Post de Luísa Mell reacende debate acerca do uso de animais dentro do esporte
Post de Luísa Mell reacende debate acerca da utilização de animais dentro do esporte | ||
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Créditos: JC Markun | ||
Recentemente um post no perfil do Instagram da ativista dos direitos dos animais Luísa Mell foi assunto na internet por criticar duramente a presença de animais no esporte, sobretudo no Hipismo. Com quase 330 mil likes e 33 mil comentários, o post feito pelo ativista da causa animal Rafael Tortella e repostado por Luísa Mell se tornou viral, e chamou a atenção de celebridades como Anitta, Xuxa Meneghel, Rafael Portugal e Yasmim Brunet, que se mostraram contrários à prática do esporte. | ||
Confira a postagem na íntegra aqui. | ||
De acordo com a publicação, o animal sofre uma série de lesões devido ao uso de equipamentos de montaria, e está sob constante estresse e tortura. | ||
Para Tortella, de 40 anos, autor da postagem citada, os esportes equestres deveriam ser banidos e proibidos: | ||
“Quando um dos competidores não escolheu competir, não poderia ser considerado como esporte. É abuso de vulneráveis e crueldade! Animais não são atletas, nem objetos de entretenimento e não vieram ao mundo a serviço de conquistas humanas. São sujeitos dos seus próprios interesses, o que não envolve carregar um humano sobre sua coluna, ser atado a instrumentos de coerção que provocam dor, ser submetido a riscos que não conhece e não pode escolher por si assumi-los, para saltar obstáculos por prêmios que só interessam a quem os explora.” | ||
Além disso, o ativista explica um pouco mais sobre as consequências negativas trazidas pelo esporte para a saúde do cavalo, que foram apontadas por ele em seu post: | ||
“A embocadura pode gerar cerca de 40 doenças e mais de 100 comportamentos negativos no cavalo, segundo os estudos do veterinário Dr. Robert Cook (veja aqui:) | ||
Segundo David Castro (ex-cavaleiro, ex-domador, representante na Argentina da escola de equitação Nevzorov Haute Ecole, e autor do livro El Silencio de los Caballos), “A embocadura é um instrumento para causar dor na boca do cavalo. Durante a execução das atividades equestres, temos que entender que o cavalo sempre é conduzido pela dor”. O animal obedece porque está sentindo muita dor, ou para evitar dor maior que os treinamentos o ensinaram desde a doma.” | ||
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Como funciona o bridão- Créditos: Cavalus.com.br | ||
“Sempre que há algo na boca, o aparelho digestório secreta suco gástrico, que estimula mais salivação. O excesso de saliva sem deglutição correta, forma a espuma branca que com frequência vemos nos cavalos após um tempo de prática. O acúmulo de suco gástrico no estômago, sem chegar alimento nem saliva, pode levar a problemas no trato digestivo.” | ||
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Espuma branca apontada como consequência do uso do bridão- Créditos: Hipismo&Co. | ||
“Quando a lesão prejudica a performance, é frequente eutanasiar o animal, como o cavalo Jet Set nas Olimpíadas de 2021, sacrificado após lesão que o deixou manco, mesmo que seja possível tratar até de cavalos amputados (veja aqui).” | ||
A saúde mental do animal também é afetada pela prática equestre, diz Rafael Tortella: | ||
“Forçar animais a realizarem comportamentos não-naturais já é uma forma de abuso psicológico logo no início do processo equestre. Não se realiza atividade com cavalos sem antes passar pelo processo de doma, tal como os animais nos arcaicos circos. Não à toa o nome do processo é o mesmo: doma. É preciso exercer domínio. | ||
É na doma que os animais são condicionados a aceitar um humano sobre suas costas, os equipamentos e quando são coagidos a obedecer os comandos. Qualquer metodologia de doma é baseada na “pressão e alívio”, é dolorosa e prejudicial. Mesmo novas técnicas aparentemente com menor pressão física, a coerção psicológica e a apropriação do medo é evidente. | ||
Domados a partir de 2 anos de idade (ainda crianças), são forçados a normalizar que sua vida será de obediência ao seu dominador para evitar dor ou angústia que já conhecem. Um outro ponto de transtorno psicológico: cavalos são animais que vivem em bando na natureza, nas hípicas geralmente ficam a maior parte do tempo sozinhos em baias individuais, privados do contato constante com seus semelhantes, impedidos de formar bandos. | ||
Tais traumas psicológicos são encarados com normalidade na equitação, pois é desta forma que os praticantes desejam que os cavalos se comportem. | ||
Assim como em relacionamentos abusivos e de dominação entre humanos, por muitas vezes as vítimas sequer compreendem os abusos sofridos pois não conhecem mais suas vidas sem eles.” | ||
Por fim, o ativista declara: | ||
“Considero a atividade equestre como uma exploração arcaica de animais, que não leva em consideração os interesses do indivíduo, expõe a riscos desnecessários e causa sofrimento. Portanto, defendo incondicionalmente que a prática primeiro deixe de ser considerada um esporte, e por fim que fique no passado. No dia 18/09 lançaremos uma campanha nacional para pressionar o COB e o COI a eliminar o hipismo dos Jogos Olímpicos! O link estará no meu perfil do Instagram e no @nacaoveganabrasil.” | ||
Eu luto pelo fim do especismo. Defendo uma relação harmoniosa, livre e sem exploração entre animais humanos e não-humanos.” | ||
O que pensam os defensores dos esportes equestres: | ||
Ivanildo Paulino Júnior é treinador de Hipismo há 28 anos e discorda de várias acusações direcionadas ao esporte: | ||
“É necessário que se tenha muita paciência com o animal por parte do atleta. O cavalo tem o direito de assustar e parar durante uma prova. Se você usar a violência e der uma forte chicotada, por exemplo, não vai dar certo. O animal perderá o respeito por você, e a confiança, impossibilitando a montaria. | ||
Durante uma prova sempre estão de prontidão alguns fiscais que ficam de olhos atentos à forma com que o cavaleiro está guiando seu cavalo, a fim de coibir qualquer tipo de abuso com o animal. São permitidas no máximo três chicotadas, com força moderada, e sempre fiscalizadas pelo júri da prova que avaliam se houve crueldade ou não. | ||
Qualquer tipo de sangramento no animal, causado pelo cavaleiro, por mais superficial que seja, é passível de punição ou exclusão da prova. Não é tolerado. O cavalo está sempre amparado pelo regulamento, e protegido de qualquer abuso.” | ||
Vavá, como é conhecido o treinador, também comentou a afirmação de que existe tortura no esporte: | ||
A afirmação que o cavalo só obedece porque está sendo torturado definitivamente não procede. Um cavalo que sofre maus-tratos está sempre desconfiado de tudo, abatido, com a pelagem fosca. Não é do interesse do cavaleiro usar a violência como forma de educação, pois isso vai acabar se virando contra ele e proporcionando maus resultados esportivos. O cavalo deve ser sempre bem tratado e bem cuidado, porque além de se tratar de uma vida, esse carinho só tende a favorecer a relação entre ele e o cavaleiro. | ||
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Hipismo nas Olímpiadas de Tóquio 2021-Foto: Gaspar Nóbrega/COB | ||
Além de Vavá, dois veterinários favoráveis ao Hipismo foram entrevistados. São eles: Victor Chiari, com 21 anos de experiência no esporte, e Olegário Félix, mais longevo, com 32 anos de atuação no meio. | ||
Chiari discorda da informação de que é frequente sacrificar um animal que não apresenta bom nível para competições: | ||
“A eutanásia é a última das últimas opções. Nunca me ocorreu de examinar um cavalo e apontar a eutanásia como única saída, ocorre apenas em casos isolados. Na veterinária, é sempre levada em consideração a idade do animal, o risco trazido pela cirurgia, o nível de dor e sofrimento do ser, entre outros fatores. Mas não, este não é um procedimento comum como foi dito, e os cavalos que apresentam baixo rendimento esportivo devido a lesões são simplesmente aposentados da vida de treinos e competições. Recorremos à eutanásia quando a qualidade de vida do animal é comprometida, e percebemos que ele vai viver uma vida de sofrimento após determinada lesão, não quando seu rendimento está em baixa. | ||
Inclusive, a recuperação do animal é sempre colocada como prioridade. Hoje temos animais que sofreram contusões, foram operados, e conseguiram voltar a atuar em alto nível em competições. A eutanásia não pode ser banalizada, mas apenas utilizada em casos muito extremos.” | ||
Em seguida rebate as informações apontadas por Rafael Tortella e Luisa Mell de que os equipamentos de montaria trazem consequências negativas para a saúde do cavalo: | ||
“Foi dito que o animal secreta suco gástrico devido à embocadura/bridão. O suco gástrico está no estômago, e aquela espuma na boca do animal não tem nada a ver com isso. A espuma provém de uma salivação causada por um movimento de língua e boca totalmente natural, como se estivesse mascando um chiclete, e não significa algo ruim. Nós salivamos quando mascamos chiclete, e isso não nos traz problemas. Isso só acontece quando a boca do cavalo está relaxada, e o bridão se movimenta suavemente, não sob pressão como apontado na postagem. | ||
O bridão não tem a intenção de causar dor ou machucar o animal. Se isso está acontecendo e o cavalo está tendo uma reação ao equipamento, o bridão deve ser trocado, ou recolocado de forma que não o machuque. Como se fosse um tênis de corrida para nós seres humanos. Se ele está nos machucando ou causando incômodo, claro que nós vamos ver o que está errado nele, e se for o caso trocá-lo por outro modelo. | ||
O cavalo está sob constante avaliação odontológica para que se evite qualquer infecção dentária e gere algum tipo de reação anormal ao bridão, mas o equipamento em si não causa danos à saúde do animal se colocado corretamente.” | ||
E ainda completa: | ||
A saúde mental do cavalo é sempre cuidada com bastante atenção. Não podemos nunca usar a violência contra ele, pois isso o deixará assustado e agressivo. Se um cavalo ficar agressivo não vai dar boa coisa. Eles possuem em torno de 600kg, quase 8 vezes a massa de um ser humano adulto. Se um animal desse porte nos atacar, vai causar grandes estragos. | ||
Além disso, o cavalo precisa primeiramente ser cavalo. Antes de ser atleta, ele é cavalo. Precisa de momentos de interação com outros animais, precisa correr livre pelos piquetes, passear, brincar. Isso é fundamental para o animal e para seu bem-estar. | ||
Dentro do hipismo queremos um animal feliz, saudável fisicamente e mentalmente, e tudo isso é proporcionado para eles. Como dito anteriormente, antes de serem tratados como atletas, eles são tratados como cavalos.” | ||
Olegário Félix, de 56 anos, também não vê fundamentos nas informações da postagem, e afirma que esses problemas apontados não são comuns de ocorrerem nos animais, sobretudo a questão do bridão e sua relação com problemas estomacais e secreção de suco gástrico. Para ele, se tratam de informações incorretas. | ||
O veterinário complementa: | ||
“Os cavalos do hipismo, de uma maneira geral, adoram saltar. A felicidade deles é claríssima. Um exemplo é um cavalo de 21 anos de idade que eu conheço, já idoso, que veio da Alemanha. Você precisa de ver a alegria daquele animal quando começa a pular. É algo muito bonito. Sua animação não bate com as características de um animal machucado ou deprimido. Um animal que está sendo o tempo todo machucado e torturado, como foi dito, não permanece saudável e não consegue competir. | ||
Os equipamentos utilizados no Hipismo não representam qualquer risco para sua saúde se colocados de forma correta.” | ||
By Arthur Albuquerque on September 17, 2021. |