A música e eu
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A música e eu

"O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem" (Guimarães Rosa)

Carolina Inez
2 min
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"O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem" (Guimarães Rosa)

Minhas memórias mais antigas tem a ver com música. Seja dançando, cantando ou compondo musiquinhas infantis que eu jurava que fariam um sucesso enorme no futuro. Seja ouvindo, quieta, prestando atenção nas letras, imaginando futuros possíveis e impossíveis, sonhando... O que importa é que ela sempre esteve lá. 

Nem sempre eu soube o que fazer com isso, de que forma ela estaria presente na minha vida, mas sabia que ela era a resposta de tudo: a razão pra eu estar no mundo. O meu amor mais antigo. 

Passei por diversas fases com a música. Confesso que em boa parte da minha vida, a minha relação com ela foi passional: era amor e fim. Não pensava muito sobre isso. Sabe quando você está apaixonado por alguém e nem sequer pensa nas questões práticas? Será que essa pessoa vai ser boa companheira no futuro? É confiável? E toda a parte de construir e cuidar de um relacionamento que vai muito além da paixão...

Bom, a minha relação com a música foi assim por muito tempo. Depois a lua de mel acabou. Descobri que a música era muito além de paixão e sentimento: era trabalho duro, era estudo, era racional também. Era cheia de dificuldades, era cheia de montanhas a serem escaladas. E doeu: a música era dor também. Exigia um esforço enorme, exigia suor. E até entendermos o equilíbrio em que ela repousa suave, é um parto: até hoje tô nessa. Acho que sempre vou estar. 

Acho que, no final das contas a música exige vontade e coragem (e isso não vale só pra música, mas acho que pra tudo): vontade é o prazer, é a razão pela qual faço música. É a paixão. Canto, portanto existo. Canto porque preciso. Já a coragem é o esforço: é o trabalhar duro, é dar tudo de si: tempo, energia. É se expor, passando por cima dos medos, das inseguranças. É dar tanto sem nem saber o que te espera do outro lado da montanha que você tá escalando. 

Recentemente, disseram que minha música não tava pronta. E quer saber? Não tá mesmo. E é aí que é preciso ter coragem. Porque talvez ela nunca esteja pronta. Para os meus medos, ela nunca vai estar. Então, quem eu vou escutar? Por agora, tô escolhendo ouvir a parte de mim que diz: fecha os olhos e vai. 

Amanhã, não sei ... (nem sempre a coragem está afiada, né?). Mas isso são cenas dos próximos capítulos...