Carta serviço
Carta serviço | ||
Era segunda 6h30, ela acordou sem vontade de levantar. O dia anterior fora cansativo e desgastante, terminando com uma discussão sem o menor fundamento para virar a guerra que virou com o marido. Os pensamentos estavam a mil, mas o corpo não acompanhava, a letargia tomava conta e os filhos já estavam de pé ao lado da cama. | ||
Olhou as crianças que sorriam chamando para levantar, queriam a mamãe. Ela se colocou de pé, abraçou as crianças e foram todos para a cozinha. A menor com 4 aninhos e o maior com 7, faziam brincadeiras com os utensílios que estavam pelo balcão, inventando histórias e encenando tudo. O marido saiu para trabalhar e só voltaria de noite. | ||
A casa estava de pernas para o ar, tinha muita coisa por fazer, roupas para lavar e ainda ir ao mercado comprar a “mistura” da semana. Os pensamentos logo se dissiparam e ela pôs-se a trabalhar: fez o café da manhã, organizou a casa, recolheu brinquedos com as crianças ajudando, ora um choramingava, ora o outro encrencava com o irmão, e ela parava tudo para ajuizar a situação. | ||
O dia correu tão rápido que a hora da soneca pós almoço chegou sem ela perceber, quando piscou novamente o marido estava de volta. Parecia que o dia tivera 30 horas, na hora de dormir, com todos na cama, ela revisou a casa e todas as pendências para o dia seguinte. | ||
Deitada na cama percebeu que aquele sentimento de letargia e desânimo da manhã já não existia. O que sentia agora lembrando do dia, das peripécias das crianças, da comida e lanchinhos, do passeio na rua de casa no fim do dia, das tarefas por fazer, da chegada do marido, do jantar tranquilo, das louças na pia, e de tantas outras preocupações cotidianas, era gratidão e alegria. | ||
Ela sobreviveu. Ela levantou e fez o que precisava ser feito. Enviou sua carta de serviço. A vida é uma carta e não um conjunto de páginas legais que sempre terão algo de incrível ou espetacular. Alguns dias serão absolutamente ordinários e o serviço estará presente em todos eles. O serviço salva. | ||
Somos todos cartas vivas. Quem você precisa servir? O serviço ordinário e rotineiro faz bem para alma de qualquer carta. Viva para servir. Sirva para viver! | ||
|