Em 1966, o Brasil vivia os primeiros anos da Ditadura Militar. Ainda não eram os anos de chumbo, mas os primeiros atos institucionais já haviam prendido opositores, cassado mandatos, fechado sindicatos e uniões estudantis, e perseguido milita...
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Em 1966, o Brasil vivia os primeiros anos da Ditadura Militar. Ainda não eram os anos de chumbo, mas os primeiros atos institucionais já haviam prendido opositores, cassado mandatos, fechado sindicatos e uniões estudantis, e perseguido militares de esquerda. Para os aliados do golpe, entretanto, foi um período de oportunidades. O Coronel José Guilherme Ferreira, então chefe do gabinete militar do ex-governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto (que desgraçadamente ainda é homenageado no maior palco do futebol mineiro), foi agraciado com o controle da Federação Mineira de Futebol, assumindo sua presidência. | ||
Marcelo Aro é neto do Coronel José Guilherme Ferreira. O candidato ao Senado Federal pelo PP é, pois, herdeiro de muito poder e influência no futebol e na política. Sua família, desde a ascensão de seu avô à presidência da FMF, dá as cartas no futebol do estado, colhendo os benefícios políticos de tanto poder sobre esse bem público nacional. | ||
Com apenas 25 anos, em 2012, Marcelo Aro foi eleito vereador de Belo Horizonte. Já em 2014, engatou uma eleição para deputado federal. No ano seguinte, em 2015, o prodígio foi, meritocraticamente é claro, convidado por Marco Polo Del Nero (ex-presidente da CBF banido do futebol pela FIFA por acusação de corrupção e recebimento de propina) para assumir o cargo de diretor de Ética e Transparência da CBF. | ||
Hoje, Marcelo Aro se apresenta como “candidato do Zema” ao Senado Federal. | ||
Muito me estranha o design de seu material de campanha. Apesar da cor característica de seu partido (Progressistas) ser azul, Aro utiliza o laranja do Partido Novo e de Romeu Zema. Será que líderes do PP, como Artur Lira e Ciro Nogueira, opinaram sobre a decisão? | ||
Apesar de não integrar o partido de Romeu Zema, Aro combina bastante bem com as pautas do Novo. Como deputado federal, nos últimos anos, Aro votou: | ||
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Apesar de usar a paleta de cores do Partido Novo, Marcelo Aro se parece mesmo é com o Centrão. Em uma lista divulgada pelo jornal O Globo, com os nomes de 209 parlamentares que receberam R$3,2 bilhões pelo orçamento secreto, consta que o deputado mineiro recebeu R$6,95 milhões. Seu partido foi o quarto mais beneficiado pelo esquema, atrás somente do PSD (de Alexandre Silveira), DEM e MDB. | ||
Para quem não sabe, e com devido cuidado e eufemismo, o orçamento secreto tem sido utilizado pelo governo Bolsonaro como mecanismo para conquistar o apoio do Congresso Nacional e, ao mesmo tempo, evitar fiscalizações contra corrupção. | ||
É nesse contexto que Marcelo Aro se apresenta como possível representante dos interesses de Minas Gerais no Senado. | ||
Mas poucos falam sobre ou conhecem sua história política, sustentada pelo mais tradicional patriarcalismo. Sua família, favorecida pelo regime militar, até hoje está à frente da FMF (seu irmão, Adriano, preside a instituição) e transita nos salões políticos mais poderosos de Minas Gerais e do Brasil. | ||
Fosse nordestino, Marcelo Aro certamente receberia a alcunha (preconceituosa, claro) de “Coroné do futebol”. | ||
PS: O candidato já declarou seu apoio a Bolsonaro na eleição para Presidente. |