Freud, Marx e as Estruturas Antropológicas do Imaginário

Para melhor esclarecer o ponto de partida de Durand, compararemos Durand aos pressupostos que norteiam o pensamento de outros dois teóricos que fundaram perspectivas surpreendentemente consistentes e reveladoras da psique e da sociedade humanas, assim como, contribuíram para a constituição e desenvolvimento de diversas áreas do conhecimen­to, Freud e Marx.

Para Marx, a compreensão da sociedade humana não pode partir, por exemplo, do trajeto introspectivo de um racionalismo cartesiano, pois são as condições materiais existentes na sociedade que determinam tanto as diferentes formas de sociabilidade quanto as ideias que circulam em determinada época.

Sigmund Freud, ao contrário de Marx, não parte da sociedade para compreender o homem e suas relações sociais, mas da psique humana. Para Freud, a causa de grande parte dos incidentes que determinam as ações do indivíduo provém da psique, e o motor que propulsiona a psique é a libido. Para Freud, a psique é espécie de reservatório da biografia com­pleta do indivíduo; no entanto, apenas uma pequena parte desse reserva­tório é acessível à consciência humana, sendo a maior parte inacessível, esta denominada de inconsciente. No inconsciente, entre outros elemen­tos, são armazenados interditos oriundos do embate entre a necessidade irreprimível de satisfação da libido e a contrapulsão da censura que frustra a satisfação libidinal. Entretanto, Freud observa que a contrapulsão da censura frustra apenas a satisfação direta da libido, mas não é capaz de neutralizar a força libidinal. Consequentemente, a libido manifestar-se­-á por meio de vias marginais, e esses caminhos alternativos resultantes dos bloqueios da libido são figurativizados nas imagens. Desse modo, a compreensão da relação entre psiquismo humano e pulsão libidinal é fundamental para a compreensão do indivíduo na teoria freudiana, e é a interpretação das imagens que possibilita decifrar como a pulsão libidinal, a contrapulsão da censura, as causas da censura e os interditos recalcados no inconsciente pela censura constituem cada indivíduo.