Na erma cercania que somente eu alcanço
Na erma cercania que somente eu alcanço |
Há centenas de cabides vazios, |
Pois o amanhã está nu. |
Ante a fronteira de vizinhos em guerra, |
Faço do conflito entre o desejo e a rendição |
Um parto sem herança. |
O porto seguro escapou entre os dedos, |
Mas sua queda restabelecerá a ordem tardia: |
Um suave mal-estar unirá vigílias |
Paralelas à solidão convergente; |
Só então os olhos crerão na surdez, |
E o acaso acordará do pesadelo – |
Tão logo encontre sentido na ilusão. |
Mais do que um desabafo, |
Esse é um movimento que nega |
Enquanto o olhar assente; |
É um sonho em que não durmo |
Enquanto o trem dispara. |
Debruço-me nas marcas da estrada, |
No friso roto dos pneus sem rota, para, |
Quem sabe, mudar cores e números, |
Rasurar preces sem permissão, |
E empreender a marcha necessária, |
Necessariamente solitária. |
A incisão de realidade toma para si o mundo, |
Como se água fosse: |
Mata a sede, |
Afoga |
E permite que ressurja a vida. |