de espera do aeroporto, ao lado de determinadas pessoas?

E verdade que é ótimo conseguir sair de certos lugares - e às vezes é a melhor coisa que você pode

fazer. Mas, em muitos casos, você não tem possibilidade de sair. Em todos esses casos, o "Não

quero estar onde estou" não só é inútil como prejudicial. Deixa você e os outros infelizes.

Já foi dito: aonde quer que vá, você se leva. Em outras palavras: você está aqui. Sempre. Será que é

tão difícil aceitar isso?

Você precisa criar um rótulo para tudo o que sente, para tudo o que percebe e para toda

experiência? Precisa ter uma relação de gosto/ não gosto com a vida, mantendo um conflito quase

ininterrupto com situações e pessoas? Ou será que é apenas um hábito que pode ser rompido?

Não é preciso fazer nada, basta deixar que cada momento seja como é.

O "não" reativo e habitual fortalece o ego, o "eu" autocentrado. O "sim" o enfraquece. Seu ego

não é capaz de sobreviver à entrega.

"Tenho tanta coisa para fazer." Muito bem, mas existe qualidade no que você faz? Falar com

clientes, trabalhar no computador, realizar as inúmeras tarefas do seu cotidiano - você faz tudo isso

com a plenitude do seu ser? Quanta entrega ou recusa existe no que você faz? É essa entrega que

determina o seu sucesso na vida, não a quantidade de esforço empreendido. O esforço implica

estresse, cansaço e necessidade de alcançar um determinado resultado no futuro.

Você consegue perceber qualquer indício interior que revele que você não quer fazer o que está

fazendo? Se isso acontece, você está negando a vida, e é impossível chegar a um bom resultado.

Se você percebe esse indício, é capaz também de abandonar essa vontade de não fazer e se

entregar ao que faz?

"Fazer uma coisa de cada vez", como um mestre definiu a essência da filosofia zen, significa

dedicar-se plenamente ao que está fazendo. E um ato de entrega – uma ação poderosa.

Quando você aceita o que é, atinge um nível mais profundo. Nesse nível, tanto seu estado interior

quanto sua noção de "eu" não dependem mais dos julgamentos feitos pela mente do que é "bom"

ou ruim .

Quando você diz "sim" para as situações da vida e aceita o momento presente como ele é, sente

uma profunda paz interior.

Superficialmente, você pode continuar feliz quando há sol e menos feliz quando chove; pode ficar

contente por ganhar um milhão e triste por perder tudo o que tem. Mas a felicidade e a

infelicidade não passarão dessa superfície. São como marolas à tona do seu ser. A paz que existe

dentro de você permanece a mesma, não importa qual seja a situação externa.

O "sim" para o que é mostra que você tem uma dimensão de profundidade que não depende das

condições externas nem das internas, com seus pensamentos e emoções sempre flutuantes.

A aceitação e a entrega se tornam muito mais fáceis quando você percebe que todas as

experiências são fugazes e se dá conta de que o mundo não pode lhe oferecer nada que tenha um

valor permanente. Ao aceitar e entregar-se, você continua a conhecer pessoas e a se envolver em

experiências e atividades, mas sem os desejos e medos do "eu" autocentrado. Ou seja, você deixa

de exigir que uma situação, uma pessoa, um lugar ou um fato o satisfaçam ou o façam feliz. A

natureza passageira e imperfeita de tudo pode ser como é.

E o milagre é que, quando você deixa de fazer exigências impossíveis, todas as situações, pessoas,

lugares e fatos ficam satisfatórios e muito mais harmoniosos, serenos e pacíficos.

Quando você aceita totalmente o momento presente, quando deixa de discutir com o que é, a

compulsão de pensar diminui e é substituída por uma calma atenta. Você fica plenamente

consciente, mas sua mente não dá qualquer rótulo para esse momento. Quando você deixa de

resistir internamente, abre-se para a consciência livre de condicionamentos, que é infinitamente

maior do que a mente humana. Essa vasta inteligência pode então se expressar através de você e

ajudá-lo tanto por dentro quanto por fora. É por isso que, ao parar de resistir internamente, você

costuma achar que as coisas melhoraram.

Você acha que estou lhe dizendo "Aproveite o momento. Seja feliz"? Não.

Estou dizendo para você aceitar esse momento tal como ele é. Isso já basta.

A entrega consiste em entregar-se a esse momento, e não a uma história através da qual você

interpreta esse momento e depois tenta se conformar com ela.

Por exemplo: você pode sofrer um acidente e ficar paralítico. A situação real é esta.

Será que sua mente vai inventar uma história que diz: "Minha vida ficou assim, acabei numa

cadeira de rodas. A vida foi dura e injusta comigo. Eu não mereço"?

Ou será que você é capaz de aceitar esse momento tal como é e não confundi-lo com uma história

que sua mente inventou a partir da situação real?

A aceitação e a entrega existem quando você não se pergunta mais: "Por que isso foi acontecer

comigo?"

Mesmo nas situações aparentemente mais inaceitáveis e dolorosas existe um profundo bem.

Dentro de cada desgraça, de cada crise, está a semente da graça.

A História mostra homens e mulheres que, ao enfrentarem uma grande perda, doença, prisão ou a

ameaça de morte iminente, aceitaram o que era aparentemente inaceitável e, assim, encontraram

"a paz que vai além de toda a compreensão".

Aceitar o inaceitável é a maior fonte de graças que existe.

Há situações em que nenhuma resposta ou explicação satisfaz. Nesses momentos a Vida parece

perder o sentido. Ou alguém em desespero pede sua ajuda e você não sabe o que dizer ou o que

fazer.

Quando você aceita plenamente que não sabe, desiste de lutar para encontrar a resposta usando

o pensamento de sua mente limitada. Ao desistir, você permite que uma inteligência maior atue

através de você. Até o pensamento pode se beneficiar com isso, pois a inteligência maior flui para

dentro dele e o inspira.

Às vezes, entregar-se significa desistir de querer entender e sentir--se bem com o que você não

sabe.

Você conhece pessoas cuja maior função na vida parece ser cultivar a própria infelicidade, fazer os

outros infelizes e espalhar infelicidade? Perdoe essas pessoas, pois elas também fazem parte do

despertar da humanidade. O papel delas é intensificar o pesadelo da consciência autocentrada, da

recusa à aceitação e à entrega. Não há uma escolha deliberada na atitude delas. Essa atitude não é

o que elas são.

Pode-se dizer que a entrega é a transição interior da resistência para a aceitação, do "não" para o

"sim". Quando você se entrega, a noção que tem de si mesmo muda. O "eu" deixa de se identificar

com uma reação ou um julgamento mental e passa a ser um espaço em torno da reação ou do

julgamento. O "eu" não se identifica mais com a forma - o pensamento ou a emoção - e você se

reconhece como algo sem forma: o espaço da consciência.

Qualquer coisa que você aceite plenamente vai levá-lo à paz, o que inclui a aceitação daquilo que

você não consegue aceitar, daquilo a que você está resistindo.

Deixe que a Vida seja.