Poemas #8: O Desarranjo
0
0

Poemas #8: O Desarranjo

Depois de tantas chances,

Andre Nascimento
1 min
0
0

Depois de tantas chances,

O encanto omitiu palavras suaves

E se fez paz no beijo amargo – hipérbole silenciosa.

A melodia se encolhe em mares secos,

Na confiança da cura impossível:

Vento como sinfonia, involuntário e penitente.

Melhor não explicar a febre,

Nem os porquês da busca por olhares poucos;

Ecoa na liberdade o universo que se afunila até o claustro sem altar.

O ar cheira mal e o sol é triste;

A solidão da tarde insone oculta a razão que se sobrepõe ao sonho,

E o refugo dança ao som de enganos planejados.

Mas o voo é raso, ainda que distante;

O desarranjo é perene, ainda que surdo;

E a mente, feudo remanescente da fome.

Noite longa a contar colcheias,

A encaixar sílabas em melodias alheias:

Não vivo mais sem o antídoto

Que transforma presença em lembrança;

Santo remédio que degusto

De cenho sereno, pois nunca estive tão perto

Do que eu tão perigosamente desejei.