A verdadeira inclusão
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A verdadeira inclusão

Amigos, o meu primeiro texto neste espaço trata de tempos de enorme complexidade.

Alan Petersen
5 min
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Amigos, o meu primeiro texto neste espaço trata de tempos de enorme complexidade.

Vivemos uma polarização extrema no Brasil e no mundo, e que é bastante exacerbada por esta época maluca de internet.

Estamos tratando quem pensa diferente de nós como inimigos, quando é exatamente o “pensar diferente” que sustenta qualquer democracia.

Como já dizia o grande Nelson Rodrigues, “toda unanimidade é burra”, e ele assim afirmava por uma razão muito simples. Nós só aprendemos com quem pensa diferente. São nas diferenças que posições são ponderadas, compreendidas e aceitas. São nas diferenças que verdades absolutas são contestadas e modificadas. E são nas diferenças que é exercitada a maior premissa para uma vida saudável em sociedade: o respeito ao próximo e à sua opinião.

Vejam bem, não estou aqui dizendo que nós precisamos concordar com os que pensam diferente. Estou dizendo apenas que precisamos respeitar e tentar entender, sem maiores “pré” conceitos estabelecidos sobre o porquê da pessoa pensar daquela forma.

Hoje temos um país extremamente dividido. A julgar pelo resultado do 1º turno das eleições, quase metade da população prefere o Lula, enquanto a quase outra metade da população prefere o Bolsonaro.

E nesse meio do caminho famílias são destruídas, amizades são desfeitas e relações profissionais são encerradas. Tudo sob a mesma linha de argumentação. “Não posso ter qualquer tipo de relacionamento com quem apoia candidato bandido!”. “Se você vota no candidato Bolsonaro, você é um racista, genocida e fascista!”. “O cara que apoia o Lula é um hipócrita, gosta do comunismo mas vive de Iphone!”. “Ele gosta do Bolsonaro porque odeia pobre”.

Eu tenho inúmeros defeitos. Muitos mesmo. Mas faço questão de não abrir mão de uma das minhas melhores qualidades, ao menos na minha opinião. Eu sempre tento ouvir e compreender os dois lados. Eu leio todos. Leio os que são mais radicais no apoio ao Lula. Leio os que são mais radicais no apoio ao Bolsonaro. Leio e tento questionar e entender porque aquela pessoa pensa diferente de mim em qualquer aspecto.

E amigos, posso lhes afirmar uma coisa... a maioria dos eleitores dos dois candidatos quer o melhor para o país, para a sociedade e para as pessoas. Só que pensam diferente sobre qual seria este melhor.

Garanto que a maioria dos eleitores do Lula de fato acham que ele não participou do esquema da Petrobras. Que tudo foi um esquema armado pela lava jato para tirá-lo da disputa eleitoral de 2018. Ou que se participou, os resultados do seu governo superam esta questão. Eles acham, realmente, que o Lula seria a melhor opção para o país neste momento. Eu realmente não gosto e não consigo votar no Lula, que foi a minha maior decepção política até hoje, mas devo odiá-los por isso? Quem sou eu para bater o martelo de que estão errados? Eu posso ter a minha opinião, que obviamente pode ser diferente da deles. Mas eu sou senhor tão absoluto da razão assim, a ponto de cortar relação com eles? De tratá-los como inimigos?

Muitos eleitores do Bolsonaro não o acham fascista e genocida. Nem são pessoas preconceituosas que odeiam as minorias. Muitos do que conheço, inclusive, são pessoas extremamente boas, que não perdem oportunidade de ajudar o próximo, mais do que muita gente que vejo despejando regras de conduta nas redes sociais, e que veem sim qualidades na atual equipe de governo. Eu não gosto e não consigo votar no Bolsonaro, pois ele é contrário a princípios de vida e de respeito que me são muito caros. Mas devo odiar seus apoiadores por isso? Mais uma vez, quem sou eu para bater o martelo de que estão errados? Eu posso ter a minha opinião, que obviamente pode ser diferente da deles. Mas, novamente, eu sou senhor tão absoluto da razão assim, a ponto de cortar relação com eles? De tratá-los como inimigos?   

Amigos, brigar com alguém por causa de política, é na imensa maioria das vezes, admitir que nossa opinião é completamente desprovida de erros e de equívocos. Quem nunca votou errado na vida? Quem nunca se arrependeu de uma escolha? Quem nunca mudou de opinião depois de alguns anos? Se você até hoje nunca mudou uma opinião sua sequer, acho que está na hora de rever alguns conceitos. Afinal, como bem dizia Raul Seixas, “eu prefiro ser uma metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.

E pra encerrar esse texto de abertura, política sempre deve ser tratada com um olhar crítico, especialmente para aqueles que nós votamos e ajudamos a eleger. Afinal de contas isso não é futebol, é vida real. E se eu ajudo a eleger um político, o mínimo que devo fazer é fiscalizar o seu governo, criticar o que acho que não está correto, e exigir respeito a toda a população que ele representa. Respeitando sempre, obviamente, todas as opiniões contrárias. Isso é democracia.

Fazer um mundo melhor não é impor a minha opinião. Fazer um mundo melhor é saber conviver com quem é e pensa diferente de mim. Sempre com o devido respeito às diferenças. Essa é a verdadeira inclusão.