Brasil está na Copa, o que nada diz sobre favoritismo
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Brasil está na Copa, o que nada diz sobre favoritismo

Com a classificação para a Copa do Catar garantida nesta quinta, a conversa na padaria, nos botequins e programas de televisão passa a ser sobre desempenho da seleção brasileira no Oriente Médio, no ano que vem. Isso antes mesmo do sorteio, q...

Bernardo Ramos
3 min
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Com a classificação para a Copa do Catar garantida nesta quinta, a conversa na padaria, nos botequins e programas de televisão passa a ser sobre desempenho da seleção brasileira no Oriente Médio, no ano que vem. Isso antes mesmo do sorteio, que vai definir grupos e emparceiramento!

Torna-se absolutamente inócuo o debate em torno de favoritismo. Afinal, por raras vezes a seleção brasileira esteve pronta um ano antes do início de um mundial.

Paquetá comemora gol contra a Colômbia. Crédito da imagem: Lucas Fiqueiredo
Paquetá comemora gol contra a Colômbia. Crédito da imagem: Lucas Fiqueiredo

Voltemos a algumas das campanhas mais lembradas do selecionado canarinho na história das Copas e como eram as escalações com este mesmo período de antecedência. 

Em maio de 1981, a equipe de Telê Santana obteve três resultados que a credenciariam como uma da potências da Copa ibérica do ano seguinte. Foram vitórias sobre a Inglaterra (a primeira da história da equipe em Wembley), França e Alemanha. Todas em canchas nos países adversários. 

O time que entrou em campo em Londres, por exemplo, tinha Waldir Peres; Edevaldo, Oscar, Luizinho e Junior; Cerezo, Sócrates, Zico e Paulo Isidoro; Eder e Reinaldo. A equipe  eliminada em 5 de julho de 1982, no estádio Sarriá, em Barcelona, tinha três novidades, com Leandro, Falcão e Serginho.

Recuemos ainda mais no tempo. O Brasil carimbou o passaporte para o México ao vencer o Paraguai por 1 a 0, em 31 de agosto de 1969, no Maracanã. Daquela equipe, Joel Camargo, Djalma Dias, Rildo e Edu não formariam para ouvir o hino nacional no gramado do Jalisco antes da estreia, contra o Tchecoslováquia. Nem o técnico era o mesmo. A CBD trocou João Saldanha por Zagallo menos de três meses antes de a bola rolar em Guadalajara!

Quer mais? Escale a equipe que debutou na Coreia do Sul, contra a Turquia, em junho de 2002 . Havia quatro mudanças em relação aos 11 que encerraram as complicadas eliminatórias, contra a Venezuela, no Maranhão. Cafu, Gilberto Silva, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo eram as caras novas.

Mas não são apenas as escalações que mudam. O próprio desempenho é fator preponderante. Como afirmam os mestres Tostão e Claudio Zaidan, ganha a Copa a melhor seleção do mês, não do mundo.

Há um ótimo documentário disponível no Netflix chamado O Campeão Impossível (2016, com direção de Javier Novoa). A película mostra o período de preparação da Argentina para a Copa de 1986. Os críticos da época, entre jornalistas e torcedores, apontavam para uma provável eliminação ainda na primeira fase do Mundial do México. O ambiente era tão hostil no país vizinho que o técnico Carlos Billardo pediu à direção da escola da filha que criasse um sobrenome de mentira para a criança. Não queria que ela fosse identificada e que, por consequência, tivesse de ouvir impropérios no momento da chamada. O treinador acabou campeão no Azteca.

Isso sem falar, claro, da absoluta desconfiança que as seleções brasileiras campeãs em 1970, 1994 e 2002 despertaram antes dos embarques para os países sede. 

A maré costuma virar mesmo durante as disputas. A Itália de 1982 (timaço, diga-se) virou motivo de chacota na Bota após o patético desempenho nos empates com Polônia, Peru e Camarões na fase de grupos. Os jogadores cortaram relações com a imprensa, e vexames contra a Argentina de Maradona e o Brasil de Zico pareciam iminentes. Não só os comandados de Enzo Bearzot derrotaram os sul-americanos como arrancaram rumo ao tricampeonato mundial.

Nem preciso escrever sobre as vexatórias eliminações dos favoritaços franceses e argentinos após a disputa de apenas três cotejos em Coreia e Japão.

Muita coisa vai rolar. Logo, não perca seu tempo com debates absolutamente sem sentido. Peça a conta!