Reinvenção

A vida só é possível

reinventada.

Anda o sol pelas campinas

e passeia a mão dourada

pelas águas, pelas folhas...

Ah! tudo bolhas

que vem de fundas piscinas

de ilusionismo... — mais nada.

Mas a vida, a vida, a vida,

a vida só é possível

reinventada.

Vem a lua, vem, retira

as algemas dos meus braços.

Projeto-me por espaços

cheios da tua Figura.

Tudo mentira! Mentira

da lua, na noite escura.

Não te encontro, não te alcanço...

Só — no tempo equilibrada,

desprendo-me do balanço

que além do tempo me leva.

Só — na treva,

fico: recebida e dada.

Porque a vida, a vida, a vida,

a vida só é possível

reinventada.

(Cecília Meireles, 1942, livro Vaga Música)

Somos cartas vivas. A vida só é possível reinventada. O poema de Cecília nos diz a verdade mais absoluta da vida — você pode reinventar a história. Começar de novo. 

Reinvente a sua carta: após os desencontros, mergulhos na ilusão, na desilusão, nas mentiras ou realidades. Reinvente a sua mensagem. Envie novamente a carta. Reinvente a data.

Uma antiga sabedoria diz: “O choro pode durar a noite inteira, mas a alegria vem pela manhã!” Lendo Cecília lembro dessa sabedoria: A alegria — reinvenção — vem pela manhã!

“Porque a vida, a vida, a vida, a vida só é possível reinventada.”

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