Lições sagradas do passado
Lições sagradas do passado |
A oração talvez seja uma das experiências humanas mais antigas e |
misteriosas. É também uma das mais pessoais. Mesmo antes que a palavra |
oração surgisse nas práticas espirituais, os registros mais antigos das |
tradições cristã e gnóstica usavam palavras como comunhão para descrever |
a nossa capacidade de falar com forças invisíveis do universo. A oração é |
exclusiva de cada pessoa que a vivencia. Alguns estimam que haja tantas |
formas de oração quantas são as pessoas que rezam! |
Atualmente, estudiosos da oração identificaram quatro categorias gerais que, |
segundo eles, abrangem todas as diferentes formas de oração. Sem seguir |
uma ordem determinada, são elas: (1) oração coloquial ou informal; (2) |
oração petitória ou rogatória; (3) oração ritualística; (4) oração meditativa. |
[7] Os pesquisadores nos sugerem usar uma dessas quatro formas para rezar |
— ou uma combinação delas. |
Por melhores que sejam essas descrições e por mais eficaz que seja cada uma |
dessas orações, sempre existiu outro modo de orar não incluído nessa lista. |
A quinta modalidade de oração, a “forma perdida”, é uma oração baseada |
unicamente no sentimento. Em vez da sensação de impotência que muitas |
vezes nos leva a pedir ajuda a um poder superior, a oração baseada no |
sentimento reconhece a capacidade que temos de nos comunicar com a força |
inteligente em que 95 por cento das pessoas acreditam e de participar do |
resultado. |
Sem palavras, sem mãos postas numa determinada posição, sem nenhuma |
expressão física exterior, essa forma de oração simplesmente nos convida a |
sentir a sensação clara e poderosa de já termos a nossa prece atendida. Por |
meio dessa “linguagem” intangível, participamos da cura do nosso corpo, da |
abundância que se derrama sobre os nossos amigos e familiares e da paz |
entre as nações. |
Às vezes vemos referências a esse modo de orar, talvez sem ter consciência |
do que elas representam. No sudoeste americano, por exemplo, foram |
erigidas no deserto antigas estruturas que seus construtores consideravam |
“capelas”: lugares sagrados onde a sabedoria podia ser transmitida e orações |
oferecidas. Essas construções de pedra perfeitamente circulares, algumas |
hoje soterradas, eram conhecidas como kivas. Esboços, gravuras e pinturas |
nas paredes de algumas delas fornecem pistas de como a forma perdida de |
oração era usada nas tradições nativas. |
No interior de kivas restauradas na região de Four-Corners, há |
remanescentes do revestimento de barro que cobria essas estruturas no |
passado remoto. Superficialmente esboçadas no estuque de terra, podemos |
ainda ver imagens diluídas de nuvens de chuva e raios sobre abundantes |
campos de milho. Em outros lugares, as paredes revelam traçados que |
sugerem a vida selvagem representada pelo alce e pelo cervo, abundantes |
nos vales. Desse modo, os artistas antigos registraram o segredo da forma |
perdida de oração. |
Nos lugares onde as orações eram oferecidas, os que rezavam cercavam-se |
de imagens das coisas que escolhiam para sua vida! De maneira semelhante |
às cenas de milagres e de ressurreição que vemos numa igreja ou templo |
hoje, as imagens inspiravam os que rezavam com o sentimento de que suas |
orações haviam sido atendidas. Para eles, a oração era uma experiência do |
corpo todo, envolvendo todos os sentidos. |
Rezar a “chuva” |
Qualquer dúvida que eu poderia ter a respeito da eficácia desse princípio |
desapareceu num belo dia, no início dos anos 1990. Durante um período de |
seca extrema nos altos desertos do norte do Novo México, meu amigo David |
(nome fictício) me convidou para ir até um antigo círculo de pedras para |
“rezar a chuva”. Nós nos encontramos no local combinado, e daí em diante |
eu o segui numa longa caminhada matinal através de um vale com mais de |
100.000 acres de arbustos de sálvia. Depois de algumas horas, chegamos a |
um local que David conhecia muito bem e onde já estivera muitas vezes. Era |
um círculo formado de pedras dispostas em geometrias perfeitas de linhas e |
setas, exatamente como as mãos do seu construtor as haviam colocado num |
passado distante. |
“Que lugar é este?”, perguntei. |
“Este é o motivo por que viemos”, disse David sorrindo. “Este círculo de |
pedras é uma roda de cura que está aqui desde tempos imemoriais.” E |
continuou, “A roda em si não tem poder. Ela serve como ponto de |
concentração para quem faz a oração. Pense nela como um mapa rodoviário |
— um mapa entre os seres humanos e as forças deste mundo”. Antecipando |
as minhas próximas perguntas, David descreveu como aprendera a |
linguagem desse mapa desde a infância. “Hoje”, disse, “percorrerei um |
antigo caminho que leva a outros mundos. A partir desses mundos realizarei |
o que viemos fazer aqui. Hoje, rezamos a chuva”. |
Eu não estava preparado para o que vi em seguida. Observei atentamente |
David tirar os sapatos e pôr delicadamente os pés descalços no círculo, |
reverenciando as quatro direções e todos os seus ancestrais. Lentamente, |
juntou as mãos diante do rosto em posição de oração, fechou os olhos e |
permaneceu imóvel. Indiferente ao calor do sol a pino do deserto, aos poucos |
a sua respiração foi ficando lenta e tornou-se quase imperceptível. Depois |
de alguns minutos, ele respirou profundamente, abriu os olhos, olhou para |
mim e disse, “Vamos embora. A nossa tarefa aqui está terminada”. |
Esperando ver alguma dança ou pelo menos algum canto, fiquei surpreso |
com a rapidez com que a oração começara e terminara. “Já?”, perguntei. |
“Pensei que você fosse rezar pedindo chuva!” |
A resposta de David à minha pergunta é a chave que ajudou muitas pessoas |
a compreender esse tipo de oração. Sentando-se para calçar os sapatos, |
David olhou para cima e sorriu. “Não”, respondeu. “Eu disse que iria rezar |
a chuva. Se eu rezasse pedindo chuva, nada aconteceria.” Mais tarde naquele |
dia, David explicou o que queria dizer com essas palavras. |
Ele começou descrevendo como os anciãos da sua aldeia lhe ensinaram os |
segredos da oração quando ele ainda era muito jovem. A chave, disse, é que, |
quando pedimos que alguma coisa aconteça, damos poder ao que não temos. |
Orações para curar fortalecem a doença. Orações para chover intensificam a |
seca. “Continuar a pedir por essas coisas apenas dá mais poder àquilo que |
gostaríamos de mudar”, afirmou. |
Penso seguidamente nas palavras de David e no que poderiam significar em |
nossa vida hoje. Se rezamos pela paz no mundo, por exemplo, ao mesmo |
tempo em que sentimos verdadeiro ódio dos responsáveis pelas guerras, ou |
mesmo da própria guerra, podemos inadvertidamente estar fomentando as |
próprias condições que levam ao oposto da paz! Com metade das nações do |
mundo hoje envolvidas em conflitos armados, pergunto-me que papel |
milhões de orações bem intencionadas pela paz a cada dia podem estar |
desempenhando e como uma pequena mudança de perspectiva poderia |
mudar esse papel. |
Olhando para David, perguntei, “Se você não rezou pedindo chuva, o que |
então você fez?” |
“É simples”, ele replicou. “Comecei a sentir como é a chuva. Senti a |
sensação da chuva sobre o meu corpo e a sensação de ficar com os pés |
descalços na lama da nossa aldeia depois de muita chuva. Senti o cheiro da |
chuva nas paredes de barro das nossas casas e senti como é caminhar nos |
campos de milho crescido por causa das chuvas abundantes”. |
A explicação de David era perfeita. Ele envolvia todos os seus sentidos — |
os poderes ocultos do pensamento, do sentimento e da emoção que nos |
diferenciam de todas as outras formas de vida — além dos sentidos do olfato, |
da visão, do paladar e do tato que nos comunicam com o mundo. Ao fazer |
isso, ele usava a linguagem poderosa e antiga que “fala” com a natureza. Foi |
a continuação da sua explicação que impressionou a minha mente científica, |
assim como meu coração, e ressoou verdadeiramente em mim. |
Ele descreveu como sentimentos de gratidão e reconhecimento foram o |
complemento das orações, como o “amém” dos cristãos. Em vez de |
agradecer pelo que havia criado, porém, David disse que se sentia |
agradecido pela oportunidade de participar da criação. “Com os nossos |
agradecimentos, nós respeitamos todas as possibilidades, ao mesmo tempo |
em que trazemos para este mundo as que escolhemos.” |
As pesquisas mostram que é exatamente essa qualidade de gratidão e |
reconhecimento que libera a química vivificante de hormônios poderosos |
em nosso corpo e fortalece o nosso sistema imunológico. São essas |
mudanças químicas dentro de nós que os efeitos quânticos levam para além |
do nosso corpo através do conduto da substância misteriosa que parece unir |
toda a criação. Na simplicidade de um conhecimento desenvolvido num |
passado distante, David acabara de transmitir essa sofisticada tecnologia |
interior como a sabedoria da nossa forma perdida de oração. |
Caso você ainda não tenha tentado, eu o convido a praticar neste momento |
essa forma de oração. Pense em alguma coisa que você gostaria de ter em |
sua vida — qualquer coisa. Pode ser a cura de uma doença física para você |
ou para outra pessoa, abundância para a sua família ou encontrar a pessoa |
perfeita para uma vida em comum. Seja o que for que você queira, em vez |
de pedir que o objeto da sua necessidade se realize, sinta como se ele já |
tivesse se realizado. Respire profundamente e sinta a plenitude da sua oração |
realizada em cada detalhe, de todos os modos. |
Em seguida, agradeça o fato de sua vida ser como é com essa oração já |
atendida. Observe a sensação de bem-estar e libertação que advém do |
agradecimento, em vez da preocupação e ansiedade associadas ao pedido de |
ajuda! A diferença sutil entre bem-estar e ansiedade é o poder que separa o |
pedir do receber. |
Sonhando na mente de Deus |
Um número crescente de descobertas confirma hoje uma forma de energia |
até agora não reconhecida e que pode explicar por que orações como a de |
David são eficazes. Esse campo de energia sutil não funciona do mesmo |
modo que as variedades de energia que estamos acostumados a medir. |
Embora não sejam totalmente elétricas ou magnéticas, essas forças |
conhecidas fazem parte de um campo unificado que parece abranger toda a |
criação. Como a consciência desse campo é muito nova, os cientistas ainda |
não chegaram a um consenso sobre seu nome. Ela é identificada em |
trabalhos científicos e em livros como Holograma Quântico, Mente da |
Natureza, Mente de Deus e, com muita frequência, simplesmente “Campo”. |
Seja qual for o nome que lhe demos, essa energia parece ser a tela viva sobre |
a qual se inscrevem os acontecimentos da nossa vida! |
Para ajudar a visualizar esse campo, ou o que ele pode parecer, os cientistas |
às vezes o descrevem como uma teia tecida espessamente que constitui a |
textura subjacente da criação — literalmente, a manta da Mente de Deus. |
Dentre as muitas maneiras como pode ser definido, eu penso que é mais útil |
imaginar o Campo como a “substância” que vive no nada. Sempre que |
olhamos para o espaço que existe entre nós e outra pessoa — ou qualquer |
outra coisa, nesse aspecto — e acreditamos que esse espaço é vazio, o |
Campo está ali. Quer pensemos sobre o espaço entre o núcleo e a primeira |
órbita de um elétron nos antigos modelos de um átomo, ou sobre as imensas |
distâncias entre estrelas e galáxias que nos parecem vazios, as dimensões do |
espaço não fazem diferença. No nada, o Campo está lá. |
O reconhecimento moderno da existência do Campo nos oferece uma |
linguagem, e um contexto, para dar sentido à sabedoria espiritual em |
conversas científicas. Por exemplo, acredita-se que o Campo é o lugar a que |
os antigos se referiam como “céu”. É o lugar para onde a alma vai quando |
morremos, com o qual sonhamos quando dormimos, e a morada da |
consciência. |
A existência de um campo de energia que une toda a criação altera o modo |
como a ciência vem pensando sobre o nosso mundo há mais de 100 anos. |
Pelos resultados do famoso experimento de Michelson e Morley [8] realizado |
em 1887, os cientistas concluíram que as coisas que acontecem no nosso |
mundo não estão relacionadas — o que alguém faz numa parte do mundo |
não afeta outra pessoa em outra parte do planeta. Agora sabemos que isso |
simplesmente não é verdade! Graças à manta de energia que banha o nosso |
mundo, estamos todos ligados de modos que mal começamos a |
compreender. |
O espelho que não mente |
Além de interligar todas as coisas, as antigas tradições sugerem que o Campo |
nos dá um reflexo, um espelho externo das nossas experiências internas. |
Como uma substância viva, pulsante, bruxuleante, o Campo atua como uma |
espécie de mecanismo de feedback. Por meio dele, a criação reflete nossos |
sentimentos e pensamentos mais íntimos na forma de relacionamentos, |
profissões e saúde. No espelho podemos ver as nossas crenças verdadeiras |
— não apenas o que gostamos de pensar que acreditamos! |
Para ajudar a visualizar como esse espelho funciona, às vezes reporto-me à |
água “viva” que aparece no filme de ficção científica O Abismo. Localizada |
nas profundezas escuras e inexploradas do leito do mar, uma forma de vida |
misteriosa aparece à tripulação isolada de um navio de pesquisas |
submarinas. (Serei breve para não estragar a história se você ainda não viu |
o filme.) A energia não física da presença praticamente alienígena precisa |
expressar-se por meio de algo físico, e por isso utiliza o meio mais abundante |
disponível no fundo do oceano: a água. Como um tubo de água do mar |
inteligente e aparentemente interminável, ela entra no navio avariado e |
serpenteia por corredores e portas até encontrar a tripulação escondida num |
dos compartimentos. |
É aqui que entra o espelho. Quando a forma de vida aquosa se ergue do chão |
e uma das extremidades do tubo olha diretamente para o rosto da tripulação |
no nível dos olhos, uma coisa extraordinária começa a acontecer. Cada vez |
que um dos tripulantes dirige o olhar para a extremidade do tubo, este reflete |
o rosto da pessoa exatamente como ela está no momento. Quando o rosto |
humano sorri, o tubo de água sorri. Quando o rosto ri, o riso se reflete na |
água. O tubo não julga o que vê e não tenta melhorá-lo ou modificá-lo de |
maneira nenhuma. Ele apenas reflete para a pessoa que está na sua frente o |
que ela é no momento. |
O Campo da Mente de Deus parece trabalhar exatamente do mesmo modo, |
e isso inclui o reflexo do que somos internamente e também o modo como |
nos apresentamos externamente. |
“O sentimento é a oração” disse o abade tibetano, em sintonia com os |
ensinamentos dos grandes mestres dos nativos norte-americanos e com as |
tradições cristãs e judaicas. Pensei comigo mesmo, Quanta força! Quanta |
beleza! Quanta simplicidade! O sentimento é a linguagem que a Mente de |
Deus reconhece. O sentimento é a linguagem que David usou para convidar |
a chuva para o deserto. Como ele acontece de modo tão direto e literal, é |
fácil ver por que acreditamos até agora que esse princípio seria mais |
complicado do que é realmente. Também é fácil perceber como poderíamos |
tê-lo perdido totalmente. |