Como vim parar na França uma semana antes do previsto

No começo da quarentena, bem na segunda semana, minha mãe teve a brilhante ideia de comprar passagens para família inteira ir para Disney em outubro. Ela tinha certeza de que a pandemia, até lá, já teria acabado, e que daria tudo certo para gente viajar. Tinha até uma promoção muito boa no site da MaxMilhas, e todo mundo comprou, até mesmo o lado da família do meu cunhado.

Em junho, conversei com a minha mãe sobre minha mudança e decidi que achava que o mais seguro seria me mudar em novembro, e que eu estava planejando comprar minhas passagens como presente de aniversário para mim mesma (meu aniversário é dia 13/07). Dava tempo de ir pra Disney, voltar, fazer minhas malas e despedir dos meus amigos. Perfeito.

Claro que logo na época do meu aniversário a nossa ficha caiu. Não teria viagem para Disney.

Então, minha mãe teve a brilhante ideia de pegar a passagem para Orlando e trocar pela passagem para Paris, e eu ia pagar só a diferença. Foi quando nossos problemas com a MaxMilhas começaram.

Para quem nunca teve que lidar com eles, primeiramente, eu espero que você nunca tenha que lidar na sua vida. Eles têm o pior atendimento do mundo. Demoram dias para responder um email, dão voltas e voltas quando você faz uma pergunta simples, e eu tenho a impressão de que todas as pessoas do atendimento ao cliente deles foram treinadas para não resolver os seus problemas de propósito.

Bom, eles acharam um voo para mim, São Paulo - Paris, bem na data que eu queria, me mandaram o valor que eu deveria transferir e a conta, porque as tarifas eram diferentes, eu transferi e... Eles sumiram! Pararam de responder nossos e-mails, não respondiam no Instagram, não tem um telefone para contato, nos deixaram completamente sem resposta por duas semanas. Duas semanas! Eu tive que apelar no Instagram, postar stories reclamando, comentar nas fotos, até que um dia eles simplesmente mandaram um e-mail com as informações da passagem emitida e pronto. Pior experiência com o cliente da vida.

Bom, passagem emitida, meu plano era chegar em Paris dia 1° de novembro, ficar na casa de um amigo na primeira semana, alugar um airbnb por uns dias e depois viajar para Londres a trabalho.

Eu organizei minha vida para trabalhar até o dia 20 de outubro em Belo Horizonte, depois descansar por alguns dias e viajar para São Paulo no dia 25, para passar alguns dias com os meus sobrinhos.

Como eu estava muito ansiosa para viajar e, ao mesmo tempo, minha agenda estava cheia no mês que antecedia a mudança, decidi começar minhas malas em setembro. Coloquei todas as minhas roupas em uma mala e pesei, para decidir se eu precisaria levar uma ou duas bagagens extras - válido mencionar que eu comprei minha passagem sem direito a nenhuma bagagem porque, segundo a minha mãe, era mais barato comprar separadamente depois. A mala ficou com apenas 17kg, com as minhas roupas, e o peso máximo são 23kg, então decidi que seria melhor levar duas, só para garantir. 

Durante o mês de setembro eu tentei, sem sucesso, comprar minhas bagagens extras pelo aplicativo da companhia aérea. Toda vez dava um erro e a página não carregava, mas eu acabava deixando para depois, a viagem ainda estava longe e eu tinha outras coisas mais importantes pra fazer na minha lista de tarefas.

No dia 08 de outubro, eu decidi que eu finalmente precisava parar de enrolar e comprar as bagagens extras. Tentei de novo pelo aplicativo, não funcionou. Decidi tentar pelo site, mas acontecia o mesmo erro. Minha mãe comentou que já tinha comprado bagagens extras pelo telefone, então eu liguei. Uma voz automática, óbvio, me disse que a fila de espera era de 40 minutos. Decidi esperar, né? Fazer o que?

Deixei o telefone do meu lado, no viva voz, enquanto fazia outras coisas, até que de repente ouvi o "alô" do mocinho no outro lado da linha.

"Oi, boa tarde, meu nome é Clarice. Eu estou tentando comprar minha passagem (não seria bagagem?) pelo aplicativo de vocês têm alguns dias, mas fica dando erro. Será que você consegue me ajudar?"

O mocinho, Juan, pediu o número da reserva e disse que ia conferir para mim.

"Então, Clarice, você não ia conseguir comprar nunca suas bagagens porque seu voo foi cancelado."

Eu juro que foram essas as palavras, e ninguém nem me ligou para avisar! 

Tudo bem, sem pânico, eu imaginava que isso poderia acontecer mesmo, estamos no meio de uma pandemia de toda forma. Perguntei ao Juan qual seria o próximo voo possível, porque eu realmente precisava chegar antes de dezembro, e ele conferiu todas as datas do dia 09/10 ao dia 31/12 comigo no telefone. Não existia nenhum voo.

Eu entrei no google flights, ainda no telefone com ele, procurei voos do Brasil para a França por qualquer companhia aérea e, realmente, não existia nenhum!

“Olha, você pode ligar todos os dias e, se surgir algum voo, nós vamos te realocar!”

Eu agradeci e desliguei.

Eu estava preparada para a possibilidade do meu voo ser cancelado mas, por pura ingenuidade, eu nunca imaginei que eu não conseguiria achar outro voo. Ok, e agora?

Lembrei que, dias antes, uma amiga, que mora em Porto, tinha me mandado mensagem falando que queria me ver quando eu me mudasse para Paris. Joguei no google flights e, graças à Deus, tinham vários voos disponíveis. Portugal não fechou as fronteiras para o Brasil.

Decidi mandar uma mensagem.

“Oi, meu voo foi cancelado e pensei em ir pra Portugal e daí ir para a França. Me recebe na sua casa semana que vem?”

Ela disse que sim! Mara.

Liguei na companhia aérea para ver quanto eu teria que pagar para trocar minha passagem de Paris para Lisboa.

Mais 40 minutos de espera, dessa vez uma mocinha me atendeu, expliquei que meu voo tinha sido cancelado e eu queria trocar a passagem, blá blá blá, ela pediu a reserva, e daí recebi a segunda bomba:

“Sua passagem foi comprada pela MaxMilhas né? Só eles podem pedir para fazer alterações, você não consegue fazer diretamente com a gente."

Pê. Quê. Pê.

A MaxMilhas nunca ia resolver o meu problema ainda esse ano. As fronteiras iam fechar, abrir e fechar de novo no tempo que eles levariam para responder um e-mail, e se dependesse deles, com sorte, eu me mudaria em março de 2021.

Eu mandei mensagem para um amigo, desesperada, implorando por socorro, e sem saber o que fazer. Ele me deu a solução mais simples do universo, que eu, muito cega pelo meu desespero, não conseguia enxergar sozinha.

“Compra outra passagem e pede o reembolso dessa. Você vai demorar pra receber seu dinheiro de volta, mas vai conseguir viajar a tempo.”

Dã! Simples né? E ainda me passou o telefone de uma agência de viagens muito boa que poderia me dar suporte caso meu voo fosse cancelado de novo. (@newtripviagens no Instagram. O serviço deles é incrível).

Em resumo, eu comprei outra passagem, para o dia 16 de outubro, para Lisboa e depois para a cidade do Porto. De Porto eu me resolveria. Inclusive, não tive coragem de comprar a passagem para França até chegar em terras portuguesas, de tanto medo que eu estava de que esse voo também fosse cancelado.

Adiantei todos os meus compromissos possíveis (clientes, cabeleireira, tatuadora, festa de despedida) para os próximos cinco dias e vivi igual uma barata tonta até, finalmente, chegar a hora do meu voo.

E cá estamos nós. Eu, escrevendo isso dia 2 de novembro, sabendo que se meu voo tivesse sido mantido para antes-de-ontem eu nunca teria chegado aqui, porque a França entrou em confinamento dia 30 de outubro. E você, lendo isso, sabendo que eu já estou aqui tem mais de uma semana, mas sem saber dessa confusão toda.

É aquela máxima, quem vê close não vê corre. E não compre na MaxMilhas. E continuo aguardando o meu reembolso...