É muito gostoso quando a felicidade do outro lhe faz bem, e quando alguém é feliz por lhe ver bem.
Difícil compartilhar um fardo desse... | ||
Lidaria com ele e seus conflitos. Iria onde fosse preciso e falaria com quem fosse necessário, menos com as pessoas do meu convívio, elas já têm seus fardos. | ||
Mas quando encontrava cada uma delas, era como se traísse nossa relação, pois a maioria são pautadas em confiança, companheirismo e provavelmente superamos algo juntos. | ||
Ficariam chateados, não contar com eles diante dessa dor. | ||
Agradeço sempre a Deus, tenho bons amigos... alguns deles posso chamar de irmãos. | ||
Considerando o que já foi escrito... | ||
"Em todo tempo ama o amigo, mas na angústia, nasce um irmão." | ||
Não importa se eu socorri ou se fui a socorrida, o que alicerça isso é a confiança. | ||
No ajudado em confiar sua dor a outrem, e no que ajuda em acreditar no outro ao ponto de dedicar seu tempo, participar de uma situação que não é sua, mas que ao final, quando o problema é passado, o gostinho da vitória pertence aos dois. | ||
É muito gostoso quando a felicidade do outro lhe faz bem, e quando alguém é feliz por lhe ver bem. | ||
Ah! Um bom exemplo disso é Rivia, a última pessoa com quem eu queria compartilhar esse fato. | ||
Há cerca de oito anos... | ||
Lembra do Groupon? | ||
Então, ela viciou nele... | ||
Trabalhávamos juntas, passávamos manhã, tarde e início da noite juntas, trabalhando, o dia inteiro. | ||
Num dos nossos finais de tarde. Ela no computador, olhando seus e-mails enquanto abria os sistemas de informação para começar suas análises, isso demorava um tiquinho, a internet não colaborava... recebeu as "tentações do Groupon". | ||
- Ai meu Deus! Meri! Carteira de Motorista, tá em promoção. Que desconto bom! Meu Deus! Quando tirei a minha paguei tão caro. | ||
- Pois é amiga, mas você já tem a sua. | ||
- Mas você não! | ||
- Tá louca?! Não inventa. Isso não está na minha programação, não cabe no meu orçamento. | ||
- Parcela em seis vezes! | ||
- Rivia, não. Não tenho como pagar isso agora. | ||
Na verdade, eu tinha um trauma enorme. Dez anos antes disso, uma das minhas tias, quando trocou seu fusca por um Pálio, ficou tão empolgada, tinha que me fazer parte da realização desse sonho. | ||
- Meri, vamos ali. | ||
- Sério? Tá tão bonzinho aqui. | ||
Naquela época me tirar do meu conforto era uma novela. | ||
- Vai menina. Levanta logo. | ||
- Ah! Meu Deus... | ||
Fomos, e quando chegamos na primeira ladeira, ela desceu do carro, e me fez trocar de lugar com ela. | ||
- Meri, é muito bom dirigir. Tu vai amar! | ||
- Sei, mas dá pra lembrar que não sei nada? | ||
- Eu sei menina, por isso vou te ensinar. | ||
Ela me superestimou. Começou me ensinando a fazer meia embreagem. | ||
E o pior, enquanto estava ali, sendo orientada. Um cachorro de rua, veio e deitou na frente do carro. | ||
Me desesperei. Agora eu tinha dois medos. Encarei o primeiro, que foi da pane que consegui causar no painel do carro e o segundo, de quase assassinar o desavisado que ignorava o nosso desespero. O cachorrinho, estava lá "de boa". | ||
Minha tia, pouco conhecia do seu carro novo, teve que voltar na concessionária para aprender sobre o painel. Eu, me senti super culpada. Mas ainda assim, demos muitas risadas dessa cena. | ||
Voltando ao Groupon... | ||
- Passou! Parcelei em seis vezes. | ||
- Rivia! Pra quê vou tirar carteira de motorista? Nem carro tenho? Vou ficar de carteira guardada. | ||
- Oxe! Tu num crê? Tu vai ver, no máximo um mês depois que tu tiver com a provisória na mão, teu carro vai chegar. | ||
- Sei nem como vou te pagar. | ||
- Nem me preocupo com isso, eu sei que vai. | ||
Meu Deus! Essa era a última coisa que eu planejaria naquela época. Tinha a graduação - Análise de Sistemas - pra concluir, no último período, só tinha cabeça para o TCC e aguentar um professor que chegou querendo que escrevêssemos os códigos, com papel e caneta. Por mais que lhe disséssemos que para programar precisávamos de um computador, ele não cedeu, destacou o que queria: que aprendêssemos a linguagem. Louco! Mas conseguimos. | ||
Então, chegaram as aulas. Teóricas e práticas. | ||
E Rivia acompanhava todo o processo, como se fosse ela. Pois cada momento que eu encarava, ela lembrava como tinha sido com ela, e torcia pelo meu sucesso em tudo. | ||
- Eu fui muito bem nisso... Tu também vai ser - Falava confiante. | ||
Enfim, chegou o bendito dia da prova prática. | ||
Ela na linha, pelo celular, tão nervosa quanto eu. E destacando: você vai passar! | ||
Não passei na primeira. Mas ela não desanimou, já sai de lá com tudo remarcado para próxima tentativa, e isso seria em breve, graças a assessoria dela. | ||
Voltamos à prova... | ||
- Meri, você já passou. Você será a mais nova habilitada! | ||
Conheci duas pessoas lá, uma estava na quinta tentativa, a outra já tinha perdido as contas. Eu, estava ali pela segunda vez, será que essa realmente seria a última? | ||
Não importa. Minha amiga, estava lá, do outro lado da linha torcendo por mim, acreditando em mim, e pronta para comemorar. | ||
Quando terminei e escutei o instrutor dizer: "Aprovada!" | ||
Saí de lá... | ||
Imagine a euforia das duas: | ||
- Amiga, passei! | ||
- Eu sabia! Eu num falei?! Olha aí! Tá vendo? Agora você é uma mulher habilitada! | ||
No mês seguinte, minha provisória chegou e da janela da minha sala, eu olhava meu carro vermelho estacionado na porta de casa, lembrando do dia que ela falou: | ||
- Assim que você pegar sua carteira, seu carro vai chegar. | ||
Eu tinha ela torcendo por isso, e a minha vizinha de baixo, que todas as noites ao me ver chegar em casa de carona repetia... | ||
- Logo, logo, você estará com seu carro. | ||
- Nossa! A senhora crê nisso? | ||
- Creio sim, minha filha. Gosto muito de você, vejo seu esforço todos os dias, tenho certeza que Deus também ver. | ||
A intercessão dela, e sua motivação em acreditar nisso, me constrangia, ao mesmo tempo que alegrava. | ||
De volta ao meu fardo... | ||
Estava dentro do carro, saindo do laboratório quando o telefone tocou. | ||
- Meri, Anderson me enviou seu exame sem querer. | ||
- Meu Deus! Não acredito. Eu não queria que você visse esse resultado, não agora. | ||
- Por que não? Você está bem? | ||
- Estou sim. Mas não queria que isso mexesse com as suas lembranças. | ||
- Ah! Isso agora não importa, agora é hora de cuidarmos de você. E tudo isso se resolver, logo. | ||
- MEU DEUS DO CÉU! O QUE É ISSO, MEU PAI?! - Falei no meu famoso e indiscreto ímpeto. | ||
- Meri! O que foi? Você tá bem? | ||
- Estou ótima. Maravilhada, maravilhosa, encantada, admirada... | ||
- Merielle! | ||
- Amiga, acabou de passar aqui, um deus grego! Sério. Tu não vai acreditar. Eu falando aqui contigo, olho pra frente e lá vem ele, camisa na mão, calça jeans, peitoral... Que ombros! Super natural. Definido, tão proporcional. Poxa! Do nada! Pahhh! Assim... Na rua? | ||
- Merielle! Eu aqui preocupada, e tu paquerando?! | ||
- Paquerando não, admirando. | ||
- Quase me mata de um susto, tinha que ser Merielle. Ah, meu Deus! | ||
- Amiga, se tu visse, ia entender o motivo do espanto. Tudo bem, passou. | ||
Passou lindo, sem perceber o quanto abalou a nossa conversa. | ||
Claro, ar-condicionado ligado, janelas do carro - fechadas. | ||
Eu estava apenas no telefone com uma amiga. | ||
Olhar à frente. | ||
Feliz por nossa visão periférica. | ||
Foi bom que nos distraiu, tirou-nos da tensão, e rimos muito juntas. | ||
Isso fez a gente lembrar que passamos por tantas coisas, difíceis e cômicas. | ||
Brigamos, reconciliamos, e graças a Deus estávamos uma pela outra, novamente. | ||
Mais fortes e mais unidas do que nunca. | ||
E, Rivia não pensou duas vezes, compartilhou o laudo no grupo com Aninha e Jannine. Contando, também, do meu surto com o rapaz que surgiu do nada, no meio da rua. | ||
Entre tensão e risos, foi decidido... | ||
Não importa o que aconteça, estaremos JUNTAS. | ||