O Video Assistant Referee (famoso VAR) chegou ao Brasil em Agosto de 2018, primeiramente na Copa do Brasil, na Libertadores e na Sul-Americana. A partir de então, foram muitas sensações e percepções acerca da sua influência no jogo: falta de ...
O Video Assistant Referee (famoso VAR) chegou ao Brasil em agosto de 2018, primeiramente na Copa do Brasil, na Libertadores e na Sul-Americana. A partir de então, foram muitas sensações e percepções acerca da sua influência no jogo: falta de critério, raiva, satisfação, necessidade e vontade de explodi-lo. Para um simples torcedor, como eu e você, essa ferramenta já foi maravilhosa, quando anulou um gol do adversário que estava milimetricamente impedido, e já foi inaceitável, quando anulou um gol do seu time que estava milimetricamente impedido ou que deixou alguma explicação aberta de um lance polêmico e passível de interpretações. Antes de tudo, já adianto que o VAR não instituiu a justiça eterna no futebol, não é a salvação para todos os problemas da humanidade. Por outro lado, o futebol hoje consegue evoluir sem ele? Não, de forma alguma. Fato é que uma ferramenta desse porte, capaz de virar de cabeça para baixo todas as convicções que nós tínhamos, expôs despreparos, hipocrisias, teorias conspiracionistas malucas, más intenções... Ou seja, tudo aquilo que sempre fez parte da raiz desse esporte que nós odiamos amar e amamos odiar. Bom, vamos lá, há muito o que ser dito. | ||
Primeiramente, é válido mostrar o despreparo de muitos árbitros e bandeirinhas (sim, bandeirinhas! Nada de assistentes por aqui) ao utilizarem o vídeo como uma muleta para suas falhas. Em jogos com o VAR, é cada vez mais comum, no próprio campo, a não marcação de faltas e impedimentos claríssimos. Isso significa que os apitadores estão piorando e dividindo a responsabilidade com os comandantes da cabine de vídeo. Na maior parte dos casos, o que acontece é: 50% árbitros de campo e 50% VAR. Na minoria que está em franco crescimento, 20% árbitros de campo e 80% VAR. A falha em questão é gravíssima porque altera o propósito para o qual o árbitro de vídeo foi criado, que é de interferir em lances duvidosos, aqueles que são quase impossíveis de serem analisados a olho nu, e corrigir erros capitais. Como acusa seu próprio nome, a função é assistir. Apita quem está no campo. O primeiro ponto negativo é, então, uma questão no colo do departamento de arbitragem nacional, que, após um bom tempo de utilização, não corrigiu os profissionais que "sentam" na ferramenta para se livrar dos próprio erros. | ||
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Agora, o necessário problema do tempo. A comparação com os vizinhos é chata, eu sei, mas, nesse caso, não poderia deixar de fazê-la. Nas principais ligas da Europa, com destaque à Premier League, o tempo médio de checagem quando o árbitro de campo vai conferir o monitor é de 1 minuto, ao passo que, no Brasil, é de 5 minutos, sendo que, não raramente, os 10 minutos são batidos. Quem está na cabine fica dormindo, jogando truco? O bom senso nos leva a afirmar que não. O cerne da questão está na tecnologia, seja ela para traçar linhas de impedimento ou para comunicar. Inaceitável para todos, uma vez que a demora, além de quebrar a dinâmica, aumenta a margem de discussão de forma desnecessária. Com o auxílio tecnológico, uma decisão difícil foi tomada. No entanto, o tempo gasto no processo progressivamente gera uma insatisfação. A partir daí, surgem frases como: "tem que acabar com essa palhaçada de vídeo" ou "esse tempo todo é pra encontrar um jeito de roubar o meu time". Bate até uma saudade da época em que as discussões em programas esportivos giravam entorno do jogo jogado, não do jogo apitado. | ||
Chega de problemas? Ainda não, espere um pouco. O pior ainda está por vir. Três episódios ocorridos no Brasileirão do ano passado mostraram que a tecnologia, pelo menos aquela utilizada em território nacional, não é infalível, e que o critério nas decisões conjuntas - campo e vídeo - está longe de existir. O chefe da arbitragem brasileira, Leonardo Gaciba, falou que, no jogo válido pelo primeiro turno entre Atlético MG e São Paulo, as linhas de impedimento de um lance de gol da equipe paulista foram traçadas de forma errada. Além disso, em um dos últimos jogos do campeonato, um gol duvidoso do Internacional em cima do Vasco foi validado com base apenas no achismo, já que as linhas não estavam calibradas. É um absurdo total, depois de tantos jogos, a ferramenta, que é fundamental para decidir até mesmo o campeonato, não estar preparada ou não ser manuseada da maneira ideal. Com isso, cai por terra o argumento de que devemos confiar cegamente nos recursos tecnológicos. Pesquisas, discussões, procura por aprimoramento são, ainda no estágio que estamos, imprescindíveis. Em outro plano, uma questão igualmente séria. A expulsão do Rodinei contra o Flamengo na "final antecipada" e a não marcação de pênalti para o Internacional deram o que falar, por problemas de descompasso entre a decisão tomada no campo e a interpretação do VAR. Não estou aqui para julgar o que deveria ser marcado, até por que concordo com as diretrizes escolhidas, mas sim para cobrar coerência nas decisões ao longo do campeonato, já que houve muitos lances similares em que a infração não foi assinalada ou foi punida apenas com um cartão amarelo. Braço de apoio tocando na bola dentro da área é pênalti? Ninguém sabe. Uma hora sim, outra hora não. Existe mão na bola e bola na mão? Fica a critério de cada profissional. Qualquer coisa que ele marcar tá valendo. Ou seja, esse cenário tá na conta dos chefões do apito, que tratam a arbitragem com pouca transparência ao público e até mesmo aos próprios árbitros. | ||
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Enfim, mesmo com tudo isso, o VAR foi bom. Os erros aparecem mais que acertos. Com a evolução constante do esporte, a ferramenta, hoje, é necessária. A perspectiva nos engana. A análise em uma só dimensão nos engana. Os centímetros (às vezes, até metros) não são vistos dentro do gramado. É impossível regredir. Claro que são necessários ajustes em questões de transparência, velocidade e tecnologia, como já foi abordado. Contudo, a nova era chegou. Toda mudança, no início, é complicada, gera dúvidas e discussões... Porém, nesse caso, ela é completamente necessária. Aos tradicionalistas e excessivamente românticos, que dizem que o VAR acabou com o futebol, aquele abraço! Bola pra frente. As melhorias nos trarão tempos em que, mesmo com decisões polêmicas, os debates serão sobre o próprio futebol, da forma que acontecia em épocas remotas (rs). É isso aí. Como eu sempre digo, nada é pra sempre nesse esporte. Tudo muda, passa e evolui! | ||
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