Problemas de primeiro mundo: eu preciso de uma rehab do meu celular
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Problemas de primeiro mundo: eu preciso de uma rehab do meu celular

Clarice Naddeo
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Eu sou completamente viciada no meu celular, ao ponto de deixá-lo o tempo todo no silencioso porque eu estou sempre com ele na mão, então não preciso que ele toque para saber que eu recebi uma mensagem ou alguém está me ligando. 

Não acho que sempre foi assim e também não sei dizer quando começou, mas posso afirmar com tranquilidade que essa necessidade de estar online o tempo inteiro se instalou com sucesso durante o primeiro confinamento. Minha principal desculpa era trabalhar como social media na época, então metade do tempo eu sentia que precisava produzir conteúdo e a outra metade eu consumia conteúdo dos outros porque não tinha muita coisa para fazer trancada dentro de casa. 

Agora que eu estou na França e não estou trabalhando, eu decidi abrir mão do hábito de estar com o meu celular na mão o tempo inteiro. Não apenas isso, eu avisei meus amigos e família, desliguei o meu celular e guardei na bolsa. Por no mínimo uma semana. 

Ontem foi o primeiro dia. Eu acordei 8h da manhã com o despertador tocando, peguei o celular e fiquei na cama até 11h da manhã. Eu estava mexendo no instagram, conversando no whatsapp, e a Larissa estava me contando que ia tirar férias em dezembro e queria ficar uma semana longe do celular dela. Eu percebi que passei a manhã inteira no meu, sem nem levantar da cama para comer, dar bom dia para as outras pessoas, fazer xixi! Fiquei com vergonha do meu vício. Foi quando eu decidi desligar o celular. 

Cenas reais de quando decidi ficar uma semana sem celular
Cenas reais de quando decidi ficar uma semana sem celular

Eu levantei, arrumei a cama, abri a janela e vi que o dia estava lindo. Dei uma leve lamentada de ter passado a manhã enfiada com a cara numa tela, mas tudo bem. 

Vim para a sala, onde a Justine estava assistindo desenho animado. Nós assistimos desenho animado quase todas as manhãs, inclusive enquanto escrevo isso estamos assistindo. Não se enganem, eu tenho 24 e ela tem 27 anos, mas o que mais a gente assistiria de manhã? 

Como o dia estava lindo, a mãe da Coraline decidiu que íamos almoçar no jardim, tomando um solzinho. Ficamos comentando sobre o clima desse ano, porque no meio de novembro não deveria fazer calor o suficiente para comermos ao ar livre, e sobre política, que é um dos assuntos favoritos da casa. 

Depois do almoço todo mundo foi trabalhar, eu e Justine ficamos no jardim até umas 15h jogando conversa fora até começar a bater um ventinho gelado e decidirmos entrar. Estava passando um filme de natal na televisão, ficamos assistindo enquanto eu fazia as unhas, depois eu li alguns capítulos do meu livro (O Crime do Expresso Oriente, mas em francês para praticar) e começou a me dar sono, quando eu decidi então colorir para me manter acordada. 

A Coraline tem aqueles livros de colorir para adultos, então eu pedi emprestado e fiquei sentada na sala colorindo enquanto assistiamos um comunicado do primeiro ministro sobre o confinamento. Já eram mais de 18h, os pais da Coraline chegaram em casa depois do trabalho, logo depois a Cora terminou de trabalhar também e ficamos todos na sala batendo papo. 

O jantar ficou pronto e nós comemos enquanto comentávamos as notícias que passavam no jornal, o que eu acho muito bom para conhecer palavras novas e expandir o vocabulário! Depois tivemos uma discussão (amigável) para tentar descobrir um filme que os cinco teriam vontade de assistir, que resultou nos pais da Cora indo dormir, deixando nós três no sofá debaixo da cobertinha assistindo New Girl e tomando chá de verbena. Fomos dormir quando já estávamos caindo de sono.

Conclusão: não foi um dia incrível super interessante, mas eu provavelmente teria entrado depois do almoço para buscar meu celular, ficado no celular até a hora do jantar e pegado o celular de novo depois de comer. 

E digo mais! Eu fiquei tanto tempo ontem falando em francês, pensando em francês e assistindo coisas em francês (os franceses tem o hábito de assistir tudo dublado) que eu estou tendo MUITA dificuldade de escrever esse texto porque mal consigo lembrar das palavras e expressões direito. 

Eu estou curiosa para saber o que está acontecendo no meu whatsapp? Sim. 
Eu tenho vontade de pegar o meu celular só para dar uma checadinha? Também. 
Eu acho que eu vou conseguir ficar uma semana sem o meu celular? Talvez. 

Amanhã, se tiver algo interessante para escrever, eu escrevo de novo.
*Esse post é especialmente para a minha mãe que queria que eu mandasse e-mails para ela todos os dias, porque ela disse que fica com muitas saudades. Te amo, mami.