SEGREDOS de um MODO ANTIGO de REZAR
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SEGREDOS de um MODO ANTIGO de REZAR

SEGREDOS

anderson
16 min
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SEGREDOS

de um

MODO ANTIGO

de

REZAR

Este livro é para aqueles que buscam alívio para o medo e para as

incertezas do nosso mundo. Nos momentos em que as angústias

da vida invadem os espaços ocultos da sua alma, eu o convido a

refugiar-se na beleza, na bênção, na nossa forma perdida de

oração e na sabedoria profunda sobre a qual cada uma delas se

apoia. É nesse refúgio que você pode encontrar sentido para o que

parece incompreensível e a força que o orienta para o término de

mais um dia

Introdução

“EXISTEM BELAS E IMPETUOSAS

FORÇAS DENTRO DE NÓS.”

Com essas palavras, São Francisco de Assis descreveu o mistério e o poder

que habitam o interior de cada homem, mulher e criança que nasce neste

mondo. O poeta sufi Rumi foi além, e descreveu a magnitude desse poder

comparando-o a um grande remo que nos impulsiona através da vida. Ele

diz: “Se puseres a tua alma junto a esse remo comigo, o poder que formou o

universo entrará no teu tendão desde uma fonte que não está fora dos teus

membros, mas desde um reino sagrado que está dentro de nós”.[1]

Com essa linguagem poética, Rumi e São Francisco expressam algo que está

além da experiência manifesta do nosso mundo de cada dia. Com palavras

do seu tempo, eles nos lembram daquilo que para os antigos era a maior

força do universo — o poder que nos une ao cosmos. Hoje conhecemos esse

poder como “oração”. Refletindo sobre a oração, São Francisco dizia

simplesmente, “O resultado da oração é vida”. A oração nos dá vida, diz ele,

porque “irriga a terra e o coração”.

A ponte para o nosso passado

O conhecimento é a ponte que nos liga com todos os que nos precederam.

De civilização em civilização e de existência em existência, contribuímos

com as histórias individuais que se tornam a nossa história coletiva. Por

melhor que preservemos as informações do passado, porém, as palavras

dessas histórias são pouco mais que “dados” até que lhes demos sentido. É

o modo como aplicamos o que sabemos do nosso passado que se torna a

sabedoria do presente.

Durante milhares de anos, por exemplo, os que nos antecederam

preservaram o conhecimento da oração, da razão por que ela é eficaz e de

como podemos usá-la em nossa vida. Em templos majestosos e em

sepulturas modestas, por meio da linguagem e dos costumes que mudaram

muito pouco pelo menos durante 5.000 anos, os nossos ancestrais

preservaram o conhecimento poderoso da oração. O segredo, contudo, não

se encontra nas palavras das orações em si. Assim como o poder de um

programa de computador é mais do que a linguagem em que ele está escrito,

precisamos pesquisar mais profundamente para conhecer o verdadeiro poder

que nos espera quando rezamos.

Pode ser exatamente esse poder que o místico George Gurdjieff descobriu

como resultado da sua busca da verdade, uma busca a que dedicou toda a

sua vida. Depois de anos seguindo antigas pistas que o levavam de templos

a aldeias e de um mestre a outro, ele chegou num mosteiro secreto escondido

nas montanhas do Oriente Médio. Ali, um mestre extraordinário proferiu as

palavras de estímulo que tornaram sua busca valiosa: “Encontraste agora as

condições em que o desejo do teu coração pode se tornar a realidade do teu

ser”. Não posso fazer mais nada senão acreditar que a oração faz parte das

condições descobertas por Gurdjieff.

Para liberar o que São Francisco chamou de “forças belas e impetuosas”

dentro de nós e descobrir as condições em que o desejo do nosso coração se

torna realidade, precisamos compreender a nossa relação com nós mesmos,

com o nosso mundo e com Deus. Por meio de palavras do passado, ficamos

sabendo como fazer isso. Em seu livro O Profeta, Khalil Gibran nos lembra

de que não podemos aprender coisas que já sabemos. Ele diz: “Nenhum

homem pode revelar-vos o que já está meio adormecido na aurora do vosso

conhecimento”. Faz enorme sentido já termos oculto dentro de nós o poder

de nos comunicar com a força responsável por nossa existência! Para isso,

porém, precisamos descobrir quem realmente somos.

Duas perguntas universais

Perguntaram certa vez ao antropólogo pioneiro Louis Leakey por que eram

tão importantes para ele as suas pesquisas para descobrir as provas mais

antigas da existência humana. Ele respondeu: “Sem uma compreensão de

quem somos e de onde viemos, creio que não podemos progredir

verdadeiramente”. As palavras de Leakey contêm muita verdade — tanto

que a maior parte da minha vida adulta vem girando em torno da minha

busca para saber quem somos e como o conhecimento do nosso passado

pode nos ajudar a ser pessoas melhores e a criar um mundo melhor.

Com exceção da Antártica, a minha busca do mistério do nosso passado

levou-me a todos os continentes do planeta. De grandes cidades como Cairo

e Bangkok a aldeias remotas no Peru e na Bolívia, de antigos mosteiros no

Himalaia do Tibete a templos hindus no Nepal, durante o tempo em que

vivenciei essas culturas, um único tema se destacou. As pessoas deste mundo

estão preparadas para algo mais do que o sofrimento e a incerteza que

definiram suas vidas na maior parte do século XX. Elas estão preparadas

para a paz e para a promessa de um amanhã melhor.

Embora nossas culturas e modos de vida pareçam diferentes externamente,

sob a superfície estamos todos em busca da mesma coisa — uma terra que

possamos chamar de lar, uma maneira de sustentar nossas famílias e um

futuro melhor para nós mesmos e para os nossos filhos. Ao mesmo tempo,

há duas perguntas que as pessoas de todas as culturas me fazem seguidas

vezes, seja diretamente seja com a ajuda de tradutores. A primeira é

simplesmente: “O que está acontecendo com o nosso mundo?” A segunda é:

“O que podemos fazer para melhorar as coisas?” As respostas para as duas

parecem estar entremeadas num entendimento único que liga as tradições de

oração atuais com as mais antigas e respeitadas tradições espirituais do nosso

passado.

Quatrocentos anos atrás, nos altos desertos do sudoeste americano, os

grandes guardiões de sabedoria das famílias navajo foram testados pela terra,

pela natureza e pelas tribos vizinhas. Os extremos de aridez, de calor intenso

e da falta de alimento vividos por suas sociedades levaram os navajos a

compreender que deviam utilizar o poder do seu sofrimento interior para

suportar as condições severas do seu mundo exterior. A sua própria

sobrevivência dependia do aprendizado dessa lição.

Reconhecendo que as provações da vida os empurravam para as profundezas

de seu maior sofrimento, eles também descobriram que as mesmas

provações revelavam sua maior força. A chave para sua sobrevivência

consistia em encarar os desafios da vida sem se perder na experiência. Eles

precisavam encontrar uma “âncora” dentro de si mesmos — uma crença que

lhes desse força interior para suportar as adversidades — e a esperança de

que dias melhores sobreviriam. A partir desse lugar de poder eles adquiriram

confiança para assumir riscos, mudar suas vidas e compreender o seu

mundo.

Atualmente, a nossa vida parece não ser muito diferente daquela desses

indivíduos corajosos que vagavam pelos altos desertos do sudoeste

americano séculos antes da constituição desse país. Embora o cenário seja

outro e as circunstâncias tenham mudado, ainda vivemos situações que

abalam os alicerces das nossas crenças, põem à prova os limites da nossa

sensibilidade e nos desafiam a superar os obstáculos que nos restringem.

Num mundo que muitos descrevem como “despedaçado”, pontilhado por

atos insensatos de ódio, números recordes de relacionamentos fracassados,

lares desfeitos e condições que ameaçam a sobrevivência de sociedades

inteiras, somos desafiados a encontrar um modo de viver diariamente em

paz, com alegria e um sentido de ordem.

Com uma eloquência típica dessa sabedoria antiga, a tradição navajo

descreve um modo de ver a vida que põe a responsabilidade pela nossa

felicidade ou sofrimento diretamente sobre os nossos ombros. Preservada

como a Oração da Beleza, as palavras exatas variam de registro a registro e

de recitação a recitação, embora a essência da oração possa ser dividida em

três frases curtas. Por meio de 20 palavras apenas, os anciãos navajos

transmitem uma sabedoria sofisticada, lembrando-nos da ligação que existe

entre o nosso mundo interior e o mundo exterior, só recentemente

reconhecida pela ciência atual.

Cada frase da oração, formada de três partes, oferece um vislumbre do poder

de mudar a química do nosso corpo e de influenciar as possibilidades

quânticas do nosso mundo. Em sua forma mais simples, as palavras da

oração falam por si mesmas. Os navajos dizem: “Nizhonigoo bil iina”,

palavras que se traduzem aproximadamente como:

A beleza com que tu vives,

A beleza pela qual tu vives,

A beleza sobre a qual constróis tua vida. [2]

Por meio das palavras de um autor há muito esquecido, a simplicidade dessa

oração Por meio das palavras de um autor há muito esquecido, a

simplicidade dessa oração oferece esperança renovada quando tudo o mais

parece ter falhado. Mas a Oração da Beleza é mais do que apenas palavras.

Embutida em sua simplicidade está a chave para solucionar um dos maiores

mistérios da humanidade: como sobrevivemos aos sofrimentos da vida? Em

vez de nos prevenir e de evitar as situações mesmas que dão sentido a cada

dia, o poder da beleza e da oração nos possibilita saltar diretamente para as

nossas experiências, sabendo que qualquer dano que possamos sofrer é

temporário. Graças à Oração da Beleza, o povo navajo há muito tem

encontrado força, consolo e uma maneira de lidar com o sofrimento do nosso

mundo.

Que segredos foram preservados por tradições como a dos navajos do

sudoeste americano, dos monges e monjas do Tibete, e de outras culturas,

enquanto muitos de nós rompemos a nossa relação com a terra, uns com os

outros e com um poder maior? Que sabedoria possuíam no tempo deles que

pode nos ajudar a ser pessoas melhores e a criar um mundo melhor no nosso

tempo?

Sofrimento, bênção, beleza e oração

Oculta no conhecimento daqueles que nos antecederam, encontramos a

sabedoria que vivifica as nossas orações de cura e paz. Dos antigos escritos

dos gnósticos e dos essênios às tradições nativas das Américas, o sofrimento,

a bênção e a beleza são vistos como as chaves para sobreviver às nossas

maiores provações. A oração é a linguagem que nos possibilita aplicar as

lições das nossas experiências às situações da nossa vida.

Dessa perspectiva, “sabedoria” e “sofrimento” são dois extremos da mesma

experiência. São o início e o término do mesmo ciclo. O sofrimento é o nosso

sentimento inicial, a nossa resposta visceral à perda, à decepção ou à notícia

de algo que agride as nossas emoções. A sabedoria é a expressão curada do

nosso sofrimento. Transmutamos o sofrimento em sabedoria encontrando

um novo significado nas experiências dolorosas. Bênção, beleza e oração

são os instrumentos para a nossa mudança.

O visionário cristão do século XX, o reverendo Samuel Shoemaker,

descreveu o poder da oração para produzir a mudança numa sentença única,

poética e talvez enganosamente simples: “Pode ser que a oração não mude

as coisas para você, mas com certeza muda você para as coisas”. Embora

não possamos retroceder no tempo para reverter a razão por que sofremos,

temos o poder de transformar aquilo que a perda de pessoas queridas, o

choque de promessas não cumpridas e as decepções da vida significam para

nós. Ao fazer isso, abrimos a porta que nos leva a uma solução curativa até

mesmo das nossas lembranças mais dolorosas.

Sem compreender a relação entre sabedoria e sofrimento, a nossa tolerância

à dor Sem compreender a relação entre sabedoria e sofrimento, a nossa

tolerância à dor pode parecer sem sentido — cruel até — e contínua, pois o

ciclo de sofrimento permanece aberto. Mas como podemos nos distanciar do

sofrimento da vida por tempo suficiente para descobrir a sabedoria em

nossas experiências? Quando somos sacudidos por uma perda, por uma

confiança quebrada ou por uma traição impensável horas ou momentos

antes, como nos afastar das nossas emoções por tempo suficiente para sentir

alguma outra coisa? É aqui que entra em cena o poder da bênção.

Bênção é libertação

“Bênção” é o antigo segredo que nos liberta do sofrimento da vida por tempo

suficiente para substituí-lo por outro sentimento. Quando abençoamos as

pessoas ou as coisas que nos fizeram sofrer, suspendemos temporariamente

o ciclo de sofrimento. É irrelevante se essa suspensão dura um nanossegundo

ou um dia inteiro. Qualquer que seja o período de tempo, durante a bênção

abre-se para nós uma passagem por onde começamos a nossa cura e

prosseguimos com a vida. A chave é que por um determinado período

ficamos livres do sofrimento o bastante para que algo diferente entre no

nosso coração e na nossa mente. Esse algo é o poder da “beleza”.

A beleza transforma

As tradições mais antigas e sagradas nos lembram de que a beleza está em

todas as coisas, independentemente de como as interpretamos na nossa vida

diária. A beleza já está criada e está sempre presente. Embora possamos

modificar o ambiente que nos envolve, criar novos relacionamentos e

mudar-nos para novos lugares para satisfazer as nossas ideias sempre

instáveis de equilíbrio e harmonia, os fundamentos que sustentam essa

beleza já estão presentes.

Além da fruição das coisas que simplesmente agradam os nossos olhos, as

tradições de sabedoria descrevem a beleza como uma experiência que toca

também o nosso coração, a nossa mente e a nossa alma. Com a nossa

capacidade de perceber a beleza mesmo nos momentos “mais feios” da vida,

podemos elevar-nos o suficiente para dar novo significado ao nosso

sofrimento. Assim, a beleza é um mecanismo disparador que nos lança a

uma nova perspectiva. A chave, porém, é que ela parece adormecida até o

momento em que lhe dedicamos atenção. A beleza só desperta quando a

convidamos a entrar na nossa vida.

Nossa forma perdida de oração

Encontramo-nos num mundo de experiências que desafiam a nossa

sensibilidade e Encontramo-nos num mundo de experiências que desafiam

a nossa sensibilidade e nos impelem para os limites do que podemos aceitar

como pessoas racionais, amorosas. Diante da guerra e do genocídio além das

nossas fronteiras, e do ódio baseado em nossas diferenças no seio das nossas

próprias comunidades, como podemos sentir emoções como a paz e a cura?

Obviamente, precisamos encontrar um meio de romper o ciclo de dorsofrimento-raiva-ódio se queremos transcender as condições em que nos

encontramos.

Nas formas de expressão do seu tempo, as antigas tradições nos legaram

instruções precisas de como fazer justamente isso! Suas palavras nos

lembram de que a “vida” não é nada a não ser um espelho do que nos

tornamos dentro de nós. A chave para viver a nossa vida como beleza, ou

como sofrimento, está unicamente na nossa capacidade de nos tornarmos

essas qualidades em cada momento de cada dia. Um conjunto cada vez maior

de evidências científicas oferece credibilidade renovada a essa sabedoria e

ao papel poderoso que cada um de nós desempenha contribuindo para a cura,

ou para o sofrimento, no nosso mundo.

Nos finais do século XX, experimentos confirmaram que estamos imersos

num campo de energia que conecta todos nós com os acontecimentos do

nosso mundo. Com nomes que variam desde Holograma Quântico até Mente

de Deus, as pesquisas mostram que, por meio dessa energia, as crenças e

orações dentro de nós são levadas para o mundo ao redor de nós. Tanto a

ciência quanto a tradição antiga sugerem a mesma coisa: precisamos integrar

na nossa vida as condições que queremos vivenciar no nosso mundo.

Encontramos as instruções para uma forma perdida de oração que nos ajuda

a fazer isso escondidas em alguns dos locais mais remotos e isolados ainda

existentes na Terra.

Na primavera de 1998, tive a honra de conduzir uma peregrinação de 22 dias

aos mosteiros do Tibete central, em busca de evidências de uma forma antiga

e esquecida de oração — a linguagem que fala ao campo que une todas as

coisas. Os monges e monjas que lá vivem transmitiram as instruções sobre

um modo de rezar que o Ocidente em grande parte perdeu nas edições

bíblicas do século IV da Igreja Cristã primitiva. [3] Preservada durante

séculos nos textos e tradições dos que vivem no teto do mundo, essa forma

“perdida” de oração não tem palavras ou expressões externas. Ela se baseia

unicamente no sentimento.

Especificamente, ela nos convida a sentir como se a nossa oração já tivesse

sido atendida, em vez de nos sentirmos impotentes e de precisar pedir ajuda

a uma fonte superior. Recentemente, estudos mostraram que é exatamente

essa qualidade de sentimento que de fato “fala” ao campo que nos liga ao

mundo. Por meio de orações de sentimento, recebemos o poder de participar

da cura da nossa vida e dos nossos relacionamentos, e também do nosso

corpo e do nosso mundo.

Fazer como os anjos fazem...

A chave para utilizar essa forma de oração é reconhecer o poder oculto da

beleza, da bênção, da sabedoria e do sofrimento. Cada um desempenha um

papel necessário como parte de um ciclo maior que nos permite sentir,

aprender, liberar e transcender os sofrimentos mais profundos da vida. As

palavras de um escriba anônimo que registrou os ensinamentos de Jesus há

quase 2.000 anos lembram-nos de que o poder para mudar o nosso mundo,

como também os obstáculos que se interpõem entre nós e esse poder, está

dentro de nós. Ele afirmou simplesmente, “A coisa mais difícil de todas [de

fazer como seres humanos] é pensar como os anjos pensam... e fazer como

os anjos fazem”. [4]

A oração é a linguagem de Deus e dos anjos. Ela é também a linguagem que

nos foi dada para curar o sofrimento da vida com sabedoria, beleza e graça.

Quer aprendamos a respeito do poder da oração na Internet atualmente ou

num rolo de pergaminho do século I, a mensagem é a mesma. Aceitar a nossa

capacidade de usar essa linguagem universal pode bem ser o maior desafio

da nossa vida. Ao mesmo tempo, é a fonte da nossa maior força. Quando

sabemos sem nenhuma dúvida que já falamos a linguagem de sentimento da

oração, despertamos aquela parte de nós que jamais pode ser roubada,

perdida ou levada. Esse é o segredo da forma perdida de oração.

— Gregg Braden