Nos tempos atuais as informações ganharam uma velocidade extrema e uma relevância enorme em nossas vidas. Durante um dia, somos bombardeados por notícias de todos os lugares, mensagem positivas e, muitas vezes também, negativas.
Nos tempos atuais as informações ganharam uma velocidade extrema e uma relevância enorme em nossas vidas. Durante um dia, somos bombardeados por notícias de todos os lugares, mensagem positivas e, muitas vezes também, negativas. Em tempos de pandemia, o que mais encontramos nos noticiários são tragédias, mortes, números subindo e descendo, a incerteza da vacina e as inúmeras possíveis curas que a cada passo se mostram menos confiáveis. Nos grupos de What’sApp, recebemos bombardeio de fake news, notícias de amigos e parentes contaminados e, algumas vezes, em estado grave. Todas essas informações são absorvidas constantemente por nossa mente, afinal elas estão disponíveis aos nossos olhos tão facilmente. Como conseguir levar uma vida tranquila ao se deparar todos os dias com essa insegurança e notícias desoladoras? | ||
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A única certeza que temos é que as tragédias ocorrerão com pessoas próximas ou até com nós mesmos, independentemente de estarmos em uma pandemia. É inevitável. Vivemos cerca de 90 anos, totalizando cerca de 32.850 dias e, no final do último dia, daremos adeus a este mundo e o que ficará será somente o legado que deixaremos para quem ainda estará pisando neste planeta. Dentro destes 32.850 dias, poderemos ter milhares de dias ruins, milhares de dias bons, milhares de dias desoladores. E quem decide a exata proporção não é o destino, somos nós. O destino será o mesmo, as tragédias e alegrias acontecerão. Perderemos parentes, amigos e ganharemos filhos, netos. Porém, como reagimos à todas essas situações é que definirá o quão feliz seremos nessa longa trajetória. | ||
Muito provavelmente, poucos de vocês ouviram falar da Peste Antonina que ocorreu no século II d.C., assolando o antigo Império Romano, e que pode ter sido a responsável pela morte de pelo menos dois imperadores: Lúcio Vero e Marco Aurélio. Naquela época, o império romano tinha o estoicismo como uma de suas práticas de convívio e era comumente praticado e difundido. “Memento Mori (Lembre-se que você irá morrer)” — era parte de uma tradição em que, ao desfilar pela cidade e ser ovacionado pela população, o general vitorioso de uma conquista seguia imponente sobre sua carruagem com sua coroa de louros, porém, ao seu lado, figurava um escravo que dizia constantemente ao seu ouvido “Memento mori”, para que o ego não tomasse conta de sua cabeça e o lembrasse de que a vida vai além de sentimentos momentâneos. Esse sentimento de mortalidade e amor pelo destino, o “Amor Fati”, tornava o entendimento pelos acontecimentos da vida muito mais aceitáveis e menos impactantes, tal como Xenofonte respondeu ao lhe contarem da morte de seu filho: “Eu sabia que ele era mortal”. Como única certeza da existência é a morte e ela nunca poderá ser driblada – poderemos tentar postergar ao máximo ao ponto de vegetarmos em um corpo sem vida porém, um dia daremos o nosso último suspiro – devemos entender que toda dor, sofrimento, aflição e desespero são criados pela nossa própria mente. | ||
Marco Aurélio enfrentou uma grande epidemia, inúmeros desastres naturais (enchentes, terremotos), diversas guerras e a expectativa de vida naquela época beirava os 28 anos. Diversas doenças assolavam a população e era mais comum morrer de varíola do que por uma espada na guerra. Ainda assim, os romanos buscavam dar razão à sua breve vida, evitando sofrimentos desnecessários causados não pelas tragédias, mas pela forma como a encaravam. Se olharmos as páginas dos noticiários dos dias atuais, veremos que quase todas as notícias em destaque estão direta ou indiretamente relacionadas à pandemia. Temos a impressão que não acontece mais nada no mundo além da Covid-19. Há um total direcionamento proposital de nossas atenções para este único tema, que possui sim grande importância, mas que está longe de ser a única coisa que acontece em nossas vidas. Segundo Kahneman, essa é a chamada heurística de disponibilidade. O excesso de notícias negativas sobre o tema não é um sinônimo de informação qualificada, mas passa a sensação de um perigo cada vez maior e exponencial. Temos uma impressão de que o vírus está em todos os lugares e que, basta sair de casa para recebermos a sentença de morte. As pessoas que vão sendo infectadas servem aos nossos sentidos tais qual uma sirene de incêndio, de forma que deixam nossos mecanismos evolutivos de sobrevivência em alerta máximo. | ||
Temos que entender que o Covid-19 não irá acabar com o mundo. Ele trouxe sim grandes prejuízos – humano, econômico, sanitário, político –, mas seguiremos em frente. Como todas as adversidades que apareceram e aparecerão em nossas vidas, elas serão passageiras e só afetarão nossa saúde mental na proporção que a deixarmos o fazerem. Deveremos tomar todos os cuidados possíveis para evitar a proliferação do vírus, além de estarmos atentos aos pequenos detalhes e proteger a todos que nos relacionamos, mas, além de tudo, precisamos refletir sobre todas as nossa emoções tal qual Epicteto nos sugeriu: “A principal tarefa da vida é esta: identificar e separar as questões de forma que eu possa claramente identificar quais são externas e não estão sob meu controle, e quais estão relacionadas às escolhas que eu controlo. Onde, então, eu olharia em busca do bem e do mal? Não para fatores externos incontroláveis, mas para dentro de mim mesmo, para as escolhas que são minhas." | ||
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