“Pois havia num fundo de mar uma colônia de ostras, muitas ostras. Eram ostras felizes. Sabia-se que eram ostras felizes porque de dentro de suas conchas saía uma delicada melodia, música aquática, como se fosse um canto gregoriano, todas can...
“Pois havia num fundo de mar uma colônia de ostras, muitas ostras. Eram ostras felizes. Sabia-se que eram ostras felizes porque de dentro de suas conchas saía uma delicada melodia, música aquática, como se fosse um canto gregoriano, todas cantando a mesma música. Com uma exceção: de uma ostra solitária que fazia um solo solitário. | ||
Diferente da alegre música aquática, ela cantava um canto muito triste. As ostras felizes se riam dela e diziam: “Ela não sai da sua depressão…”. Não era depressão. Era dor. Pois um grão de areia havia entrado de sua carne e doía, doía, doía. E ela não tinha jeito de se livrar dele, do grão de areia. Mas era possível livrar-se da dor. | ||
O seu corpo sabia que, para se livrar da dor que o grão de areia lhe provocava, em virtude de suas asperezas, arestas e pontas, bastava para envolvê-lo com uma substância lisa, brilhante e redonda. Assim, enquanto cantava seu canto triste, o seu corpo fazia o trabalho — por causa da dor que o grão de areia lhe causava. | ||
Um dia, passou por ali um pescador com o seu barco. Lançou a rede e toda a colônia de ostras, inclusive a sofredora, foi pescada. O pescador se alegrou, levou-as para casa e sua mulher fez uma deliciosa sopa de ostras. Deliciando-se com as ostras, de repente seus dentes bateram num objeto duro que estava dentro de uma ostra. Ele o tomou nos dedos e sorriu de felicidade: era uma pérola, uma linda pérola. | ||
Apenas a ostra sofredora fizera uma pérola. Ele tomou-a e deu-a de presente para a sua esposa”. (Rubem Alves, Ostra feliz não faz pérola, ed. Planeta) | ||
Somos cartas vivas que se comportam como ostras felizes. Fugimos da dor e de tudo que ela representa. No entanto, ostra feliz não faz pérolas! A beleza de viver está em contornar a dor com uma capa lisa, brilhante e redonda, mesmo que o canto seja triste, mesmo que o dia esteja cinza, mesmo que não seja possível se livrar do que causa a dor. | ||
Produza suas cartas pérolas com a dor do hoje. Não fuja dela. | ||
A riqueza está na permanência, continue cantando! | ||
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