Poemas #1: O Outro
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Poemas #1: O Outro

O OUTRO

Andre Nascimento
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Queria dar nome às tantas vidas,

Acertar finalmente as contas,

Mas o adeus acusa:

A Deus pertence a acusação.

À primeira vista, parece até resignação,

Mas é rebeldia de anjos loucos

Cujos aprendizes nunca mais tropeçariam –

Brincadeiras sérias demais para retaliação.

Tudo porque ousei ir além da dormência

Que toma conta da alma

Quando o destino finalmente assente,

Fazendo da redoma um presente gentil.

Tudo porque retirei o preço de tudo o que me era caro,

Para apresentar-me à maldade

Com a humildade das mãos injustas

Divididas entre o anseio por liberdade

E a vergonha.

O que assobia no ouvido da gente

É a eterna pulga sobrevivente – azia intermitente;

Entregue a um novo estado da matéria,

Renovo a fuga na miséria dos dias 

E enfrento o coma que arrebata o movimento.

As meias palavras que bastam

Dão plenas certezas que não se calam:

Isso de deixa estar, o que é teu está guardado,

Nada é senão pobre destino:

São letras minúsculas escritas na lua,

Escondidas atrás do ego,

Incapaz de se redescobrir outro em teus olhos.