(LIVRO NOVO) San Marino, 1989: O início da guerra Prost-Senna
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(LIVRO NOVO) San Marino, 1989: O início da guerra Prost-Senna

O trecho a seguir é o primeiro capítulo de meu novo livro, que trará cerca de 45 histórias da Fórmula 1 dos anos 1990, minha década preferida. Este primeiro capítulo estará disponível para todos os inscritos no mailing. Depois, cada capítulo ...

Antony Curti
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O trecho a seguir é o primeiro capítulo de meu novo livro, que trará cerca de 45 histórias da Fórmula 1 dos anos 1990, minha década preferida. Este primeiro capítulo estará disponível para todos os inscritos no mailing. Depois, cada capítulo será publicado aqui assim que finalizado e revisado. Quando todos estiverem prontos, o ebook será lançado na Amazon (ainda vou ver a possibilidade de livro físico).

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Pergunte a um fã casual de Fórmula 1 do início dos anos 1990 quantos nomes de curvas ele conhece. Provavelmente, poucas. Mas diga o nome Tamburello. Com certeza ele saberá do que você está falando. 

Curva que vitimou Ayrton Senna em 1994, a Tamburello esteve nos livros de história da Fórmula 1 por outras vezes que, obviamente, ficaram ofuscadas – também, pudera. Em 1987, Nelson Piquet perdeu controle de sua Williams na saída da curva com um pneu furado e se chocou com o muro sem proteção. Segundo ele, nunca mais foi o mesmo depois da forte batida que lhe impediu de participar da corrida. "“Depois do acidente em Ímola nunca mais fui o mesmo. Minha carreira acabou mesmo no meu acidente na Tamburello. Depois disso decidi ganhar só dinheiro”, disse. 

Em 1989, um coadjuvante acabou mudando os rumos do final da década, de sua própria história e do início da década seguinte. Sem querer, claro. O austríaco Gerhard Berger perdeu o controle de sua Ferrari na quarta volta na entrada da Tamburello por falha mecânica. Chocou-se com o muro a 290 km/h e seu carro pegou fogo. Com o trabalho rápido dos fiscais de pista, o incêndio foi apagado e Berger teve sua vida salva. 

Parece um incidente isolado de corrida e que não teria muitas ramificações no futuro da modalidade. Mas teve. Para entender isso, é preciso voltar à temporada anterior.

 Em 1988, a McLaren não tinha apenas a melhor dupla de pilotos em Alain Prost e Ayrton Senna. Tinha o melhor carro no MP4/4 de Gordon Murray, Steve Nichols e Neil Oatley. Para completar, o motor Honda era imbatível naquela temporada. Como resultado, todas as corridas menos uma – o Grande Prêmio da Itália, em história que um dia conto – foram vencidas pela equipe. 

Como você deve imaginar, o domínio do carro no ano posterior seria semelhante. Embora 1989 tenha sido o primeiro ano sem os motores turbo, o design do MP4/4 manteve-se semelhante no carro de 1989, o MP4/5. O chassi certamente era vencedor e assim se provou: em duas temporadas, ele teve 16 vitórias, 27 pódios e 263 pontos acumulados. Naquela tarde no Autódromo Enzo e Dino Ferrari, era plausível imaginar que ou Prost ou Senna sairiam com a vitória. Afinal, largaram na primeira fila. 

Mas é preciso ir mais à fundo nessa questão e nessa garantia de vitória vermelha-e-branca. Havia um acordo de cavalheiros na McLaren – a pedido de Senna, frise-se. Quem largasse na frente não seria incomodado na Tamburello até a Tosa, a segunda curva do circuito que era feita em segunda marcha no final de um longo ponto de aceleração. O acordo era um tanto quanto necessário. Primeiro porque a Ferrari vencera a primeira etapa do Mundial daquele ano, então seria prudente não correr riscos, ainda mais no conjunto de curvas Tamburello-Villeneuve numa pista estreita como a de Imola. Faria sentido pelos pontos preciosos que poderiam ir para o buraco em caso de abandono e também pela segurança. Até porque a tendência era que as duas McLaren abrissem vantagem – e aí sim poderiam duelar sem mais problemas. 

Então, na primeira largada, Senna largou na pole – como fez e faria em tantas outras vezes em Imola, numa ironia do destino o circuito onde ele mais largou na frente. Até a Tosa, não foi incomodado por Prost – nem poderia, porque Nigel Mansell atacou o francês e quase passou. Veio a volta 4 e Berger bateu. A corrida parou. 

Como efeito da bandeira vermelha, nova largada e ambos na primeira fila. Na relargada, Prost foi melhor e pulou na ponta antes da Tosa. Chegando lá, Ayrton forçou e passou. Foi o estopim de uma guerra que vinha de mais de um ano. Em 1988, uma guerra mais fria. Nas entrevistas, seja no pré ou pós-corrida, era nítido o desconforto e a falta de amizade entre ambos. Não que pilotos necessariamente sejam amigos sempre, mas a tensão no ar era nítida. No Grande Prêmio de Portugal, a tensão quase explodiu de vez quando Senna espremeu Prost na reta do circuito do Estoril. Em Ímola, a gota d’água de um capricho do destino. Não fosse a batida de Berger e a relargada, não haveria motivo para que houvesse dúvidas se o acordo valeria para a relargada ou não. 

Senna venceu e colou em Prost no campeonato, 12 a 9.  No pódio, com Senna em primeiro, Prost em segundo e o italiano Alessandro Nannini em terceiro, o desconforto era nítido. Os dois não se olhavam. Bateram palmas quando o colega da Benetton levantou o troféu de terceiro. Nenhum olhar trocado entre o brasileiro e o francês. Quando veio a hora do champagne, a irritação de Prost era nítida. Coçou o olho, olhou para baixo. Deu um sorriso amarelo quando estourou sua rolha. Depois de bastante trabalho, Senna estourou a garrafa e jogara um pouco em Alain, que abriu a palma da mão como se pedisse para parar. 

Nas coletivas após a prova, Senna não parecia feliz com a vitória. Sua cara estava mais fechada, com um quê de preocupação e sabendo que a bomba estava prestes a estourar com seu companheiro de equipe.

– Ayrton, você estava sob muita pressão nessa corrida, não?  – o repórter oficial da FOCA perguntou e parecia sentir a tensão no ar. Com um olhar meio distante e pensando no futuro belicoso que viria, Senna respondeu: 

– Foi uma boa corrida, uma boa briga entre Alain e eu… Depois da primeira (pausa) largada, tivemos que fazer de novo e ele largou (pausa) melhor, e aí com a Ferrari atrás de mim eu (respiro fundo) lhe passei no final da reta”. 

Enquanto isso, Prost fugiu de todos os jornalistas que podia e sequer compareceu à coletiva de imprensa – o que lhe renderia uma multa de 5 mil dólares imposta pela FIA. Trancou-se no motorhome da McLaren e prepara a ignição no barril de pólvora. Para ele, o acordo deveria ser cumprido na relargada. Para Senna, só valeria para a primeira. A Ron Dennis, chefe da equipe, reclama que o pacto – cuja ideia havia sido de Senna – foi quebrado e que Dennis – que àquela altura do campeonato todos sabiam que estava apaixonado pelo talento de Ayrton – não era firme o suficiente. Ron Dennis marca uma reunião entre ambos para acertar as arestas antes da próxima etapa, o Grande Prêmio de Mônaco. 

O francês colocou apertou o botão de lançar mísseis e a guerra fria acabou às vésperas da corrida seguinte. Fez o que fazia de melhor: usando as páginas do periódico esportivo L’Equipe, o principal da França, para expor a situação. Alain revelou que na reunião entre ele, Dennis e Senna, o brasileiro foi se desculpou e que ao tomar uma bronca de seu chefe, tinha lágrimas nos olhos. Foi o bastante para que Ayrton selasse o destino do relacionamento entre ambos naquela temporada. “Ao revelar o conteúdo de nossa reunião, Prost quebrou tudo. As coisas nunca mais serão as mesmas”.

Tudo foi para o ventilador. Prost começou a reclamar que haveria favorecimento da Honda a Senna, com motores que tinham uma etiqueta “especialmente para Ayrton”. O campeonato foi se desenrolando e os dois não se falavam. Quando um entrava no motorhome, o outro saía. Engenheiros pararam de compartilhar informações. Isso tudo culminaria no Grande Prêmio do Japão, alguns meses depois. Valendo o campeonato… Os dois literalmente não passariam juntos de uma última curva. 

>> Para assinar o canal e ter acesso antecipado ao conteúdo do livro, te espero na home: curti.pingback.com – custa apenas R$ 5,90 por mês, convenhamos que se você abrir o iFood nem uma Coca dá para comprar com isso hehe. Só venham!