A ditadura favorita da esquerda está sob cerco
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A ditadura favorita da esquerda está sob cerco

Os progressistas da América há muito romantizam o regime tirânico de Cuba, apesar do anticomunismo dos próprios cubanos.

Sagran Carvalho
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Pessoas gritam slogans contra o governo durante protestos contra e em apoio ao governo em Havana, Cuba, 11 de julho de 2021. (Alexandre Meneghin / Reuters)
Pessoas gritam slogans contra o governo durante protestos contra e em apoio ao governo em Havana, Cuba, 11 de julho de 2021. (Alexandre Meneghin / Reuters)

Os progressistas da América há muito romantizam o regime tirânico de Cuba, apesar do anticomunismo dos próprios cubanos.

Não é fácil administrar uma ditadura horrível e ainda ter fãs e defensores em bairros da moda, mas o regime de Castro conseguiu isso por décadas.

Os protestos em massa e espontâneos, que eclodiram em toda Cuba no último fim de semana, são mais um sinal de que o governo do país carece de legitimidade. Em Cuba, é o governo contra o povo, e, eis que, todos esses anos, os apologistas de Fidel, estiveram com o governo.

Eles romantizaram Fidel Castro, o pai fundador da junta de Cuba, engoliram sua propaganda, inventaram desculpas para isso, desviaram o olhar de seus crimes, e culparam a América pelos fracassos do regime.

Se os protestos continuarem em Cuba, haverá uma luta existencial entre pessoas nas ruas exibindo bandeiras americanas e gritando pela liberdade de um lado, e um sindicato do crime organizado que governa pela força do outro, e que há muito tempo detém o afeto da esquerda em todo mundo.

Durante sua campanha nas primárias presidenciais no ano passado, Bernie Sanders não desistiu de suas declarações de apoio ao regime de Fidel ao longo dos anos "- sim, o governo deveria ser menos autoritário, mas tem feito muito bem", disse. O cineasta Michael Moore fez um filme popular exaltando o sistema de saúde cubano, e no Brasil os partidos da esquerda apoiam abertamente o regime, posicionando-se contra as manifestações e acusando o bloqueio econômico dos Estados Unidos como a causa para as dificuldades financeiras de Cuba, usando da inversão da lógica em apoio ao ditador cubano.

O regime de Cuba há muito se beneficia da imagem romântica dos violentos revolucionários latino-americanos (Che Guevara é um mascote progressista onipresente), pelo fato de ser uma ditadura de esquerda, e não de direita, e  que sempre se alimentou de sentimentos anti-americanos.

As racionalizações para o regime são diminutas e enganosas.

Devemos acreditar que Cuba afundou no analfabetismo medieval, até a chegada de comunistas iluminados, que se preocupavam acima de tudo com o progresso social, e simplesmente prenderam, torturaram e mataram muitas pessoas para  ensinarem crianças a ler.

Não é verdade, porém, que Cuba era notoriamente analfabeta antes do advento da ditadura de Castro. Em 1960, a taxa de alfabetização era de cerca de 80%, alta para os padrões da época. Tampouco é correto afirmar, que Fidel tinha intenções benevolentes com sua campanha de alfabetização; o objetivo era tornar mais fácil disseminar  ao povo cubano sua propaganda comunista. A propósito, tem sido possível  para os países latino-americanos alcançarem a mesma pontuação  na alfabetização sem ter gulags a administrar.

E quanto aos avanços nos cuidados de saúde e em outras métricas?

O historiador econômico Brad DeLong observou que, em 1957, Cuba tinha mortalidade infantil mais baixa do que muitos países europeus,, mais médicos e enfermeiras per capita do que a Grã-Bretanha ou a Finlândia, e automóveis per capita quanto a Itália ou Portugal. Após décadas de desgoverno, seu PIB per capita se equipara ao da Mongólia e do Butão, de acordo com dados da CIA.

Isso sugere corretamente, que Fidel assumiu o controle de um país em boa forma e o destruiu, e não o contrário.

Os fracassos do governo são sempre justificados pelo  embargo dos Estados Unidos, sem o qual, supostamente, Cuba seria a única economia marxista da história do mundo capaz de entregar muito ao seu povo. Na verdade, a escassez é endêmica devido às ineficiências inerentes às economias planificadas. O embargo dos EUA é unilateral, e o governo cubano é especialista em evitá-lo. Não há muito que impeça Cuba de negociar com outros países ocidentais e comprar seus produtos, se o país artificialmente empobrecido puder pagá-los, é claro. (sua maneira característica de fazer negócios é comprar a crédito e nunca pagar).

Tudo isso sempre foi evidente, mas agora ainda mais. Há um movimento contra-revolucionário em andamento em Cuba, que é corajoso, inspirador e - espera-se -  democrático. É o povo cubano tentando reivindicar seus direitos contra a ditadura favorita da esquerda.

Traduzido e adaptado do original de Rich Lowry, editor da National Rewiel.