Da energia da mente para a energia espiritual
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Da energia da mente para a energia espiritual

Livrar-se da resistência não é uma tarefa fácil. Continuo sem saber como fazer isso.

anderson
9 min
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Livrar-se da resistência não é uma tarefa fácil. Continuo sem saber como fazer isso.

Comece por admitir que é resistência. Esteja lá quando a resistência aparecer. Observe

de que modo a sua mente a cria, que nome dá à situação, a você mesmo, ou aos outros.

Observe o processo de pensamento envolvido. Sinta a energia da emoção. Ao testemunhar

a resistência, você vai verificar que ela não tem nenhum propósito. Ao focalizar toda a sua

atenção no Agora, a resistência inconsciente passa a ser consciente, e isso é o fim dela.

Você não pode estar infeliz e consciente. Se há infelicidade, negatividade ou qualquer

forma de sofrimento, significa que existe resistência, e a resistência é sempre inconsciente.

Eu tenho certeza de que posso estar consciente da minha infelicidade.

Você escolheria a infelicidade? Se não escolheu, como ela apareceu? Qual é o

propósito dela? Quem a está mantendo viva? Você diz que está consciente da sua

infelicidade, mas a verdade é que você está identificado com ela e mantém vivo esse

processo de identificação, através de um pensamento compulsivo. Tudo isso é

inconsciência. Se você estivesse consciente, quer dizer, totalmente presente no Agora, toda

a negatividade iria se dissolver quase instantaneamente. Ela não conseguiria sobreviver na

sua presença. Só consegue sobreviver na sua ausência. Nem mesmo o sofrimento consegue

sobreviver muito tempo diante da presença. Você mantém a infelicidade viva quando dá

tempo a ela. Esse é o sangue dela. Remova o tempo, concentrando uma percepção intensa

no momento presente, e ela morre. Mas você quer mesmo que ela morra? Você já teve

mesmo o bastante dela? Quem você seria sem ela?

Até que você pratique a entrega, a dimensão espiritual é algo a respeito do que você já

leu, ouviu falar, escreveu, pensou, acreditou ou não. Não faz diferença. Não até que a

entrega tenha se tornado uma realidade em sua vida. No momento da entrega, a energia

que você desprende e que passa a governar sua vida é de uma freqüência vibracional muito

maior do que a energia da mente, que ainda governa as estruturas sociais, políticas e

econômicas da nossa civilização e que se perpetua através da propaganda e dos sistemas

educacionais. Através da entrega, a energia espiritual penetra nesse mundo. Ela não gera

sofrimento para você, para outros seres humanos ou para qualquer outra forma de vida no

planeta. Ao contrário da energia da mente, ela não polui a terra e não está sujeita à lei das

polaridades, que diz que nada pode existir sem o seu oposto e que não pode haver o bem

sem o mal. Aqueles que continuam dominados pela mente – a grande maioria da população

– não percebem a existência da energia espiritual. Ela pertence a uma outra ordem e vai

criar um mundo diferente quando um número suficiente de seres humanos entrar no

estado de entrega e se tornar totalmente livre da negatividade. Se a Terra sobreviver, essa

será a energia daqueles que a habitarem.

Jesus se referiu a essa energia quando proferiu seu famoso e profético Sermão da

Montanha: “Bem-aventurados os mansos porque herdarão a Terra”. É uma presença

silenciosa mas intensa, que dissolve os padrões inconscientes da mente. Eles podem até

permanecer ativos por um tempo, mas não vão mais governar a sua vida. As condições

externas, que apresentavam uma resistência, também tendem a mudar ou a se dissolver

através da entrega. Essa energia é um poderoso agente transformador de situações e de

pessoas. Caso as condições não mudem imediatamente, a sua aceitação do Agora permite

que você se coloque acima delas. De qualquer forma, você está livre.

A entrega nos relacionamentos pessoais

E quanto às pessoas que querem me usar, manipular ou controlar? Tenho de me entregar a elas?

Elas estão isoladas do Ser e tentam inconscientemente sugar sua força e energia.

Somente alguém inconsciente vai tentar usar ou manipular os outros, mas também é

verdade que apenas as pessoas inconscientes podem ser usadas e manipuladas. Se você reage

ou se opõe ao comportamento inconsciente dos outros, também fica inconsciente. Porém,

a entrega não significa uma permissão para que pessoas inconscientes usem você. De jeito

nenhum. É possível dizer “não” de modo firme e claro para alguém e, ao mesmo tempo,

permanecer em um estado de não resistência interior. Ao dizer “não” a uma pessoa ou

situação, você não deve reagir, mas sim agir de acordo com um insight, uma firme convicção

do que é certo ou errado para você naquele momento. Permita que isso seja um “não” sem

reação, um “não” de alta qualidade, um “não” livre de toda a negatividade e, desse modo,

não gere mais sofrimento.

Estou passando por uma situação desagradável no trabalho. Tentei me entregar a ela, mas achei

impossível. Uma grande dose de resistência continua a aparecer.

Se você não consegue se entregar, aja imediatamente. Fale ou faça alguma coisa para

provocar uma mudança na situação, ou se afaste dela. Seja responsável pela sua vida. Não

polua o seu lindo e radiante Ser interior com negatividade. Não transmita infelicidade, nem

deixe que ela crie um lugar dentro de você.

A não-resistência também deve regular nossa conduta externa, como por exemplo uma não-resistência

à violência, ou é algo que só interessa à nossa vida interior?

Você só precisa se preocupar com o aspecto interno. Isso é fundamental. É claro que

ele vai acabar modificando suas atitudes externas, seus relacionamentos, etc.

Seus relacionamentos vão mudar profundamente através da entrega. Se você nunca

consegue aceitar o que é, conseqüentemente não é capaz de aceitar qualquer pessoa do jeito

que ela é. Você está sempre julgando, criticando, rotulando, rejeitando ou tentando mudar

as pessoas. Além disso, se continuar a transformar o Agora em um meio para atingir um

fim no futuro, também vai considerar as pessoas com quem se relaciona como um meio

para atingir um objetivo. O relacionamento, o ser humano, passa a ter uma importância

secundária para você, ou mesmo nenhuma importância. O que vale é o que você consegue

extrair do relacionamento: um ganho material, uma sensação de poder, um prazer físico, ou

alguma forma de gratificação do ego. 

Deixe-me ilustrar como a entrega pode agir nos relacionamentos. Quando se envolver

em uma discussão ou um conflito com um sócio ou um amigo, observe como você se

coloca na defensiva quando a sua própria posição é atacada, sinta a potência da sua própria

agressão ao atacar a posição da outra pessoa. Observe o apego aos seus pontos de vista e

opiniões. Sinta a energia mental e emocional por trás da sua necessidade de ter razão e de

mostrar à outra pessoa que ela está errada. Essa é a energia da mente. Você a torna

consciente ao reconhecê-la, ao senti-la o mais completamente possível. De repente, no

meio de uma discussão, você descobre que pode fazer uma escolha e resolve abdicar da sua

própria reação, só para ver o que acontece. Você se entrega. Não quero dizer abrir mão da

sua reação verbalmente dizendo “está bem, você tem razão”, com um ar no rosto que diz

“estou acima de toda essa inconsciência infantil”. Isso é apenas deslocar a resistência para

um outro nível, com a mente ainda no comando, considerando-se superior. Estou falando

de abandonar todo o campo de energia mental e emocional que estava disputando o poder

dentro de você.

O ego é esperto, portanto, você tem de estar alerta, presente e ser 100 por cento

honesto consigo mesmo para verificar se abandonou realmente sua identificação com uma

posição mental e se libertou, assim, da sua mente. Se você se sentir leve, livre e

profundamente em paz, é sinal de que você se entregou completamente. Observe então o

que acontece à posição mental da outra pessoa, já que você não mais a energiza ao oferecer

resistência. Quando abrimos mão da identificação com as nossas posições mentais, começa

a verdadeira comunicação.

E quanto à não-resistência diante da violência?

Não-resistência não significa necessariamente não fazer nada. Significa que qualquer

“fazer” se toma não-reação. Lembre-se da profunda sabedoria implícita na prática das artes

marciais orientais: não ofereça resistência à força opositora. Submeta-se para superá-la.

Tendo estabelecido isso, “não fazer nada” quando estamos em um estado de intensa

presença é um poderoso transformador e curador de situações e de pessoas. No taoísmo,

existe a expressão wu wei, que é comumente traduzida por “atividade sem ação” ou “sentarse silenciosamente sem fazer nada”. Na antiga China, isso era considerado como uma das

mais elevadas conquistas ou virtudes. É radicalmente diferente da inatividade, no estado

comum da consciência, ou melhor, da inconsciência, que tem raízes no medo, na indolência

ou na indecisão. O verdadeiro “fazer nada” implica uma não-resistência interior e um

intenso estado de alerta.

Por outro lado, caso haja necessidade de ação, você não vai mais reagir a partir da sua

mente condicionada, mas vai responder a uma situação com a sua presença consciente.

Nesse estado, a mente é livre de conceitos, incluindo o conceito da não-violência. Então,

quem pode prever o que você vai fazer?

O ego acredita que a nossa força reside em nossa resistência, quando, na verdade, a

resistência nos separa do Ser, o único lugar de força verdadeira. A resistência é a fraqueza e

o medo disfarçados de força. O que o ego vê como fraqueza é o Ser em sua pureza,

inocência e poder. O que ele vê como força é fraqueza. Assim, o ego existe num modo

contínuo de resistência e desempenha papéis falsos para encobrir a “fraqueza”, que, na

verdade, é o nosso poder.

Até que haja a entrega, a representação inconsciente de determinados papéis se

constitui em grande parte da interação humana. Na entrega, não mais precisamos das

defesas do ego e das falsas máscaras. Passamos a ser muito simples, muito reais. “Isso é

perigoso”, diz o ego. “Você vai se machucar. Vai ficar vulnerável”. O ego não sabe, é claro,

que somente quando deixamos de resistir, quando nos tornamos vulneráveis, é que

podemos descobrir a nossa verdadeira e fundamental invulnerabilidade.