Para Levi-Strauss tudo que é bom para pensar, então, é bom para comer, ou seja, é pensar o que se come, o que a comida diz, o que comunica e se faz comunicar por meio dela. Essa afirmação nos faz...
Para Levi-Strauss tudo que é bom para pensar, então, é bom para comer, ou seja, é pensar o que se come, o que a comida diz, o que comunica e se faz comunicar por meio dela. Essa afirmação nos faz refletir sobre o culturalismo e o estruturalismo. Ele sustenta que a comida é boa para pensar e, em consequência, boa para comer, na medida em que os alimentos devem ser primeiro considerados comestíveis por nossa mente, aceitos por seus significados sociais e, depois, digeridos pelo nosso organismo. Primeiro, pensamo-los e, se aptos para nosso espírito, comemo-los. Como linguagem, afirma Lévi-Strauss, a cozinha é uma atividade universal presente em qualquer sociedade humana e está configurada por um sistema de traços culinários que contrastam e relacionam-se entre si. |
No Brasil, o antropólogo Carlos Rodrigues Brandão faz abordagem semelhante à proposta citada por Levi-Strauss. O estudo dele baseia-se, sobretudo, no significado dos alimentos e na aplicação binária proposta por Lévi-Strauss para interpretar e explicar os alimentos como: frio x quente, forte x fraco, reimoso e sem reima. O antropólogo Roberto Da Matta enfatiza que a comida, com suas possibilidades simbólicas, permite realizar uma importante mediação entre cabeça e barriga, entre corpo e alma. Há um equilíbrio e síntese entre o olho e a barriga, o que possibilita operar simultaneamente com uma série de códigos culturais que normalmente distinguem o salgado do doce e do amargo; o gostoso do péssimo; o quente do frio. Brandão aprofundou essa discussão e elabora uma tipologia, com base em Levi-Strauss na qual crenças e costumes de sertanejos do Brasil Central definem o quente e o frio dos alimentos. Para Brandão, quente não é especificamente uma referência à temperatura do alimento. É de crer que tal classificação dos alimentos em quente e frio tenha uma relação com a capacidade de estes serem considerados ofensivos ao aparelho digestivo, ao fígado e ao estômago. Em um estudo sobre o Plantar, colher e comer feito com os lavradores de Mossâmedes, município goiano, Carlos Rodrigues Brandão apresenta uma análise interessante da percepção dos lavradores sobre alimentos e natureza. Aqueles lavradores estabelecem uma distinção entre: a) aquilo que é da natureza; b) o que se usa da natureza; c) o que não serve para comer; d) o que é comestível. Os homens não comem madeira e uma grande quantidade de vegetais e de animais, afirmam aqueles lavradores de Mossâmedes, embora se saiba que pessoas de outros lugares podem comer animais como o preá, o teiú, a cobra e o rato. Assim, a natureza não comestível é aquela não-apropriada. Segundo nesse mesmo estudo de Brandão, há um conjunto de produtos obtidos da natureza reconhecidos como ingeríveis pela boca e que não são considerados um tipo de comida. Estão nessa categoria `a água e os remédios e, numa categoria intermediária, situa-se aquilo que se põe “na comida”, como o sal e outros temperos. Pode-se concluir que nem tudo que é potencialmente comestível na natureza pode ser comido pelo homem, porque certos alimentos não devem ser comidos também por certos tipos de pessoas. |