O poder do mundo pequeno

Em 1929, o jornalista e poeta húngaro Frigyes Karinthy escreveu um pequeno conto, e bastante visionário, chamado “Láncszemek”, em tradução livre “Conexões” que fazia parte de uma série de contos do livro “Minden masképpen van”, algo como “Tudo é diferente”. Neste conto em especial, é proposto um jogo, bastante curioso e interessante por sinal, para demonstrar como as pessoas estavam cada vez mais conectadas entre si do que nunca: se você escolher qualquer uma entre as bilhões de pessoas vivas no globo terrestre, Karinthy apostava que, usando não mais do que cinco indivíduos, desde que um deles fosse alguém conhecido, seria possível determinar uma rede de conexões entre as cinco pessoas, o que permitiria entrar em contato com qualquer outra pessoa do mundo usando nada além de uma rede de conexões entre pessoas. Tempos depois, essa simples brincadeira se tornaria um assunto relevante, principalmente após as descobertas de Stanley Milgram, um psicólogo americano que desenvolveu um estudo publicado na segunda edição da revista Psychology Today, em 1967. No estudo, cujo nome era “The Small World Problem”, “O problema do mundo pequeno” em português, Milgram desenvolveu uma tese de que bastavam somente seis laços de amizades ou elos para que duas pessoas pudessem se conectar em todo o mundo. Karinthy errou por pouco. Por exemplo, eu posso ter uma conexão com o atual imperador do Japão, Naruhito, utilizando não mais que seis pessoas. Posso conhecer fulano, que conhece beltrano, que conhece ciclano, que conhece o presidente Jair Bolsonaro, que conhece o chefe de estado japonês.

Esse é um estudo muito mais matemático do que psicológico. Temos em média uma conexão com cerca de 200 pessoas, e com as redes sociais hoje em dia, esse número pode extrapolar para algumas pessoas. Se aumentarmos um elo de nossa conexão, temos a possibilidade de acessar mais 200 pessoas a cada pessoa que conhecemos. Ou seja, em um contato próximo, podemos acessar no máximo 40.000 pessoas, desconsiderando as pessoas conhecidas em comum. É um número extremamente alto de possíveis conexões em um simples elo. Eu sugeriria que Stanley Milgram alterasse o nome do seu estudo para O poder do mundo pequeno, ou até melhor: O poder do Network. Network é um termo que vem do inglês, em que “net” é rede e “work” é trabalho, e significa rede de relacionamentos ou rede de contatos. Networking é o ato de cultivar uma rede de pessoas que trocam informações e conhecimentos entre si, e que pode ser muito mais poderosa do que você pensa. Em um mundo em que sua opinião pode atravessar o mundo em fração de segundos após um simples clique, é importante nos relacionar da forma correta. E não estou falando de pessoas conhecidas ou próximas. Estou falando de ir além.

Toda conversa é uma forma de aumentar sua rede de relacionamentos. Em uma roda de conversa de cinco pessoas em que quatro pessoas são desconhecidas, se você entrar neste ciclo e ficar quieto, praticamente como ouvinte, você não só está perdendo a oportunidade de conhecer quatro novas pessoas, bem como acessar a rede de 800 pessoas do elo seguinte a eles. São oportunidades de novos relacionamentos que podem gerar novos relacionamentos, trazendo benefícios diversos na área pessoas ou profissional. Pode ser nessa rede de novos contatos que apareça um excelente novo parceiro comercial, um fornecedor inovador para seu business, um médico que poderá atender o seu filho em uma emergência ou até mesmo seu próximo casamento. Cada interação é uma forma de acessar mais pessoas. Mas como podemos melhorar e aumentar nossa rede de relacionamentos? Não espere as oportunidades aparecerem, participe de eventos presenciais, busque fazer cursos de assuntos que possam te desenvolver e que você tenha interesse em prosperar, participe de fóruns de discussão, grupos de debates, grupos políticos, sociais, etc. Existe uma infinidade de maneirar de você aumentar sua rede, desde que, não fique parado. Até porque, mais importante do que acessar 200 pessoas é ter um relacionamento com elas. Contato sem relacionamento são simplesmente contatos. Temos centenas e até milhares de pessoas em nossas redes sociais, mas quantas delas podemos ligar e acessar a qualquer momento?

Por mais forte que sua rede de contatos possa ser, poucas pessoas sabem como gerenciá-la da forma mais produtiva possível. O verdadeiro networking é baseado em trocas, onde você não pode pensar apenas nos benefícios que ganha, mas principalmente no que tem a oferecer. O quão útil você pode ser para as pessoas com que se relaciona? Um networking eficaz não envolve apenas falar, mas principalmente ouvir. Até porque, se você for um grande tagarela para conquistar o outro, sua estratégia pode ir por água a baixo. Basta fazer as perguntas certas e demonstrar interesse genuíno nas respostas para criar um rapport e fortalecer nossa rede. Para manter um Network forte, siga as seguintes dicas:

• Busque manter sua rede ativa, ou seja, falar com as pessoas após o momento de contato. Seja alguém que as pessoas vão lembrar quando surgirem oportunidades;

• Não foque em quantidade e sim em relevância. Apenas um bom contato feito em um evento e ativado posteriormente pode gerar enormes benefícios;

• Caso tenha oportunidade, aproxime outras pessoas com mesmos interesses;

• Não seja um fantasma e utilize as redes sociais ao seu favor, elas conectam milhares de pessoas diariamente. Mantenha seus perfis atualizados, curta e comente posts de pessoas não tão próximas, divulgue seus projetos e ideias;

• Diga sim aos convites, mesmo que você não saiba exatamente como irá aproveitar o evento. Seja uma palestra, reunião ou simples conversa no happy hour.

O mundo é feito de relacionamentos e é fundamental tentar buscar sempre aumentar a quantidade e qualidade dos contatos em que nos relacionamos. Em alguns momentos vai ser bastante chato participar de eventos, rodas de conversas, mas mantenha seu personagem. Lembre-se que é em algum desses momentos que você pode perder a chance de tomar um saquê no Palácio Imperial Japonês.

Uma semana MEGA produtiva a todos! Vamos pra cima!