Last-minute Stamina

Era uma típica madrugada úmida na República Democrática do Congo. Cerca de cem mil pessoas estavam espremidas no estádio Tata Raphael e, mesmo às quatro horas da madrugada, em puro êxtase. Seria uma noite épica, marcada na história como a Luta do Século. No momento que adentrou no ringue, o estádio lotado gritou: "Ali, bomaye!", algo como "Ali, mate-o!". Nascido Cassius Clay, Muhammad Ali, um homem livre como costumava explicar o motivo da troca de seu nome, estava aos 32 anos de idade. Já havia sido campeão mundial dos pesos-pesados aos 22 anos em 1964 e estava tentando recuperar o cinturão após anos afastado do boxe e após passar três anos fazendo lutas menores. Do outro lado estava George Foreman, atual campeão mundial invicto, um jovem boxeador aos 25 anos e no auge de sua carreira, conhecido por sua incrível força física, um soco destruidor e uma grande agilidade ao se movimentar no ringue. A diferença de idade, ritmo de treino e lutas anteriores pesavam bastante contra Ali.

O primeiro assalto começa e Foreman encurrala Ali nas cordas com duros golpes que atingem sua linha de cintura e rosto com frequência. A torcida, eufórica antes da luta com a presença lendária de seu ídolo, se calou ao ver o completo domínio e agressividade de Foreman. A situação se repetiu nos rounds seguintes. Ali tentava desestabilizar Foreman dizendo ao seu ouvido: "Vamos, George, me disseram que você tinha uma mão pesada!". As provocações de nada adiantavam. Foreman dominava a luta e cercava Ali, sempre levando-o para as cordas e proferindo golpes. Sua movimentação rápida o fazia parecer flutuar no ringue. Ali parecia imóvel, sentindo bastante os golpes de Foreman e todos acreditavam que não passaria do quinto assalto. Porém, ao sexto round, Foreman começou a demonstrar cansaço. Havia mantido um ritmo incessante desde o início buscando o nocaute, mas, por mais jovem que fosse, a constante movimentação e o peso das luvas empapadas de suor iam desgastando pouco a pouco seu vigor. Neste momento, Ali enxergou uma oportunidade. Foreman continuou melhor no sétimo e no oitavo e último round, porém, o ritmo não era mais o mesmo. Os golpes proferidos por Foreman atingiam as luvas de Ali ou passavam direto pelo ar. Ali também estava extremamente cansado após receber diversos golpes durante oito rounds seguidos, porém, foi neste momento que veio à tona algo que no futuro se tornaria um conceito que permearia não só em diversos esportes como em todas as esferas da vida: last-minute stamina. Ali, ao identificar a oportunidade do cansaço e diminuição do ritmo de seu adversário, usou suas últimas forças para ir com tudo em busca do seu objetivo. Nada o pararia. A última gota de energia seria usada, por mais que ele achasse que não tinha mais forças para nada. E é justamente essa última gota responsável por grandes feitos. Faltando doze segundos para o final da luta, perdendo a luta por pontos, Ali utilizou toda a energia que restava, a última gota, last-minute stamina, e iniciou uma sequência de golpes. O último deles acertou em cheio o queixo de Foreman que desabou no ringue. Ali era novamente campeão mundial.

Last-minute stamina, ou último minuto de energia, é o termo que Ali usava para explicar a extraordinariedade das pessoas de sucesso. É o que separa os reles mortais das lendas em suas atividades. É o fator responsável por feitos hercúleos. É aquele momento em que você acha que não aguenta mais, que está saturado e sem energia e os pensamentos negativos e desmotivadores surgem em sua mente, mas, ainda resta aquele último sopro, a última gota de energia e que, se você der tudo de si, fará toda a diferença. Foi essa última gota que fez Ayrton Senna aguentar dez voltas com o câmbio travado na sexta marcha e câimbras nos ombros e nas pernas, em um dia chuvoso, mantendo a aceleração do seu carro ao máximo para que não fosse necessária uma redução de marcha (o que o faria perder a corrida), conquistando sua primeira vitória em Interlagos. Essa mesma última energia fez com que Michael Jordan se tornasse lendário com suas cestas no estouro do relógio e responsável por viradas inimagináveis mesmo estando extremamente exausto por jogar todos os quartos completos e, em um dos casos, se recuperando de uma lesão que quase foi responsável por uma aposentadoria prematura. Foi justamente essa última gota que fez Guilherme Benchimol vender o próprio carro para que sua empresa, a XP investimentos, não fechasse e pudesse transformá-la na maior corretora de investimentos do país.

Todo início de ano, temos o costume de organizar lista de metas e objetivos que queremos alcançar no ano que começou. Geralmente, fazemos uma lista com mudanças expressivas e, após pular as sete ondinhas, prometemos a nós mesmos que "este ano será diferente". Queremos melhorar nossa alimentação, ler tantos livros no ano, fazer tal curso, viajar para aquele lugar que tanto desejamos e entrar na academia. Vislumbramos os objetivos de melhorar nossa saúde, perder peso, economizar dinheiro para investir, dentre muitos outros. E começamos a todo vapor! Mas o engraçado é que, ao final do ano, não conseguimos completar quase nenhuma meta. E, após um ano de fracasso, planejamos novas metas que não alcançaremos para o ano seguinte. Somos como George Foreman em seus primeiros rounds e terminamos na lona. Muitas vezes nos pegamos desanimados, desolados, desmotivados e prontos para desistir. Passamos meses fazendo aquela dieta ou aquele exercício desafiador e, por algum simples motivo, largamos tudo. Muitas vezes estamos num ritmo bom de leitura, fazendo cursos ou estudando, mas nossa energia vai embora e deixamos tudo de lado. Sejamos menos Foreman e mais Ali na superluta do Congo. Quando estiver prestes a desistir ou ser nocauteado, lembre-se da sua última gota. Dê tudo de si, supere-se. Gaste toda a sua energia para atingir o seu objetivo, independemente do que possa estar te atrapalhando e estiver à frente do sucesso. Lembre-se sempre de usar sua last-minute stamina assim como Ali, Senna, Jordan, Benchimol e muitos outros.

Fuja da mediocridade. Torne-se extraordinário.

Uma semana MEGA produtiva a todos! Vamos pra cima!