As pessoas certas para o Polo Sul
0
0

As pessoas certas para o Polo Sul

Em 1909, duas expedições se lançaram em busca de um dos pontos mais inóspitos da Terra: o Polo Sul. O mundo ainda não havia sido totalmente mapeado e descoberto, então era de interesse das grandes potências da época em ter sua bandeira hastea...

Danilo Reis
7 min
0
0
Email image

Em 1909, duas expedições se lançaram em busca de um dos pontos mais inóspitos da Terra: o Polo Sul. O mundo ainda não havia sido totalmente mapeado e descoberto, então era de interesse das grandes potências da época em ter sua bandeira hasteada nas chamadas terras de gelo desconhecidas. A primeira dessas expedições foi liderada por Capitão Scott, um experiente explorador britânico que já havia feito diversas expedições, inclusive para a Antártida. Por sua grande experiência, Scott era tido como um dos principais candidatos para a descoberta do sul e conseguiu angariar muitos recursos para sua viagem. Como tinha um background financeiro extremamente robusto, Scott levou uma grande equipe, diversos suprimentos, um navio enorme e, para fazer sua travessia por terra, Scott levou diversas opções como trenós puxados por cães, trenós elétricos e pôneis, de forma que, caso algum destes desse errado, teria uma segunda opção. Dessa forma, sua equipe necessitava de mecânicos para os trenós elétricos, treinadores de cães e treinadores de cavalos. Paralelo a tudo isto, estava Roald Amundsen, um norueguês sonhador, que tinha pouca experiência como navegador, mas queria fazer algo grande. Se preparava para fazer uma expedição ao Polo Norte, mas ao descobrir que este já havia sido descoberto, decidiu mudar a rota. Como os investidores não confiavam em Amundsen para tal empreitada, ele não avisou a ninguém, nem mesmo sua tripulação, que havia mudado de ideia. Por outro lado, Amundsen fez o dever de casa muito bem feito. Estudou como os esquimós sobreviviam e se transportavam durante grandes nevascas. Amundsen não tinha os recursos de Scott, por isso buscou somente o essencial. Ele não poderia errar. Para isso, decidiu montar uma equipe perfeita, mais completa possível. Sua primeira escolha foi um campeão de esqui, especialista em carpintaria. Contratou o melhor treinador de cães e comprou uma matilha de cem cães de tiro da Groelândia, os mais fortes e acostumados com situações extremas em baixas temperaturas. Além disso, aprimorou esquis durante dois anos até que estivessem resistentes e leves ao mesmo tempo. Sua equipe era enxuta, de forma que, poderia levar suprimentos mais que suficientes, distribuindo-os em postos de paradas durante todo o percurso a pé. Amundsen era tão obstinado e fanático que, durante a preparação, comia carne de golfinho crua para adaptar-se às condições mais extremas com menos dificuldade.

Durante o início da expedição, Amundsen seguiu com a estratégia de avançar uma quantidade mínima de 20 milhas todos os dias, independente se o tempo estava bom ou em uma tempestade extremamente forte. Seu concorrente, Scott, utilizou uma estratégia diferente: avançava o máximo que podia em tempos bons e parava sua equipe durante as grandes nevascas e tempestades. Ao adentrarem no inverno, período em que o sol se pôs em abril e só retornando em agosto, Amundsen sabia que isso causaria um extremo tédio, medo e desmotivação da sua equipe. Buscava mantê-los sempre ocupados adaptando os trenós e melhorando as botas e esquis. Amundsen conseguia motivar sua equipe nos momentos mais trágicos e seus homens confiavam demais nele. Porém, se algo desse errado, a chance de fracasso era eminente e a vida sua e de sua equipe estaria em extremo risco. A estratégia adotada por Amundsen, tornou sua equipe leve (pois tinham menos membros e menos equipamentos para carregar), segura (com a marcação de postos de parada com suprimentos para o caso de uma volta inesperada) e constante (marchando sempre a mesma quantidade de milhas), diferente de Scott, que a essa altura tinha andado metade da distância que Amundsen, sua equipe estava desmotivada e consumia muito suprimento, os trenós elétricos quebraram e os cachorros, não acostumados com as condições extremas, adoeceram. No dia 14 de dezembro de 1911, um ano e meio depois de sua partida, Amundsen consegue atingir o ponto mais extremo do planeta, antes do renomado capitão Scott. Amundsen regressou ao barco com toda sua equipe a salvo e sua viagem totalizou 99 dias, 10 a menos do que o previsto. Infelizmente, Scott não teve a mesma sorte. Sua equipe morreu em um acampamento durante uma tempestade de neve que durou dias enquanto regressava ao barco, sem suprimentos, após ter atingido o Polo Sul no dia 17 de janeiro de 1912, mais de um mês após seu rival.

Amundsen tinha uma equipe tão preparada e experiente que tornava sua expedição mais rápida. A tomada decisão era feita com muito mais facilidade e sua equipe sabia exatamente o que fazer. O time estava alinhado e sabia a hora exata de aperfeiçoar os trenós, adaptar as botas e esquis, o que poupava um tempo enorme de Amundsen, deixando seu foco para a decisão estratégica. Sua estratégia de escolher as pessoas certas foi fundamental para seu sucesso. A liderança não é somente motivar e desenvolver, mas também é saber quem tem que estar no barco e qual sua função ideal. Ao buscar as melhores opções, Amundsen concentrou sua energia ao que importava para ele: o sucesso com os trenós e esquis. Scott, acabou buscando diversas opções, mas não focou em nenhuma delas e, quem muito abraça pouco aperta. Além de ter uma equipe preparada, ter montado uma estratégia consistente, Amundsen se enquadra em o que Jim Collins chama de Lideranças 10X. Os líderes 10X compreendem que não são capazes de prever todos os obstáculos que poderão aparecer em seu caminho, mas são contra a ideia de que sorte, azar ou fatores externos sejam responsáveis pelo sucesso ou fracasso de sua empreitada. Eles se preparam para as possibilidades e escolhe as melhores pessoas para o barco, pois pessoas boas economizam o mesmo tempo perdido com pessoas despreparadas. No livro Vencedoras por Opção, Jim utiliza essa história e faz um paralelo com os líderes da atualidade que encontraram desafios e adversidades, mas conseguiram destacar suas empresas frente às concorrentes com exemplos de gestão e liderança a ser seguido. Jim Collins comenta os quatro princípios que caracterizam um Líder 10X. São eles:

Disciplina fanática: seus valores, metas, padrões de desempenho e métodos são profundamente consistentes, independente das circunstâncias, similar à marcha de 20 milhas de Amundsen;

Criatividade empírica: confiam na experimentação prática e no envolvimento com as evidências tangíveis. Os seus movimentos mais criativos e ousados são apoiados em uma sólida base empírica, tal qual Amundsen fez ao estudar os esquimós;

Paranóia produtiva: estão sempre atentos e compreendem que a qualquer momento as circunstâncias podem se virar totalmente contra eles. A partir disso, focam em ações, preparação, construção de planos de contingência e manutenção de margens de segurança, mantendo uma equipe preparada e experiente, Amundsen se ateve somente às decisões estratégicas, como a de manter os postos de parada.

Ambição: aspiram coisas maiores do que seu próprio crescimento pessoal. Canalizam seu ego para suas empresas e para o propósito delas. O propósito da expedição era retornar com vida ao barco. A conquista do Polo Sul era apenas um momento nesta empreitada. Amundsen se preparou para uma possível desistência, criando os postos de parada, garantindo que toda a tripulação retornasse com vida.

Todos esses pontos foram fundamentais para que Amundsen e os executivos estudados por Jim alcançassem seus objetivos e fizessem história. Porém, outro fator fundamental para esse sucesso foi a equipe. Amundsen escolheu a equipe certa e mais do que isso, a manteve motivada e compartilhando do mesmo sonho. O objetivo era comum, o sonho era comum e cada uma sabia da sua importância. Cada parte sabia sua função e fazia o seu melhor para atingir o resultado. E, quando você tem pessoas excelentes dando o seu melhor e compartilhando do mesmo sonho, o resultado é mais do que certo. Além de buscar sempre ser um Líder 10X, tenha sempre a melhor equipe à sua disposição e certifique-se de que eles estão não só alinhados com seus objetivos, mas compartilhando do mesmo sonho. Uma equipe bem preparada e motivada, além de facilitar a obtenção dos resultados, poupa tempo e desgastes desnecessários do Líder. Busque sempre manter pessoas motivadas, compartilhando do mesmo sonho dentro do barco e caso este não se enquadre, não perca tempo tentando adaptá-lo. Pode ser que ele não esteja no barco certo. Tempo perdido não volta e é muito melhor gastá-lo motivando gente certa do que reparando erros de gente despreparada. Porém, ter as pessoas certas, também não é certeza do sucesso. Elas precisam estar motivadas, determinadas e compartilhando do mesmo sonho. Sem isso, os resultados serão momentâneos. Como disse Antoine de Saint-Exupery: “Se você quer construir um navio, não chame as pessoas para juntar madeira ou atribua-lhes tarefas e trabalho, mas sim ensine-os a desejar a infinita imensidão do oceano”. Mas lembre-se de chamar as pessoas certas.

Uma semana MEGA produtiva a todos! Vamos pra cima!