| ||
| ||
- Alô, mãe! Tudo bem por aí? | ||
- Oi, meu filho, tudo em paz? E, em Nova Iorque, como estão todos? | ||
- Tudo tranquilo também, Dona Fátima. A semana voou. | ||
- Pois é, filho, mas você anda trabalhando demais. | ||
- Então, mãe, e tem mais novidade. Além das rádios e das tevês, agora vou começar a escrever. | ||
- O que exatamente? | ||
- Algumas crônicas da minha temporada aqui nos Estados Unidos, informações que não entram no noticiário do dia a dia e algumas dicas pra quem vier aqui para Nova Iorque depois da pandemia. | ||
- Bacana. Assunto não vai faltar. | ||
- Pois é, por falar em assunto, seu neto de 12 anos foi vacinado. | ||
- Eu vi a foto do Rafa e fiquei super feliz! | ||
- Pois é, aqui ja liberaram doses pra todos os jovens que têm mais de 12 anos. | ||
- Que loucura, né filho? Ele tomou a vacina na mesma semana que eu, com 67, tomei a minha primeira em São Paulo. | ||
- Pois é! E ele vai tomar a segunda dose em três semanas e você, em 3 meses. Resumindo: seu neto de 12 anos estará imunizado antes de você. | ||
- HAHAHAHA, só rindo mesmo, filho. Pior é não ter certeza se em 3 meses vai ter mesmo a segunda dose pra mim. | ||
- Acho que vou ‘importar’ você pra cá, mãe! Aqui agora todo mundo pode tomar vacina, tem até postos de vacinação no metrô e não precisa mostar nenhum documento. | ||
- Adoraria ir! E ainda levava Catupiry para você! | ||
- Além disso, por aqui, tudo mudou. Acabamos de passear na Times Square. Lembra que te falei que estava completamente vazia quando a gente chegou no ano passado. | ||
- Lembro, você dizia que dava pra jogar bola no meio da Quinta avenida. | ||
- Então, mãe, esquece! Hoje está bombando com gente pra todos os lados. Detalhe a maioria já está sem máscara. | ||
- Sem máscara? Como assim? | ||
- Quem está imunizado não precisa mais usar máscara, mesmo perto de pessoas que não foram vacinadas. E até dentro das lojas estão começando a liberar. Dá uma olhada. | ||
| ||
- Nossa, filho! Nem imagino quando isso vai acontecer por aqui. | ||
- Tomara que seja rápido, mãe. | ||
- Eu não aguento mais ficar em casa olhando pra cara do seu pai e ele pra minha. | ||
- HAHAHAHA. | ||
- Só saí pra tomar a vacina e mais nada. Mas poderia ser pior. | ||
- Como assim, mãe? | ||
- Lembra do Osvaldo, síndico do prédio por anos. | ||
- Claro, jogava bola com os filhos dele. O que houve com o Osvaldo? | ||
- Morreu, filho. Covid. | ||
- Que tragédia, mãe. | ||
- Tem mais: o casal de vizinhos aqui do lado também se contaminou. | ||
- Caramba, toma cuidado, hein? | ||
- Mas tem mais, filho... | ||
- Fala mãe! | ||
- Ai, me dá até um aperto no peito. Sabe seu primo Leonardo. | ||
- Sei, não vai me falar... | ||
- Está internado na UTI também por Covid. | ||
- Mas tão jovem, o Leo tem uns 50 anos. | ||
- Pois é, e ninguém está falando nada no grupo de Zap da família porque a filha dele está deprimida por causa da pandemia. | ||
- Ela não está sabendo? | ||
- Não, coitada. | ||
- Meu Deus, tomara que ele vença essa. Nem sei o que falar, mãe. | ||
- É....muito triste. Eu vou te dando notícias. | ||
- Tá bem. Vocês já almoçaram? | ||
- Acabamos de comer. Seu pai fez uma carne assada que achou numa promoção no mercado. | ||
- Estava boa? | ||
- Uma delícia, fazia tempo que a gente não comia. Hoje carne por aqui é artigo de luxo. | ||
- Aproveita o exemplo do seu neto e vira vegana, mãe. | ||
- HAHAHAHA só você pra me fazer rir, Eduardo. | ||
- Beijos, mãe, se cuida. | ||
- Pra você também, filho. Uma hora tudo isso passa. | ||
- Vai passar, mãe! | ||
Desligo o telefone e fico pensando; quando? | ||
(Tirando alguns nomes que foram trocados por questões de privacidade, toda a conversa acima foi real) |