Era dia 06 de novembro e os primeiros sinais de verão começavam a aparecer, mas o clima bucólico da região e o frio eram fatores que aumentavam a ansiedade. Sobrevoavam o mar da Normandia com um único objetivo: saltar em uma posição segura at...
Era dia 06 de novembro e os primeiros sinais de verão começavam a aparecer, mas o clima bucólico da região e o frio eram fatores que aumentavam a ansiedade. Sobrevoavam o mar da Normandia com um único objetivo: saltar em uma posição segura atrás das tropas nazistas e encurralá-las, fazendo um ataque efetivo combinado com as tropas que desembarcavam por mar e conquistar por completo a região. Era uma operação extremamente arriscada, pois os colocavam em extrema exposição, porém, fundamental para o resultado do Dia D. O 506º Regimento de Infantaria Paraquedista dos EUA, mais conhecido como Easy Company, saltou na área planejada, porém, devido ao mau tempo e a concentração de armas antiaéreas da região, o regimento ficou espalhado e sem comunicação interna. Acabaram seguindo por conta própria. Richard Winters pousou seu paraquedas muito longe da rota prevista e, durante o salto, acabou perdendo sua arma. Ao identificar alguns paraquedistas que estavam perdidos, reuniu um grupo de 12 homens, identificou sua localização e partiram para seu objetivo. Winters era um líder nato e assumiu o comando da companhia em um momento em que todos os membros estavam perdidos. Um destes paraquedistas era Albert Blithe. Blithe era um jovem militar que estava em sua primeira operação dentro do campo de batalha. O medo tomava conta de seu corpo e o paralisava em diversos momentos. A companhia estava reunida em meio a fogo cruzado dentro do território inimigo, em um número muito pequeno. Todas as circunstâncias estavam contra eles. | ||
Eles foram avançando em campo até que, em um devido momento, foram encurralados por um grupo inimigo em uma trincheira. Winters coordenava o ataque durante o fogo cruzado até que percebeu algo estranho acontecendo com um de seus soldados. Blithe estava paralisado, em estado de choque. Suas mãos tremiam a um grau elevado de Parkinson. Albert Blithe teve um ataque de pânico que o levou ao que conhecemos hoje como cegueira histérica, quando a pessoa tem um surto de stress emocional, o que causa efeitos a níveis neuronais e que posteriormente resultam em uma cegueira ou ainda outros problemas físicos. Blithe estava nessa situação. À medida que os tiros passavam por seus ouvidos, a situação se agravava e o medo de morrer era constante. Winters, ao perceber o medo de seu soldado, foi em sua direção e disse: “Você está desesperado e paralisado porque você ainda acha que pode sair vivo daqui”. A postura de Winters era totalmente contrária à Blithe. Extremamente focado e centrado, a cada som de tiro que passava por seu ouvido, o motivava a contra-atacar. A situação o fortalecia. Enquanto Blithe evitava o caos e se escondia dentro de si, Winters entendia e aceitava a desordem e se motivava com isso. Ao entender que a morte era sua única certeza e que o caos era constante, Winters usou todas as adversidades ao seu redor como algo que o fortalecesse. Após o incidente e ao perceber a postura de seu líder, Blithe recuperou sua visão e seguiu combate. A Easy Company foi fundamental para a vitória dos Aliados na Segunda Guerra, com diversas operações bem sucedidas, a exemplo da Operação Brécourt Manor, a qual destruiu uma bateria de canhões Obus alemães de 105 mm que disparavam nas vias de acesso que serviam como saídas principais da praia de Utah durante a invasão do Dia D. As armas eram defendidas por, pelo menos, uma guarnição de 50 alemães contra os 12 homens de Winters, e a captura do Ninho da Águia, fortaleza de Hitler localizada montanha Kehlstein, onde eram realizadas reuniões de cúpula do partido Nazista com a participação de autoridades e em total privacidade, devido ao isolamento em que a fortaleza se encontrava. Winters foi condecorado com a segunda maior condecoração militar por combate. | ||
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O caos faz parte constante de nossas vidas. Cheias de altos e baixos, em devidos momentos, nos encontramos no ponto mais extremo ao sul da curva convexa. Ao chegarmos ao fundo do poço, descobrimos que lá ainda existe um alçapão. Quando tudo parece dar errado ou quando o stress emocional toma conta de nós, temos a tendência de agir como Blithe. Perdemos nossos sentidos e não conseguimos prosseguir. Estagnamos no desespero ou na incerteza e essa incerteza nos prejudica. Ficamos extremamente fragilizados. Frágil é aquilo que ao receber qualquer impulso ou ação externa se quebra, se deforma, se prejudica. O frágil se perde com o caos. Uma taça de vidro, ao perturbar sua ordem natural estática e cair no chão, se quebrará em pedaços. Ao contrário dessa fragilidade, sempre tivemos em mente a resistência e resiliência. Uma taça de metal conseguirá receber as mesmas ações da taça de vidro, mas não se quebrará com a mesma facilidade, ela é resistente. Uma taça de borracha, também receberá os mesmos impulsos externos que ambas, se deformará, mas retornará ao seu estado natural. Resiliência. Essas duas características são bastante comuns no nosso imaginário, correto? E se eu te dissesse que temos uma terceira característica além destas, mas que é a real oposição ao conceito de frágil? Imagine uma taça de um material X que ao receber um impulso externo, ao invés de se deformar e retornar à posição natural ou simplesmente ser resistente o suficiente para não sofrer nenhum dano, fica mais resistente. A cada queda, a taça se torna mais inquebrável. A cada golpe recebido, o lutador consegue mais energia, mais motivação e profere golpes mais fortes. A cada som de tiro, Winters se motivava e se tornava mais centrado e preciso em seus ataques. A antifragilidade, conceito criado por Nassim Nicholas Taleb no livro Antifrágil: coisas que se beneficiam do caos, rompe o modelo mental de que o contrário de fragilidade é a resistência ou a resiliência. Essas características não o farão melhorar com o caos, permanecendo no mesmo estado em que está. No argumento de Taleb, dizer que algo resistente é o oposto de frágil é como dizer que neutro é o oposto de negativo. De outra forma, ao agir de forma antifrágil, você irá encarar as situações de adversidade e se aperfeiçoará diante delas. | ||
Dessa forma, para evoluir pessoalmente ou profissionalmente, não devemos evitar o caos. Se esquivar ou fugir de adversidades ou mudanças bruscas pode parecer seguro, mas não é a melhor opção para seu desenvolvimento. Segundo Taleb, há muitas coisas que vieram do momento de caos, mas damos mais atenção ao estresse pós-traumático e esquecemos do crescimento pós-traumático. Companhias aéreas aprendem e melhoram seus sistemas de segurança a cada acidente aéreo. Quando um avião cai, as causas são detectadas e a segurança é reforçada para se evitar que aconteça com outros vôos futuros. Se não fosse por isso, ainda viajaríamos em um modelo 14 bis ou até mesmo a aviação teria sido abandonada. O caos e as adversidades estarão presentes a todo momento em nossas vidas, a forma como encaramos esses momentos é o que definirá nossos resultados. Se deixar levar pelo caos, nos aproxima de uma taça de vidro. Absorver os impactos nos manterá no mesmo lugar. A evolução constante vem com a adaptabilidade em meio ao caos. Em situações adversas, não podemos nos esconder, fugir ou somente absorver os impactos. Ficaremos histericamente cegos, estagnados em nossos próprios problemas. Use os barulhos de tiro como fatores de motivação e evolua em meio ao caos. A guerra está acontecendo e a sua única certeza é a morte, você vai ficar escondido com medo ou vai avançar e conquistar o território inimigo? | ||
A história de Winters, Blithe e da Easy Company foram contadas na série Band of Brothers, ganhador de 6 Emmys Awards e dispoível na HBO. | ||
Uma semana MEGA produtiva a todos! Vamos pra cima! |