O OUTRO
Queria dar nome às tantas vidas, |
Acertar finalmente as contas, |
Mas o adeus acusa: |
A Deus pertence a acusação. |
À primeira vista, parece até resignação, |
Mas é rebeldia de anjos loucos |
Cujos aprendizes nunca mais tropeçariam – |
Brincadeiras sérias demais para retaliação. |
Tudo porque ousei ir além da dormência |
Que toma conta da alma |
Quando o destino finalmente assente, |
Fazendo da redoma um presente gentil. |
Tudo porque retirei o preço de tudo o que me era caro, |
Para apresentar-me à maldade |
Com a humildade das mãos injustas |
Divididas entre o anseio por liberdade |
E a vergonha. |
O que assobia no ouvido da gente |
É a eterna pulga sobrevivente – azia intermitente; |
Entregue a um novo estado da matéria, |
Renovo a fuga na miséria dos dias |
E enfrento o coma que arrebata o movimento. |
As meias palavras que bastam |
Dão plenas certezas que não se calam: |
Isso de deixa estar, o que é teu está guardado, |
Nada é senão pobre destino: |
São letras minúsculas escritas na lua, |
Escondidas atrás do ego, |
Incapaz de se redescobrir outro em teus olhos. |