COVID é Chernobyl da China?
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COVID é Chernobyl da China?

À medida que experimentamos o impacto da pandemia no mundo, podemos especular sobre suas implicações para o regime chinês.

Sagran Carvalho
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Imagem: Reuters
Imagem: Reuters

À medida que experimentamos o impacto da pandemia no mundo, podemos especular sobre suas implicações para o regime chinês.

Há 35 anos o desastre nuclear de Chernobyl trouxe descrédito interno e externo ao inepto e corrupto regime soviético, sinalizando o fim da União Soviética. Em fevereiro de 2020, questionando se o surto de coronavírus, como o chamávamos à época, poderia significar uma condenação semelhante ao regime comunista da China. Embora ninguém tenha considerado adequado publicar o ensaio, os paralelos entre os dois desastres continuam a ser provocadores.

Foi em 26 de abril de 1986, que o reator número 4 da Usina Nuclear de Chernobyl, próximo à cidade de Pripyat ( atualmente na Ucrânia ), sofreu uma explosão massiva - grande o suficiente para explodir a carcaça de 2000 toneladas diretamente acima do telhado do prédio do reator. Mesmo assim, somente após a detecção de traços radioativos numa  precipitação, por uma instalação nuclear sueca no dia seguinte, é que os cidadãos soviéticos começara a ouvir o que tinha acontecido, por fontes estrangeiras - assim como o resto do mundo.

O número de mortes de curto prazo causadas pelo desastre ( aqueles que morreram imediatamente ou nas semanas e meses seguintes devido a radiação ), é de cerca de 54, e estimativas de mortes a longo prazo, como resultado à exposição à radiação variam amplamente, de milhares a dezenas de milhares, e até mais.

O desastre de Chernobyl custou ao regime soviético a perda de qualquer credibilidade que ainda tivesse junto aos seus cidadãos, e acabou por ser o último prego no caixão na imagem do comunismo soviético no exterior. Para o atual regime comunista chinês em Pequim, a crescente evidência de que o Covid não tem origens zoonóticas - que não saltou dos animais para os humanos - como ainda defendido pela China, mas que provavelmente vazou de um laboratório do Instituto de Virologia de Wuhan, aponta para a culpabilidade por um desastre global muito pior que Chernobyl: não seria irracional especular sobre suas implicações para a sobrevivência do regime.

Além disso, há evidências de que o regime encobriu a gravidade do surto na China, ao mesmo tempo em que permitiu que o vírus se propagasse para o exterior. Assim, também é possível especular que Pequim viu a crise da Covid não como uma tragédia, mas como uma oportunidade de perturbar economias e sociedades em todo o mundo, em benefício chinês.

O furor internacional sobre o Covid poderia chegar ao ponto de partidários de Xi Jinping decidam que ele é um bode expiatório conveniente e o expulsem? Dado que ele modelou seu reinado segundo um impiedoso governo de um homem só, com controle do poder ao estilo de Mao, isto parece improvável. Mesmo se acontecesse, o estado de vigilância total de Pequim impediria aos cidadãos chineses ter acesso a qualquer coisa parecida com a verdade sobre o que aconteceu em Wuhan e por que.

Quando aconteceu o desastre de Chernobyl, o regime soviético já se encontrava em seus estertores. Em contraste, a aposta da China por hegemonia global está apenas começando a crescer. É uma parte essencial da identidade do Partido Comunista Chinês, independentemente do que aconteça com Xi. A liderança chinesa está engajada em uma longa marcha rumo ao poder global desde que Mao Zedong chegou ao poder em 1949. Os sucessores de Mao, a começar por Deng Xiaoping, comprometeram-se de todo o coração com essa jornada épica.

Apesar das feições amigáveis que mostrou ao Ocidente, foi Deng quem primeiro descreveu as relações com os EUA como uma "guerra fria" e deixou claro para seus colegas, senão para o mundo todo, que o objetivo de suas reformas econômicas era voltado a "enriquecer o estado e fortalecer os militares". O que os ocidentais previram serem reformas para integrar integrar a China ao sistema econômico global eram, na verdade, medidas destinadas a dominar e controlar este sistema a fim de alcançar sua hegemonia.

Na década de 1990, o sucessor escolhido por Deng como secretário-geral do PCC, Jiang Zemin, lançou a China em um curso de intensificação militar; nas primeiras décadas deste século, Hu Jintao, projetou o estado de vigilância total de alta tecnologia na China, incluindo o Grande Firewall, e lançou uma ofensiva cibernética chinesa que roubou bilhões de dólares em propriedade intelectual de um mundo desavisado - a maior transferência de riqueza da história.

A grandiosa iniciativa Belt and Road de Xi e seu plano mestre Made in China 2025 estão apenas construindo a superestrutura que seus antecessores estabeleceram para tornar a China a superpotência dominante global por todos os meios necessários - possivelmente incluindo o uso ou o aproveitamento da pandemia de Covid como forma de prejudicar as economias rivais da China, especialmente os Estados Unidos.

De fato, o aumento das pesquisas chinesas sobre DNA Recombinante, conforme delineado no 14° Plano Quinquenal de desenvolvimento de Xi, pode sinalizar o interesse de Pequim em explorar um agente ainda mais virulento como arma biológica em potencial.

É de se esperar, porém, que o mundo tenha tirado as lições de Chernobyl, que revelou a falência moral do regime que permitiu que isso acontecesse e, em seguida, tentou encobri-la. A Covid, por sua vez,  nos ensinou uma lição séria sobre os riscos que todos corremos ao colaborar ou apaziguar Pequim.

Três milhões de mortos, dezenas de trilhões de dólares perdidos em todo o mundo: é um preço terrível a pagar por ignorar a ameaça presente e futura representada por um regime obcecado pelo poder.

Artigo escrito por Arthur Hermann  membro sênior do Hudson Institute, é o autor de DOUGLAS MACARTHUR: AMERICAN WARRIOR  e THE VIKING HEART: HOW SCANDINAVIANS CONQUERED THE WORLD (a ser publicado por Houghton Mifflin Harcourt), traduzido a adaptado  por Café no Front.

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