Lições sagradas do passado
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Lições sagradas do passado

Lições sagradas do passado

anderson
13 min
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Lições sagradas do passado

A oração talvez seja uma das experiências humanas mais antigas e

misteriosas. É também uma das mais pessoais. Mesmo antes que a palavra

oração surgisse nas práticas espirituais, os registros mais antigos das

tradições cristã e gnóstica usavam palavras como comunhão para descrever

a nossa capacidade de falar com forças invisíveis do universo. A oração é

exclusiva de cada pessoa que a vivencia. Alguns estimam que haja tantas

formas de oração quantas são as pessoas que rezam!

Atualmente, estudiosos da oração identificaram quatro categorias gerais que,

segundo eles, abrangem todas as diferentes formas de oração. Sem seguir

uma ordem determinada, são elas: (1) oração coloquial ou informal; (2)

oração petitória ou rogatória; (3) oração ritualística; (4) oração meditativa.

[7] Os pesquisadores nos sugerem usar uma dessas quatro formas para rezar

— ou uma combinação delas.

Por melhores que sejam essas descrições e por mais eficaz que seja cada uma

dessas orações, sempre existiu outro modo de orar não incluído nessa lista.

A quinta modalidade de oração, a “forma perdida”, é uma oração baseada

unicamente no sentimento. Em vez da sensação de impotência que muitas

vezes nos leva a pedir ajuda a um poder superior, a oração baseada no

sentimento reconhece a capacidade que temos de nos comunicar com a força

inteligente em que 95 por cento das pessoas acreditam e de participar do

resultado.

Sem palavras, sem mãos postas numa determinada posição, sem nenhuma

expressão física exterior, essa forma de oração simplesmente nos convida a

sentir a sensação clara e poderosa de já termos a nossa prece atendida. Por

meio dessa “linguagem” intangível, participamos da cura do nosso corpo, da

abundância que se derrama sobre os nossos amigos e familiares e da paz

entre as nações.

Às vezes vemos referências a esse modo de orar, talvez sem ter consciência

do que elas representam. No sudoeste americano, por exemplo, foram

erigidas no deserto antigas estruturas que seus construtores consideravam

“capelas”: lugares sagrados onde a sabedoria podia ser transmitida e orações

oferecidas. Essas construções de pedra perfeitamente circulares, algumas

hoje soterradas, eram conhecidas como kivas. Esboços, gravuras e pinturas

nas paredes de algumas delas fornecem pistas de como a forma perdida de

oração era usada nas tradições nativas.

No interior de kivas restauradas na região de Four-Corners, há

remanescentes do revestimento de barro que cobria essas estruturas no

passado remoto. Superficialmente esboçadas no estuque de terra, podemos

ainda ver imagens diluídas de nuvens de chuva e raios sobre abundantes

campos de milho. Em outros lugares, as paredes revelam traçados que

sugerem a vida selvagem representada pelo alce e pelo cervo, abundantes

nos vales. Desse modo, os artistas antigos registraram o segredo da forma

perdida de oração.

Nos lugares onde as orações eram oferecidas, os que rezavam cercavam-se

de imagens das coisas que escolhiam para sua vida! De maneira semelhante

às cenas de milagres e de ressurreição que vemos numa igreja ou templo

hoje, as imagens inspiravam os que rezavam com o sentimento de que suas

orações haviam sido atendidas. Para eles, a oração era uma experiência do

corpo todo, envolvendo todos os sentidos.

Rezar a “chuva”

Qualquer dúvida que eu poderia ter a respeito da eficácia desse princípio

desapareceu num belo dia, no início dos anos 1990. Durante um período de

seca extrema nos altos desertos do norte do Novo México, meu amigo David

(nome fictício) me convidou para ir até um antigo círculo de pedras para

“rezar a chuva”. Nós nos encontramos no local combinado, e daí em diante

eu o segui numa longa caminhada matinal através de um vale com mais de

100.000 acres de arbustos de sálvia. Depois de algumas horas, chegamos a

um local que David conhecia muito bem e onde já estivera muitas vezes. Era

um círculo formado de pedras dispostas em geometrias perfeitas de linhas e

setas, exatamente como as mãos do seu construtor as haviam colocado num

passado distante.

“Que lugar é este?”, perguntei.

“Este é o motivo por que viemos”, disse David sorrindo. “Este círculo de

pedras é uma roda de cura que está aqui desde tempos imemoriais.” E

continuou, “A roda em si não tem poder. Ela serve como ponto de

concentração para quem faz a oração. Pense nela como um mapa rodoviário

— um mapa entre os seres humanos e as forças deste mundo”. Antecipando

as minhas próximas perguntas, David descreveu como aprendera a

linguagem desse mapa desde a infância. “Hoje”, disse, “percorrerei um

antigo caminho que leva a outros mundos. A partir desses mundos realizarei

o que viemos fazer aqui. Hoje, rezamos a chuva”.

Eu não estava preparado para o que vi em seguida. Observei atentamente

David tirar os sapatos e pôr delicadamente os pés descalços no círculo,

reverenciando as quatro direções e todos os seus ancestrais. Lentamente,

juntou as mãos diante do rosto em posição de oração, fechou os olhos e

permaneceu imóvel. Indiferente ao calor do sol a pino do deserto, aos poucos

a sua respiração foi ficando lenta e tornou-se quase imperceptível. Depois

de alguns minutos, ele respirou profundamente, abriu os olhos, olhou para

mim e disse, “Vamos embora. A nossa tarefa aqui está terminada”.

Esperando ver alguma dança ou pelo menos algum canto, fiquei surpreso

com a rapidez com que a oração começara e terminara. “Já?”, perguntei.

“Pensei que você fosse rezar pedindo chuva!”

A resposta de David à minha pergunta é a chave que ajudou muitas pessoas

a compreender esse tipo de oração. Sentando-se para calçar os sapatos,

David olhou para cima e sorriu. “Não”, respondeu. “Eu disse que iria rezar

a chuva. Se eu rezasse pedindo chuva, nada aconteceria.” Mais tarde naquele

dia, David explicou o que queria dizer com essas palavras.

Ele começou descrevendo como os anciãos da sua aldeia lhe ensinaram os

segredos da oração quando ele ainda era muito jovem. A chave, disse, é que,

quando pedimos que alguma coisa aconteça, damos poder ao que não temos.

Orações para curar fortalecem a doença. Orações para chover intensificam a

seca. “Continuar a pedir por essas coisas apenas dá mais poder àquilo que

gostaríamos de mudar”, afirmou.

Penso seguidamente nas palavras de David e no que poderiam significar em

nossa vida hoje. Se rezamos pela paz no mundo, por exemplo, ao mesmo

tempo em que sentimos verdadeiro ódio dos responsáveis pelas guerras, ou

mesmo da própria guerra, podemos inadvertidamente estar fomentando as

próprias condições que levam ao oposto da paz! Com metade das nações do

mundo hoje envolvidas em conflitos armados, pergunto-me que papel

milhões de orações bem intencionadas pela paz a cada dia podem estar

desempenhando e como uma pequena mudança de perspectiva poderia

mudar esse papel.

Olhando para David, perguntei, “Se você não rezou pedindo chuva, o que

então você fez?”

“É simples”, ele replicou. “Comecei a sentir como é a chuva. Senti a

sensação da chuva sobre o meu corpo e a sensação de ficar com os pés

descalços na lama da nossa aldeia depois de muita chuva. Senti o cheiro da

chuva nas paredes de barro das nossas casas e senti como é caminhar nos

campos de milho crescido por causa das chuvas abundantes”.

A explicação de David era perfeita. Ele envolvia todos os seus sentidos —

os poderes ocultos do pensamento, do sentimento e da emoção que nos

diferenciam de todas as outras formas de vida — além dos sentidos do olfato,

da visão, do paladar e do tato que nos comunicam com o mundo. Ao fazer

isso, ele usava a linguagem poderosa e antiga que “fala” com a natureza. Foi

a continuação da sua explicação que impressionou a minha mente científica,

assim como meu coração, e ressoou verdadeiramente em mim.

Ele descreveu como sentimentos de gratidão e reconhecimento foram o

complemento das orações, como o “amém” dos cristãos. Em vez de

agradecer pelo que havia criado, porém, David disse que se sentia

agradecido pela oportunidade de participar da criação. “Com os nossos

agradecimentos, nós respeitamos todas as possibilidades, ao mesmo tempo

em que trazemos para este mundo as que escolhemos.”

As pesquisas mostram que é exatamente essa qualidade de gratidão e

reconhecimento que libera a química vivificante de hormônios poderosos

em nosso corpo e fortalece o nosso sistema imunológico. São essas

mudanças químicas dentro de nós que os efeitos quânticos levam para além

do nosso corpo através do conduto da substância misteriosa que parece unir

toda a criação. Na simplicidade de um conhecimento desenvolvido num

passado distante, David acabara de transmitir essa sofisticada tecnologia

interior como a sabedoria da nossa forma perdida de oração.

Caso você ainda não tenha tentado, eu o convido a praticar neste momento

essa forma de oração. Pense em alguma coisa que você gostaria de ter em

sua vida — qualquer coisa. Pode ser a cura de uma doença física para você

ou para outra pessoa, abundância para a sua família ou encontrar a pessoa

perfeita para uma vida em comum. Seja o que for que você queira, em vez

de pedir que o objeto da sua necessidade se realize, sinta como se ele já

tivesse se realizado. Respire profundamente e sinta a plenitude da sua oração

realizada em cada detalhe, de todos os modos.

Em seguida, agradeça o fato de sua vida ser como é com essa oração já

atendida. Observe a sensação de bem-estar e libertação que advém do

agradecimento, em vez da preocupação e ansiedade associadas ao pedido de

ajuda! A diferença sutil entre bem-estar e ansiedade é o poder que separa o

pedir do receber.

Sonhando na mente de Deus

Um número crescente de descobertas confirma hoje uma forma de energia

até agora não reconhecida e que pode explicar por que orações como a de

David são eficazes. Esse campo de energia sutil não funciona do mesmo

modo que as variedades de energia que estamos acostumados a medir.

Embora não sejam totalmente elétricas ou magnéticas, essas forças

conhecidas fazem parte de um campo unificado que parece abranger toda a

criação. Como a consciência desse campo é muito nova, os cientistas ainda

não chegaram a um consenso sobre seu nome. Ela é identificada em

trabalhos científicos e em livros como Holograma Quântico, Mente da

Natureza, Mente de Deus e, com muita frequência, simplesmente “Campo”.

Seja qual for o nome que lhe demos, essa energia parece ser a tela viva sobre

a qual se inscrevem os acontecimentos da nossa vida!

Para ajudar a visualizar esse campo, ou o que ele pode parecer, os cientistas

às vezes o descrevem como uma teia tecida espessamente que constitui a

textura subjacente da criação — literalmente, a manta da Mente de Deus.

Dentre as muitas maneiras como pode ser definido, eu penso que é mais útil

imaginar o Campo como a “substância” que vive no nada. Sempre que

olhamos para o espaço que existe entre nós e outra pessoa — ou qualquer

outra coisa, nesse aspecto — e acreditamos que esse espaço é vazio, o

Campo está ali. Quer pensemos sobre o espaço entre o núcleo e a primeira

órbita de um elétron nos antigos modelos de um átomo, ou sobre as imensas

distâncias entre estrelas e galáxias que nos parecem vazios, as dimensões do

espaço não fazem diferença. No nada, o Campo está lá.

O reconhecimento moderno da existência do Campo nos oferece uma

linguagem, e um contexto, para dar sentido à sabedoria espiritual em

conversas científicas. Por exemplo, acredita-se que o Campo é o lugar a que

os antigos se referiam como “céu”. É o lugar para onde a alma vai quando

morremos, com o qual sonhamos quando dormimos, e a morada da

consciência.

A existência de um campo de energia que une toda a criação altera o modo

como a ciência vem pensando sobre o nosso mundo há mais de 100 anos.

Pelos resultados do famoso experimento de Michelson e Morley [8] realizado

em 1887, os cientistas concluíram que as coisas que acontecem no nosso

mundo não estão relacionadas — o que alguém faz numa parte do mundo

não afeta outra pessoa em outra parte do planeta. Agora sabemos que isso

simplesmente não é verdade! Graças à manta de energia que banha o nosso

mundo, estamos todos ligados de modos que mal começamos a

compreender.

O espelho que não mente

Além de interligar todas as coisas, as antigas tradições sugerem que o Campo

nos dá um reflexo, um espelho externo das nossas experiências internas.

Como uma substância viva, pulsante, bruxuleante, o Campo atua como uma

espécie de mecanismo de feedback. Por meio dele, a criação reflete nossos

sentimentos e pensamentos mais íntimos na forma de relacionamentos,

profissões e saúde. No espelho podemos ver as nossas crenças verdadeiras

— não apenas o que gostamos de pensar que acreditamos!

Para ajudar a visualizar como esse espelho funciona, às vezes reporto-me à

água “viva” que aparece no filme de ficção científica O Abismo. Localizada

nas profundezas escuras e inexploradas do leito do mar, uma forma de vida

misteriosa aparece à tripulação isolada de um navio de pesquisas

submarinas. (Serei breve para não estragar a história se você ainda não viu

o filme.) A energia não física da presença praticamente alienígena precisa

expressar-se por meio de algo físico, e por isso utiliza o meio mais abundante

disponível no fundo do oceano: a água. Como um tubo de água do mar

inteligente e aparentemente interminável, ela entra no navio avariado e

serpenteia por corredores e portas até encontrar a tripulação escondida num

dos compartimentos.

É aqui que entra o espelho. Quando a forma de vida aquosa se ergue do chão

e uma das extremidades do tubo olha diretamente para o rosto da tripulação

no nível dos olhos, uma coisa extraordinária começa a acontecer. Cada vez

que um dos tripulantes dirige o olhar para a extremidade do tubo, este reflete

o rosto da pessoa exatamente como ela está no momento. Quando o rosto

humano sorri, o tubo de água sorri. Quando o rosto ri, o riso se reflete na

água. O tubo não julga o que vê e não tenta melhorá-lo ou modificá-lo de

maneira nenhuma. Ele apenas reflete para a pessoa que está na sua frente o

que ela é no momento.

O Campo da Mente de Deus parece trabalhar exatamente do mesmo modo,

e isso inclui o reflexo do que somos internamente e também o modo como

nos apresentamos externamente.

“O sentimento é a oração” disse o abade tibetano, em sintonia com os

ensinamentos dos grandes mestres dos nativos norte-americanos e com as

tradições cristãs e judaicas. Pensei comigo mesmo, Quanta força! Quanta

beleza! Quanta simplicidade! O sentimento é a linguagem que a Mente de

Deus reconhece. O sentimento é a linguagem que David usou para convidar

a chuva para o deserto. Como ele acontece de modo tão direto e literal, é

fácil ver por que acreditamos até agora que esse princípio seria mais

complicado do que é realmente. Também é fácil perceber como poderíamos

tê-lo perdido totalmente.