Por onde anda o amor?

- Meri, não existe amor. Ninguém ama ninguém. Nem a gente se ama, se for considerar tudo que o amor é de fato.

- Existe amor. Eu amo! – Falei.

- Não existe. Não insista. Você não vai nos convencer. Falar de amor, dizer que ama, é fácil. Mas de “fato”, ninguém ama.

Eles, falavam com um ímpeto na voz, que me deixava na dúvida se eles estavam afirmando ou pedindo para lhe convencer do contrário.

Essa discussão me levou aos meus 13 anos...

Fase em que as únicas lembranças que tenho são dos meus conflitos e das cartas que escrevi me despedindo de todos.

Se algo muito bom aconteceu nos meus 13 anos, não lembro. Provavelmente tenha acontecido, mas minha alma estava presa à vontade de partir daqui.

Hoje, quando conto que passei quase um ano pensando em como partir, das cartas que escrevi ao me despedir, quem ouve não relaciona a Meri que sou.

Mas lá atrás, adolescente, vivia questionando Deus - por que todas as crianças com as quais crescia, tinham o privilégio de saber o que é conviver com o pai ou com a mãe e eu não?

Eu me sentia perdida. Na época, essa dor não me deixava enxergar os pais excepcionais – mamãe e papai – que eu tinha. Eram meus avós maternos. Dedicavam-se tanto a mim, mas nessa fase eu era uma traquina, aborrecida, com ideias suicidas. Só pensava em mim, a maior vítima de toda aquela história.

Pra quê existir?

Para completar, naquele ano, perdida entre meus conflitos, vi que no meio cristão em que vivia, onde tanto era pregado o amor, principalmente o divino que pede “Ame ao seu próximo, como a si mesmo” não tinha se quer o rastro desse sentimento.

Passei meses, usando a mesma roupa para eventos nesse local. Eu tinha que ir a todos esses eventos com mamãe, ela exigia a minha companhia. Adotei minha farda quando percebi que se importavam demais com o que vestia. Se era nova, comprida, uma boa roupa de menina.

Ah! Para você não se confundir, “mamãe” é como chamo minha avó materna.

Agora, podemos seguir...

Todas as vezes que saía desse local, no caminho de casa perguntava a Deus:

- Como pode? O lugar que todos dizem que você está, o próprio amor, não sabem amar?

Eles nem se arriscavam em falar sobre o amor, acho que pra não pecar.

A partir daí comecei a questionar tudo.

- Por que tantas doutrinas?

- Por que tanta hipocrisia?

- Por onde anda o AMOR?

- Se você fala sobre ele em seu livro sagrado, eu posso encontrá-lo.

Todas as minhas perguntas eram feitas a Deus, para mim nenhum humano seria capaz de respondê-las.

Mas claro, Ele não enviou anjos para me dar um treinamento sobre o amor.

Ele me cercou de humanos, que hora me requeria agir com amor, hora me dedicava amor em seus atos. Quando percebi, eu já os amava tanto e estava sendo tão bem cuidada, que alguns posso até chamar de anjos. 

Voltando à discussão com o casal, meus tios...

Ela argumentou:

- Quando você pensa que ama alguém, esse vem e lhe machuca.

Apontei para minha prima, que estava em minha frente e falei...

- Amo-a, e sei o quanto ela me ama, achei que nunca nos machucaríamos, mas ela me fez chorar bastante com uma mensagem, julgando minha ausência, criticando meus esforços, como se não me importasse com vocês, minha família...

Olhei para minha prima, e continuei...

- Eu só queria ser compreendida e apoiada, mas justamente ela, usou tudo o que conhecia de mim, até minhas palavras que usei para aconselhar ela, contra mim. Poxa! Doeu bastante. Reagi! Discutimos, mas... nos entendemos, estamos aqui, não tenho dúvidas do seu amor por mim e ela sabe o quanto a amo. Mesmo que não consigamos estar tão juntas quanto gostaríamos, sabemos o quanto temos uma à outra.

E daí vieram vários questionamentos...

Sobre amar sem esperar nada em troca, sobre o amor incondicional, sobre a generosidade e o perdão que os acompanham...

Resgatei diversas histórias que me ensinaram muito sobre isso, compartilhei, mas olhei para eles e percebi que queriam que fossemos perfeitos no amor.

Foi quando falei...

- Como Deus diria que amassemos ao próximo sem nos tornar capazes disso? Será que Ele nos enganou?

Amar ao próximo como a si mesmo já criou tanta piada, já virou descrença, mas é uma verdade e pode sim ser praticada.

Lá nas cartas que escrevi me despedindo da humanidade, a cada pessoa que me despedia, entre as linhas caiam as lágrimas que eu não contia ao pensar na dor que lhes causaria.

Foi quando cansada dessas despedidas frustradas e das ideias bestas de como tirar minha vida,  resmunguei pra Deus:

- Por quê?

- Por que tantos porquês? Eu lhe permiti viver, e você quer morrer porque lhe falta um porquê? Ao longo da sua vida você vai ter as respostas desse e de outros porquês... Apenas VIVA.

Me senti um pouco idiota, pensando que morreria sem descobrir nada e no quanto estava fazendo questão por uma falta que já tinha sido tão compensada por papai, mamãe e meus tios.

Lembrando a importância de cada uma deles, percebi que apesar dos conflitos de convívio ou diferenças entre nossas personalidades, me importavam e me amavam.

Hoje, tenho minhas respostas e novos porquês, sempre haverá.

Sempre questionarei, sempre vou querer saber, gosto de conhecer, aprender.

Mas quanto ao amar, não preciso do porquê, não mais.

O amor não é uma doutrina, tão pouco perfeição, não é uma coisa de tolos, nem apenas emoção. O amor é ação, é fé, é canção, é um olhar que pode lhe resgatar, ou lhe trazer na imaginação.

Tem um grande poder de construção, desde simples versos a fortes relações.

Dias depois daquela discussão...

Tive um episódio quanto a minha saúde, e isso fez minha família pensar que meus dias estavam contados. Mesmo eu dizendo que não, que tudo iria se resolver e ficaria tudo bem.

Num dos momentos que passei mal, essa tia empenhou todo o seu amor em oração e ação por mim. Dedicou esforço, tempo e paciência comigo.

Foi quando numa dessas situações falei pra eles:

- Vocês não podem mais dizer que não existe amor. Tudo que vocês têm feito, é puro amor. Eu não dei nada em troca, mas escolheram fazer, escolheram amar.

Eu não tenho como defender o amor, tão pouco ensinar como amar, apenas vivo.

Mas garanto, é muito bom amar.