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Um homem, de negócios, sério e muito inteligente entra em uma das salas do seu escritório em Nova York. A sala é da sua Coach pessoal (!). Ele começa dizendo: | ||
Esse é o início de um diálogo de Bobby Axelrod com a Wendy Rhodes, da série Billions, uma das minhas séries favoritas. Fica ao lado (perde por pouco) de Suits. Eu sei. Calma. Vou deixar pra discutir séries boas (e ruins) em outro momento. Mas essas duas séries romantizam e glamorizam exatamente o que está me deixando profundamente doente e provavelmente você também, mas principalmente a sociedade moderna: o desempenho. | ||
A sociedade do desempenho, termo que vi pela primeira vez lendo o livro a A Sociedade do Cansaço de Byung-Chul Han. Nesse livro, ele retrata de maneira objetiva e muito sintética, como as pessoas estão se tornando escravas delas mesmos e como isso tem levado a todos para um estado de doença neuronal. | ||
Se antes existia demonização da hierarquia corporativa, onde o chefe, do topo da pirâmide, atordoava todos os outros níveis com diversos tipos de pressão, hoje esse "chefe” se tornou desnecessário, pois nós mesmos nos tornamos o nosso próprio carrasco. | ||
Em um mundo onde Harvey Specter e Bobby Axelrod são ídolos, o gif animado do bom dia da família se mistura com as responsabilidades do trabalho. Nunca o escravizado ficou tão perto do seu senhor como atualmente. A sociedade do século XXI é marcada por uma doença viral chamada desempenho. | ||
“O excesso de trabalho e desempenho agudiza-se numa autoexploração. Essa é mais eficiente que uma exploração do outro, pois caminha de mãos dadas com o sentimento de liberdade. O explorador é ao mesmo tempo o explorado.” — A Sociedade do Desempenho, Chul Han | ||
Eu não sei você, mas eu estou exausto e sempre insatisfeito. Quando assisto a abertura de Suits com a música Greenback Boogie da Ima Robot, fico inflado por uma sensação/motivação falsa de que eu posso ser alguém tão perspicaz, comunicativo e influente (sem falar de bonito) quanto o Harvey Specter, mas quando o capítulo acaba e eu volto para a vida real, o choque é instantâneo. Por mais resultados positivos que eu consiga, por mais longe que eu chegue, eu ainda continuo insatisfeito com o meu desempenho. Mais inconformado fico com o (suposto) desempenho mediano de uns e mais inseguro pelo (suposto) desempenho incrível de outros. | ||
Byung-Chul Han é taxativo sobre o quão desgastadas mentalmente as pessoas estão ultimamente por simplesmente perseguirem desempenho. Essa situação é interessante porque, quanto mais tentamos alcançar patamares mais altos de desempenho, mais ficamos cansados, e quanto mais cansados, mais esvaziados de energia ficamos, o que nos dificulta cumprir com nossos objetivos. Isso cria um ciclo de destruição progressiva. | ||
Depois que Bobby Axelrod termina de dizer as palavras do início deste texto, a Wendy responde: | ||
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