Pegue as lâminas!!
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Pegue as lâminas!!

Era como se ele dissesse "Cadê a esperança que você vive?"

Merielle Souza
4 min
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Enquanto a reunião rolava...

Mais um destino para o laudo:

Para Anderson, um grande amigo. Podemos passar tempos sem contato, mas quando precisamos, sabemos que temos um ao outro. Até pra xingar verdades, nesse caso ele quem faz isso. 

Ele é aquele amigo que há alguns anos atrás, chegou no setor que trabalhávamos juntos - onde nos conhecemos - me encontrou calada, seria, no meu mundinho, após 30 minutos convivendo com essa minha versão, parou e com seu jeito firme e determinante, falou:

- Chega! Já chega! Não sei o que está lhe acontecendo, nem preciso saber, só sei de uma coisa: Você assim não. Não aceito, Merielle! Essa não é você. Não consigo vê-la assim. Você assim é incabível. Quando não estou bem você é uma das pessoas que falo e sinto alívio, transmite esperança, às vezes só de lhe ver lembro das nossas conversas e penso, ela acredita, vou crer também. Ver você assim é de pensar: A Esperança acabou! Não dá!

Ah! É importante destacar aqui que no drama ele é melhor que eu. É mais ousado, eu sou mais fresca.

Ali, olhei apática pra ele, não respondi, mas pensei:

- Eu tenho direito de ficar triste. Eu posso não estar alegre. Ele é louco. Vou ignorar.

Mas quando observei sua expressão, dei um desconto no drama e vi o que estava tentando despertar em mim.

Ele queria dizer que eu era sua amiga das palavras de fé e esperança, que nos momentos difíceis eu não deixava de acreditar, mesmo diante de situações bem improváveis e difíceis. Era como se ele dissesse "Cadê a esperança que você vive?"

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Foi quando a Merielle reviveu. 

Então, voltando ao dia 20 de outubro de 2020, enviei o PDF do laudo pelo Whatsapp para Anderson.

Na mesma hora, sua ligação:

- Diga agora que esse exame não é seu. Isso está errado. Não aceito. Você não. Quem redigiu isso? 

- Anderson, pelo amor de Deus, esse exame é meu. A Rivia não sabe, não diga nada a ela. 

Rivia, completa o nosso trio. Quando a conheci ela tinha acabado de perder o noivo, o câncer encerrou os planos dos dois há cerca de 17 anos. Eu não queria resgatar lembranças dolorosas nela. 

- Merielle, não se preocupe. Só vou enviar para alguns amigos para averiguar esse laudo. Não lhe conhecem.

- Tudo bem.

- Enquanto isso, se acalme, não faça pesquisas no Google, e repito: não aceito esse laudo. Melhor! Vá amanhã sem falta. Me prometa que amanhã você irá nesse laboratório pegar as lâminas desse exame e traga pra mim. Vamos conferir isso. Me prometa que vai pegar!

- Ok, eu vou pegar.

- Você está bem? 

- Estou.

- Tudo bem. Percebi que sua voz tá bem.

- Percebi que você ligou pra conferir isso.

- Pois me diga mais uma vez que vai pegar essas lâminas amanhã sem falta.

- Eu vou, prometo.

Não percebi, mas Livinha lá da mesa de reunião observava minha conversa ao telefone.

Quando voltei pra o meu lugar ela falou:

- Nega, não sei quem era, mas essa pessoa pode lhe endoidar. Você já está com essa situação de ter que correr contra o tempo, ainda ir buscar lâminas e refazer exame. Meu medo é que isso atrase tudo. E você perca o tempo de resolver logo isso.

- Amiga, prometo que não vou parar quanto as providencias que preciso tomar agora, vou tentar resolver isso o quanto antes. Só preciso entregar as lâminas a ele.

- Mas isso só vai lhe estressar mais diante de toda situação.

- Não se preocupe. Meu amigo está preocupado e cuidando de mim. É o jeito dele. Mas vai ficar tudo bem. Ele uma vez me lembrou o quanto temos esperança. Eu sei que não será fácil, mas vai ficar tudo bem.

Por falar em esperança, enviei o laudo para Taciana. 

Continua...