Atletas de alto rendimento, durante provas ou treinos intensos, normalmente sentem queimações e dores musculares, como também câimbras. Essas sensações desconfortáveis são ocasionadas pela presença de um grande vilão: o lactato. O lactato mus...
Atletas de alto rendimento, durante provas ou treinos intensos, normalmente sentem queimações e dores musculares, como também câimbras. Essas sensações desconfortáveis são ocasionadas pela presença de um grande vilão: o lactato. O lactato muscular, também conhecido como LDH, é uma substância produzida em nossos músculos durantes os exercícios e, à medida que se aumenta a intensidade e duração do exercício, mais lactato é produzido, de tal forma que, podemos medir o quanto uma pessoa é resistente à intensidade e à dor medindo a quantidade de LDH em seu sangue após uma atividade física. Então, se uma pessoa não produz lactato, ela poderia correr infinitamente ou realizar atividades físicas por inúmeras horas sem o incômodo que muitas vezes interrompe nossas atividades? Estudos recentes constatam que não. O lactato pode ser o vilão em relação à dor que sentimos durante as atividades físicas, mas, sem lactato, nossa musculatura se torna frágil. Ele é o responsável pelo fortalecimento e aumento da resistência de nossa musculatura. Pessoas que sofrem com deficiência inata do lactato têm uma intolerância drástica ao esforço físico. Ou seja, quanto mais lactato, mais dor e mais resultados. | ||
Sebastian Kienle, tricampeão e multimedalhista do Ironman, o maior evento de triátlon do mundo que consiste em 3.8km de natação, 180.2km de ciclismo e 42.2km de corrida, uma vez comentou durante uma prova a frase que se tornou lema entre os triatletas e intitula este Day One: “If it’s hurting me, it’s killing them.” (“Se está me machucando, está matando-os”). Ele foi questionado sobre como ele conseguia ditar um ritmo intenso durante toda a prova de ciclismo. Kienle conseguia manter um alto ritmo, suportando dores extremamente intensas, com níveis exacerbados de lactato em seu sangue. E o mais interessante é que, quanto mais lactato em seus músculos, mais resistentes eles ficam, o que fazem com que Kienle suporte cada vez mais dores, dores estas que seriam intoleráveis para nós, reles mortais. Seria algo como calejar a musculatura com o aumento constante da intensidade do exercício, o que o tornaria mais doloroso. O prêmio por resistir à essa dor é justamente o fortalecimento da musculatura e a capacidade de suportar mais dor. Da mesma forma que podemos fortalecer nossos músculos perante à dor, também somos capazes de fortalecer nossa mente. Quando estamos expostos às adversidades, situações que nos colocam em picos de stress, abalo emocional, dor e sofrimento e, mesmo com toda adversidade e nossa mente jogando contra, conseguimos seguir em frente até o nosso objetivo, nossa mente se torna mais forte. Tudo isso na verdade é um jogo entre nossa meta e nossa mente. | ||
David Goggins, personagem do Day One “Confortável no Desconforto”, em seu livro intitulado “Can’t Hurt Me” (em tradução livre “Nada pode me machucar”), comenta sobre nossa intensa batalha contra nossa mente. Ele costuma dizer que a dor é a prova de que estamos vencendo a nossa mente e estamos fortalecendo-a. A dor é o prêmio por esta vitória. Significa que estamos tirando nossa mente da zona de conforto. Ele fala também sobre a regra dos 40%. A grande maioria das pessoas só entregam 40% ou menos do seu real potencial tanto físico, quanto mental. Tanto na esfera pessoal, quanto profissional. E sabe o motivo disso? É a partir dos 40% que a dor começa a aparecer. É a hora que começa a incomodar. É nos 40% do seu potencial que o lactato começa a agir em seus músculos e sua mente começa a se perguntar: “Por que eu estou fazendo isso?”, “Eu preciso mesmo fazer isso?”, “Já cheguei em meu limite!”, “Eu poderia estar em casa deitado na minha cama bem confortável!”. E é justamente neste momento que paramos. Nunca rompemos a barreira dos 40%, porque simplesmente nos incomoda. Se começamos a fazer um exercício e sentimos a fadiga, dor ou cansaço, rapidamente interrompemos a atividade e deixamos para outro dia. Se começamos um trabalho mental desgastante e começamos a cansar a vista, sentir uma sobrecarga na cabeça, paramos e deixamos para outro dia. E com qual propriedade David Goggins fala sobre isso? David correu a ultramaratona de San Diego, com 160km de percurso, em 22h seguidas, com pequenas pausas para hidratação e suplementação, sem nunca ter corrido uma simples maratona (42.2km) ou ter se preparado com um staff adequado. Ele simplesmente achou que poderia correr por 22h sem parar mantendo um ritmo leve. Goggins teve fraturas em seus dedos do pé, tornozelos, lesões em seus tendões de Aquiles e joelho e chegou a quase ter uma insuficiência hepática, mas finalizou a prova. Durante o percurso ele sentiu dores absurdas e inúmeros momentos sua mente o quase convenceu a desistir, mas como ele mesmo disse, ele venceu a própria mente. | ||
É claro que não estou dizendo para você colocar seu tênis de corrida e sair correndo durante um dia inteiro sem parar, isso é suicídio. A reflexão que trago é a seguinte: será mesmo que estamos dando 100% do nosso potencial físico e mental? Quando nos colocamos metas de resultado, estamos cumprindo? Quando nossas metas começam a incomodar, estamos parando ou seguimos com a dor? A ideia por trás deste Day One não é torná-los campeões de Ironman ou corredores de ultramaratonas, e sim, fazer com que reflitam toda vez que colocarem um objetivo em sua mente. Percebam o quanto de potencial você está doando para este objetivo. Seja ele uma simples corrida de 5km no final de semana, uma meta de terminar um projeto até o final do dia, ou até mesmo, um objetivo de longo prazo como uma carreira de sucesso ou emagrecer tantos quilos no ano. E não precisa partir dos 40% direto para os 100%. Comece com um pouco de cada vez. Ao sentir o lactato ardendo seus músculos, ou sua mente pedindo para que você descanse, continue mais um pouco. Chegue aos 50%, depois aos 60% e assim por diante. Não deixe que nossa mente medíocre e confortável mande em nossos objetivos. Temos um potencial gigantesco dentro de nós, porém, somos parados por nós mesmos. E essa desistência nos impede de continuar evoluindo, nos fortalecendo e calejando nossos músculos e mente, pois, é justamente este incômodo o grande responsável pela evolução. Temos tanto medo da dor que acabamos por parar nos 40%, desperdiçando 60% de força, criatividade, inteligência, resistência e determinação. Nosso corpo e mente são capazes de coisas fantásticas e desperdiçamos diariamente nosso potencial em busca do conforto. Nossos limites são estabelecidos por nossa mente fraca e a única forma de evoluirmos é desafiando-a. Da próxima vez que a dor, incomodo ou sofrimento aparecerem, lembre-se que eles são necessários para nossa evolução. Como disse Ray Dalio, bilionário norte-americano, dono de um dos maiores fundos de investimentos dos EUA que superou diversas crises financeiras e chegou à falência, reconstruindo seu patrimônio do zero: “dor + reflexão = progresso”. A única característica que nos difere de pessoas extraordinárias como Ray Dalio, David Goggins e Sebastian Kienle são os níveis de lactato em nossos músculos e mentes. | ||
Uma semana MEGA produtiva a todos! Vamos pra cima! |