Poemas #2: A Estrada
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Poemas #2: A Estrada

Na erma cercania que somente eu alcanço

Andre Nascimento
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Na erma cercania que somente eu alcanço

Há centenas de cabides vazios,

Pois o amanhã está nu.

Ante a fronteira de vizinhos em guerra,

Faço do conflito entre o desejo e a rendição

Um parto sem herança.

O porto seguro escapou entre os dedos,

Mas sua queda restabelecerá a ordem tardia:

Um suave mal-estar unirá vigílias

Paralelas à solidão convergente;

Só então os olhos crerão na surdez,

E o acaso acordará do pesadelo –

Tão logo encontre sentido na ilusão.

Mais do que um desabafo,

Esse é um movimento que nega

Enquanto o olhar assente;

É um sonho em que não durmo

Enquanto o trem dispara.

Debruço-me nas marcas da estrada,

No friso roto dos pneus sem rota, para,

Quem sabe, mudar cores e números,

Rasurar preces sem permissão,

E empreender a marcha necessária,

Necessariamente solitária.

A incisão de realidade toma para si o mundo,

Como se água fosse:

Mata a sede,

Afoga

E permite que ressurja a vida.