A vida é mesmo um sopro?
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A vida é mesmo um sopro?

Chegamos a mais um periódico semanal.

Vinícius Borges
5 min
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Chegamos a mais um periódico semanal.

Dessa vez, a sugestão nos stories foi conversarmos um pouco sobre o acontecimento da última semana. Você sabe... sobre o falecimento da cantora Marília Mendonça e a frase que ecoou nas redes sociais: “a vida é um sopro.”

E bem… se a conversa é sobre a morte ou o suposto sopro da vida, não espere que eu te arranque sorrisos, tampouco te sirva minhas doses geladas de ironia.

Espero hoje, distribuir um pouco de sal sobre suas feridas, assim como farei com as minhas.

No final, esse texto talvez machuque ambos. Torço para que pelo menos, você saia daqui curado.

Era sexta-feira, dia 05, quando eu estava finalizando meu treino na academia. Estava no final de um exercício de panturrilhas, o famigerado: treino mais chato do mundo.

Com frequência, olhava para a porta só pra ver se a chuva já tinha começado ou se eu avistava uma desculpa para finalizar o treino antes da hora.

Entre uma série e outra, puxo o celular e me deparo com a notícia do acidente do avião de Marília Mendonça passando pelo feed do facebook.

Alguns minutos depois, a confirmação da morte.

Logo ao chegar em casa, uma mensagem toma conta das redes sociais:

"A vida é um sopro."

  • A mesma mensagem que surgiu após a morte de Paulo Gustavo;
  • A mesma mensagem que surgiu após a morte de Tarcísio Meira;
  • A mesma mensagem que surgiu após a morte de diversos artistas.

Só que dessa vez, resolvi acompanhar o movimento com mais atenção e embora estivesse comovido com o ocorrido, tentei me manter, de certo modo, mais analítico. Foi assim…

...Que eu percebi algo interessante.

A gente tem um medo danado de morrer, né?

Como Machado de Assis fala em Memórias póstumas de Brás Cubas:

“Eu que meditava ir ter com a morte, não ousei fitá-la quando ela veio ter comigo.”

Temos tanto medo, que resolvemos nem pensar. Nos esquivamos do assunto como um amontoado de minhocas costuma deslizar umas sobre as outras para fugir da mão do pescador.

Vivemos dando tapas na fronte do nosso pensamento toda vez que ele ousa trazer à tona a morte. Já percebeu isso?

Na casa dos meus pais, quando meu pai “brinca” com esse tema, a mãe já interrompe imediatamente o assunto com um… NÃO FALA BOBAGEM!

O semblante muda. Os olhos caem. Os sorrisos largos ficam amarelos e fechados em instantes.

Tudo muda quando a morte chega. Seja ela uma verdade ou uma palavra.

Quando uma celebridade se vai, voltamos a olhar para a morte em maior escala. O problema, é que o único impulso, na maioria das vezes, é o medo.

Compartilhamos algumas mensagens com o fundo preto e as letras brancas, ficamos reflexivos e… bem, parece que não é só a vida que é um sopro, né? Cabou.

Alguns dias depois, voltam as reclamações, voltam as mentiras, volta a inveja, voltam as sujeiras da nossa alma....

Tudo aquilo que alimenta nosso medo da morte, volta.

E por algum motivo, abraçamos essa sujeira permitindo que ela turve nossa visão e não nos deixe ver que… se a vida é um sopro, a morte é um furacão.

Um furacão arrasador que não conseguimos controlar. Ele chega, leva o que tem que levar, e ficamos — ou vamos.

Se ficamos, ficamos com lembranças.

Se vamos, há um destino para nossa alma — e eu respeito se você acredita que acabou aqui.

De qualquer forma, se ficamos ou se partimos, é incontestável a necessidade de preparo para enfrentar a morte:

E esse preparo só vem quando olhamos para aquilo que temos controle: nossas ações em vida.

E quando aceitamos aquilo que é imutável: a ordem natural das coisas.

Um dia, tudo acabará. Será o último sorriso, a última mensagem no whatsapp e a última viagem.

Um dia, será a última pizza, o último meme enviado e o último entrelaçar de dedos.

Um dia, o aperto no peito será tão forte que as lágrimas irão escorrer copiosamente pelo seu rosto buscando trazer pra fora aquilo que não cabe mais aí dentro.

Talvez você esteja lembrando de algumas pessoas. Lembrando do quanto as ama e as quer para sempre por perto. É normal, eu também estou. Inclusive, uma delas está nos meus pensamentos e deitada do meu lado enquanto eu escrevo para você.

Ao mesmo tempo, lembro daquelas que já partiram. Lembro da dor, mas também lembro da mansidão que habita meu coração em lembrar que... vivemos o que tínhamos para viver juntos. Entre os apertos da vida, sorrimos e fomos felizes. Fomos felizes.

A vida é assim: volátil. Sempre a uma faísca de dar uma virada surpreendente rumo à vitória ou deixar você de joelhos lamentando a dor de perder alguém.

Se ela é um sopro, eu não sei, talvez seja.Só sei que me esforço para tornar esse sopro marcante aos que me rodeiam.

Para que a minha vida seja um sopro sincero. Um sopro de amor e entrega.

Que eu abrace com força diariamente minha responsabilidade de servir quem está à minha volta. De ser útil, prestativo e um porto seguro para os meus. Porque afinal, é isso que restará quando Deus determinar que acabou: nossas escolhas.

A boa notícia é que enquanto há fôlego, há tempo de escolher uma vida sem margem para arrependimento e revoltas sobre as perdas. Você pode escolher essa vida agora mesmo, ao terminar de ler esse e-mail.

Uma vida onde, a certeza da sua entrega ofusca o medo da suposta perda.

Onde tudo que foi construído, jamais poderá se perder em final algum.

Se a vida terrena é um sopro, sopre bondade à sua volta. Porque é esse sopro que purificará seus pensamentos no dia mau.

“Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.”

Por hoje é só. Espero que você tenha gostado do periódico de hoje e que essa semana seja proveitosa para você.

Um forte abraço,

Vinícius Borges.