Tem um mês que eu cheguei aqui

Hoje faz exatamente um mês que eu voltei para França. Também faz praticamente um mês que eu estou confinada, e é o primeiro dia que está fazendo realmente frio. Frio nível eu abri a janela por cinco segundinhos e estava saindo fumacinha da minha boca, lá fora está totalmente nublado e o aquecedor vai ficar ligado o dia inteiro. 

Confesso que estou sentindo mixed feelings hoje. 

Vou começar com a parte dos sentimentos ruins para acabar logo com isso.
Estou um pouco frustrada porque eu ainda não comecei e não sei quando vou começar a trabalhar. Eu fico procurando formas que eu possa me sentir produtiva, como estudar francês, ler minha bíblia, qualquer coisa! Mas o que eu quero mesmo é poder trabalhar. 

Também estou com um pouco de medo. Sei dos riscos que eu assumi ao vir para cá em plena pandemia e sei que estou completamente fora da minha zona de conforto. Acho que nesse caso é simplesmente humano sentir medo, então tudo bem. Se eu não estivesse me sentindo assim, talvez eu marcaria uma consulta com um psiquiatra para ver se tem algo de errado na minha cabecinha. 

Agora para a parte boa.
Estou me sentindo muito abençoada. Já tem um mês que eu estou aqui! Passou tão rápido! Meu francês já melhorou absurdamente muito, embora ainda tenha também um monte para melhorar. Eu já comi tudo o que eu sentia falta, já até engordei um pouco! Eu esperei tanto por esse momento e não apenas chegou, como já tem um mês! Às vezes tenho que me beliscar para ver se não estou sonhando. 

Apesar da frustração de não poder trabalhar ainda, minha cabecinha ficou aliviada com isso. Eu trabalhei loucamente durante um ano, fiquei doente várias vezes porque eu me recusava a descansar e meu corpo não aguentava mais. Agora eu estou muito mais tranquila, mais preparada, minha mente está vendo as coisas com um pouco mais de clareza e minha ansiedade já está bem mais controlada. 

E por fim, estou me sentindo muito grata. Por poder chegar aqui e não ter que ficar morrendo de preocupação com o confinamento, com o meu desemprego temporário, em pagar aluguel etc. Eu reconheço o meu privilégio de estar aqui e, principalmente, de ter sido acolhida por uma família tão fofa e incrível que me permite ter uma fase de adaptação tranquila e um respiro nesse momento em que tudo está uma loucura. 

É muito doido finalmente estar aqui. Talvez a minha ficha esteja começando a cair que eu não vim só passar férias, que eu vou poder ver minhas amigas daqui com frequência, que eu vou viver morrendo de saudades da minha família e dos meus amigos no Brasil, que eu realmente fiz essa loucura e vim para cá depois de querer e planejar por tanto tempo! 

Agora posso dizer com tranquilidade que eu vim na hora certa, simplesmente porque a hora certa é a hora que nós fazemos as coisas. Se Deus me permitiu estar aqui, depois de tanto ter orado diga-se de passagem, eu tenho confiança de que faz parte do meu propósito ter vindo para cá neste momento. Nossa vida aqui é muito curta para não seguir nossos sonhos.