Fiquei entre gênio e mago. As duas qualificações são perfeitamente cabíveis a Lula, em seu retorno ao horário nobre da TV aberta para uma campanha eleitoral. Se o conteúdo da sua fala não agrada a todos, a forma se mostra impecável como sempr...
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Fiquei entre gênio e mago. As duas qualificações são perfeitamente cabíveis a Lula, em seu retorno ao horário nobre da TV aberta para uma campanha eleitoral. Se o conteúdo da sua fala não agrada a todos, a forma se mostra impecável como sempre. O petista usou com maestria as metáforas para ser didático e não perdeu a firmeza e a convicção quando foi preciso. Além disso, usou e abusou do carisma que lhe é característico. | ||
Não foi perfeito. Quando criticou a parcela reacionária e estúpida do agronegócio, deu munição para o bolsonarismo tirar sua fala de contexto e espalhar fake news que o coloca como candidato contrário ao agronegócio. Fora isso, não deu muito espaço para as interpelações da dupla entrevistadora. Soube até usar a entrevista como um palanque para conquistar o grupo de indecisos, que gira em torno de 7% do eleitorado e que pode decidir a vitória no primeiro turno, juntamente com os possíveis votos úteis que inevitavelmente sairão do eleitorado de Ciro Gomes. | ||
Gostei muito da forma como o ex-presidente se preparou para a entrevista. Quando Bonner citou o nome de Dilma Rousseff, Lula já abriu um confiante sorriso no rosto, característico daqueles entrevistados bem preparados, que já vêm com a resposta na ponta da língua. Dito e feito. Lula não só evitou colocar a ex-presidenta no fogo, como também fez críticas aos dois principais pontos negativos de seus mandatos, na economia: a manipulação de preços (combustíveis e energia elétrica) e a desoneração fiscal (que provocou boa parte da crise fiscal que ainda vivemos). | ||
Imagino que Lula deva ter conquistado votos na noite de ontem. O brasileiro médio não tem 3G sobrando nem o hábito da leitura para se informar (ou se desinformar) nas redes. O Jornal do Bonner ainda alcança muita gente e, em um cenário no qual nenhum dos três principais candidatos cometeu um grande deslize, aquele que lidera a corrida eleitoral, no mínimo, sai em vantagem. | ||
Mais do que isso, o ex-presidente trabalhou com a memória do eleitor. Lembrou a ele que em seu governo, comia-se mais e melhor. No limite, é isso que importa! Seu poder de convencimento (volto às metáforas) é enorme. Prometeu a volta da picanha com a cervejinha! Um sonho distante para quem hoje paga R$30,00 no quilo do peito de frango em algumas cidades. | ||
Não nos enganemos, é esse brasileiro que decidirá as eleições, seja ele evangélico, católico ou ubandista. Não somos nós, aqueles que debatem nas redes sociais, que se veem mais capacitados a raciocinar o contexto nacional, ou que militam em nome de uma ideologia. Nesse contexto, as chances de Lula são muito maiores que as dos demais. | ||
Findadas as entrevistas dos três principais candidatos, o saldo é bastante positivo para Lula: Bolsonaro sofreu com a antipatia (bastante justificada) dos entrevistadores e Ciro Gomes falou muito bem para pouca gente. Seria muito difícil ver uma derrota do petista em outubro. | ||
Jô Soares certa vez afirmou que o eleitor brasileiro se assemelha a um sujeito que aposta em corridas de cavalos. Ele busca sempre aquele candidato que ele imagina será o vencedor. Hoje, Lula dá a impressão a todos nós de que ele será o vencedor, o que lhe favorece na busca de mais alguns milhões de votos para liquidar a fatura no primeiro turno. A saber… | ||
PS: Não poderia deixar de elogiar, também, a defesa do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST, em rede nacional. Haverá o momento oportuno para falar um pouco mais de mitos usados pela extrema direita aqui nesse diário, mas adianto este a vocês, afinal, o MST apresenta enormes possibilidades para o futuro sustentável do Brasil, as quais poucos têm consciência. | ||
PPS: Lula ainda deu uma cutucada no Bolsonaro, chamando-o de bobo da corte. Conhecendo a fraqueza emocional do atual presidente, também imagino ter sido um golpe planejado. |