O mundo é feito de aparências. O ser humano é extremamente visual e nosso cérebro tem uma capacidade ilimitada de armazenamento de imagens, o que nos leva a fazer milhares de associações a todo o instante. Por sermos bastante visuais, a prime...
O mundo é feito de aparências. O ser humano é extremamente visual e nosso cérebro tem uma capacidade ilimitada de armazenamento de imagens, o que nos leva a fazer milhares de associações a todo o instante. Por sermos bastante visuais, a primeira impressão é a que sempre fica, então, gaste bastante tinta. Estar bem vestido, falar bem, ter um corte de cabelo arrumado tende a fazer mais influência do que qualquer outro fator. É fundamental nos vendermos, não tenha dúvidas. Porém, na hora de comprar o papo dos outros, devemos nos atentar a outros detalhes. Instintivamente, tendemos a confiar em pessoas com o perfil descrito acima, muitas vezes, sem nem entender seus reais objetivos. Por tirarmos uma impressão visual e inicial, acabamos por achar que essas pessoas são exatamente aquilo ali, sem saber o que há por trás de sua real personalidade. | ||
Convido-os para uma simples reflexão original do livro “Arriscando a própria pele – Assimetrias ocultas do cotidiano” de Nassim Nicholas Taleb: digamos que você estivesse que escolher entre dois cirurgiões neurológicos de um renomadíssimo hospital para uma cirurgia delicada. O primeiro tem cabelos grisalhos, óculos que encaixam perfeitamente com seu rosto fino, gestos elegantes e uma fala calma e que passa bastante confiança. Em sua parede constam diversos diplomas de universidades de elite e seu consultório é bastante sofisticado. O típico cirurgião de uma série médica famosa. O segundo já é o extremo oposto. Parece um açougueiro, está acima do peso, mãos grandes e fala de forma abrupta e curta, com um sotaque caipira arrastado. A camisa parece que não tem afinidade com o ferro de passar e o botão do meio constantemente abre, devido ao empuxo exercido por sua saliente barriga acima do peso, deixando seu umbigo peludo à mostra. Tem uma aparência descuidada e sua parede não tem diplomas. Provavelmente não se formou em alguma universidade de renome. Em um filme, ele estaria mais apto para o papel do guarda-costas do que do chefe da máfia. Ao avaliarmos, nosso cérebro busca as informações mais rápidas e fáceis, o que nos leva a uma sensação de conforto e afinidade. Sem dúvida alguma, decidiríamos pelo George Clooney da medicina ao invés do John Carroll Lynch desarrumado. | ||
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Porém, segundo Taleb, nossa decisão estaria bastante equivocada. Ele escolheria, sem pestanejar, pelo açougueiro. Mas qual o motivo de sua escolha? Justamente pelo fato de não ter uma aparência física adequada, porém, ser um entre os dois principais cirurgiões neurológicos de um grande hospital de referência. Isso mostra que este teve uma carreira de sucesso com todas adversidades naturais de uma carreira médica, além do fato de sua aparência não condizer com sua profissão. Ele precisou colocar sua pele em risco, ter contato direto com a realidade que não leva em consideração aparências e sim resultados, deixando de fora a incompetência. Como disse Taleb: “A realidade é cega para as aparências”. Um médico com uma aparência agradável, voz confiável e afável tende a ser adorado por mais pacientes e pela equipe do hospital. Seus diplomas endossam sua educação. Porém, nenhum desses itens o atestam como um excelente profissional. Diferentemente de esportes, em que um perfil atlético, geralmente, — há diversas exceções, como Fedor Emelianenko, considerado um dos maiores lutadores de MMA do planeta, que tem um físico de tiozão adepto à cerveja e pizza — tende a determinar uma melhor performance, mas, em outras áreas da vida, a aparência é somente uma forma de o nosso cérebro nos enganar e fazer com que nossas ações racionais se tornem impulsos de intuição e afinidade. | ||
De toda forma, devemos ter a consciência de que o que vende o produto é a embalagem e o que mantém o consumidor é o produto. Nem todos pensam racionalmente e fazem uma análise dissecada como Taleb na hora de se relacionar pessoalmente ou profissionalmente com alguém. Na verdade, quase ninguém faz. Aparência é uma ferramenta fundamental. A imagem tem muita força e devemos sempre buscar passar a melhor impressão inicial em relação aos objetivos que almejamos. Porém, quando estivermos do outro lado do balcão, lembre-se desse insight. Tome o controle do seu cérebro e tente raciocinar ao invés de reagir. Nem sempre uma boa aparência vende uma boa pessoa da mesma forma que uma má aparência não significa despreparo. Pelo contrário, uma má aparência em posição de destaque mostra que o caminho percorrido não foi nem um pouco fácil. Venda-se como George Clooney, mas compre o açougueiro. | ||
Uma semana MEGA produtiva a todos! Vamos pra cima! |