O que Bolsonaro e QAnon tem em comum?
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O que Bolsonaro e QAnon tem em comum?

Os malucos do QAnon fora usados por Trump nos EUA e quase ferraram com a democracia americana. Será que vamos pelo mesmo caminho?

Andre Fran
4 min
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Os malucos do QAnon fora usados por Trump nos EUA e quase ferraram com a democracia americana. Será que vamos pelo mesmo caminho?
Os malucos do QAnon fora usados por Trump nos EUA e quase ferraram com a democracia americana. Será que vamos pelo mesmo caminho?

Já são dezenas de escândalos que vão sendo revelados envolvendo o presidente Bolsonaro e sua família em plena pandemia da Covid-19 que já tem mais de 500 mil mortos no Brasil. É propina por vacina, rachadinha, CPI... Fora o negacionismo, as aglomerações, o não-uso de máscaras, o atraso com as vacinas... Vamos parar por aqui pra eu não me irritar. Mas a última treta acendeu meu alerta aqui porque já estudei muito essa que é uma das teorias de conspiração mais tresloucadas e influentes do mundo hoje: o QAnon. A tese insana afirma que existe um governo paralelo controlando governos no mundo todo através de práticas de pedofilia, satanismo e até canibalismo e que teria a participação de nomes como Barack Obama, o Papa Francisco, George Clooney, Bill Gates, os Clinton e outros proeminentes nomes progressistas dos EUA e do mundo. Esse segredo guardado por poderosos teria sido revelado em fóruns de internet através de um ex-funcionário da CIA que tinha classificação secreta (Q) que não existe e que preferia se manter anônimo (Anon).  Havia um único nome que despontava como o grande bastião da justiça lutando contra essa elite depravada que explorava criancinhas indefesas. O nome dele: Donald Trump. Sim, é esse o nível. O grupo foi considerado pelo FBI como uma potencial ameaça de terrorismo doméstico nos Estados Unidos e nenhuma de suas previsões foram comprovadas até hoje, claro. 

Mas antes da gente descartar essa teoria como algo insano e estúpido demais para ser levado em consideração, vale lembrar que os seguidores dessa espécie de culto da burrice escancarada foram determinantes na ascensão e permanência de Trump no poder. Inclusive, vários daqueles fanáticos extremistas que realizaram o terrível  ataque ao Capitólio no dia 6 de Janeiro de 2021 eram fiéis devotos do "Q". Mas onde Bolsonaro entra nisso tudo? Calma...

Primeiro, vale entender como a teoria QAnon se apropriou e deturpou uma importante campanha contra o tráfico, exploração e abuso de crianças. Primeiro que nada desperta reações tão fervorosas como a defesa de nossas crianças. Muito mais do que futebol, política ou religião, a proteção da inocência de nossos filhos e filhas é algo que mobiliza a todos. Nada mais oportuno do que usar esse sentimento de paixão que extrapola a racionalidade e que é comum a quase todo mundo para arregimentar apoiadores. Mas como? É aí que entra a rede de exploradores de crianças. Tática comum para arregimentar seguidores em qualquer grupo extremista é a radicalização de seus potenciais membros. Não raro, investigações sobre ataques terroristas tentam desvendar onde o perpetrador do ato foi "radicalizado". O QAnon então invadiu em massa fóruns, grupos de Facebook e posts nas redes sociais com a hashtag #SaveTheChildren. Seus membros participavam ativamente dos debates, viravam parte daquela comunidade legítima e preocupada com o bem-estar das crianças e, pouco a pouco, começavam compartilhar fake news sobre os "reais" responsáveis por esses crimes. 

A tática é nefasta, cruel e atrapalha investigações reais sobre o paradeiro de crianças desaparecidas, mas é extremamente eficiente. Quem não se indigna com esse tipo de crime? E mais: o drama do abuso infantil é real e muitas vezes envolve pessoas poderosas (como o bilionário Jeffrey Epstein, que tem relações com políticos poderosos dos EUA). Extrapolar essa premissa real para convencer alguém de uma teoria conspiratória lunática com objetivos escusos é apenas um passo. Milhares de mães nos EUA se tornaram seguidoras fervorosas do QAnon através dessa tática desonesta. Ok, ok... Mas e o Bolsonaro?

Aqui no Brasil, o movimento QAnon não ganhou as proporções que teve nos EUA, felizmente. Mas, invariavelmente, aqueles que compartilhavam as teses insanas do grupo, os sites brasileiros em homenagem ao Q e as notícias falsas espalhadas sobre o tema eram também apoiadores de Bolsonaro. Isso não é novidade. Mas, recentemente, após nova revelação de um escândalo envolvendo seu nome, o presidente postou uma thread meio misteriosa em suas redes sociais. Em português errado e um texto mal escrito, Bolsonaro faz alusão a "sexo com menores" e "redes de pedofilia'... Mete Cuba no meio... Um nome fictício... Aquele negócio meio sem sentido e mal explicado criado para atiçar sua base de fanáticos. As postagens mal redigidas parecem criptografadas pelo filho abobalhado que volta e meia lança mensagens misteriosas  e teorias de conspiração que nunca se comprovam. Mas o objetivo é claro: desviar atenção de mais um escândalo (no caso, gravações revelando seu envolvimento em rachadinha quando deputado) e empurrar uma narrativa de guerreiro solitário lutando contra elites nefastas (tal qual Trump para os QAnon). 

O enredo está todo aí. O quanto o próprio Bolsonaro, ou sua base radicalizada, vão empurrar mais essa teoria de conspiração a favor do presidente, só o tempo vai dizer. Seria apenas mais uma das inúmeras estratégias dessa nova extrema-direita mundial que a gente vê sendo replicada aqui no Brasil. Desinformação, Fake News e Teorias de Conspiração usadas para a manutenção do poder. 

BÔNUS: Quem quiser conhecer um pouco mais sobre essa lunática e perigosa teoria de conspiração, fiz um vídeo sobre o QAnon lá no meu canal: https://youtu.be/aaU31NdRldc