Dia 21 (5 de setembro) - Futebol e política, uma mistura perfeita!
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Dia 21 (5 de setembro) - Futebol e política, uma mistura perfeita!

Em 1966, o Brasil vivia os primeiros anos da Ditadura Militar. Ainda não eram os anos de chumbo, mas os primeiros atos institucionais já haviam prendido opositores, cassado mandatos, fechado sindicatos e uniões estudantis, e perseguido milita...

Diogo Machado
4 min
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Marcelo Aro (PP) e Jair Bolsonaro (PL)
Marcelo Aro (PP) e Jair Bolsonaro (PL)

Em 1966, o Brasil vivia os primeiros anos da Ditadura Militar. Ainda não eram os anos de chumbo, mas os primeiros atos institucionais já haviam prendido opositores, cassado mandatos, fechado sindicatos e uniões estudantis, e perseguido militares de esquerda. Para os aliados do golpe, entretanto, foi um período de oportunidades. O Coronel José Guilherme Ferreira, então chefe do gabinete militar do ex-governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto (que desgraçadamente ainda é homenageado no maior palco do futebol mineiro), foi agraciado com o controle da Federação Mineira de Futebol, assumindo sua presidência.

Marcelo Aro é neto do Coronel José Guilherme Ferreira. O candidato ao Senado Federal pelo PP é, pois, herdeiro de muito poder e influência no futebol e na política. Sua família, desde a ascensão de seu avô à presidência da FMF, dá as cartas no futebol do estado, colhendo os benefícios políticos de tanto poder sobre esse bem público nacional.

Com apenas 25 anos, em 2012, Marcelo Aro foi eleito vereador de Belo Horizonte. Já em 2014, engatou uma eleição para deputado federal. No ano seguinte, em 2015, o prodígio foi, meritocraticamente é claro, convidado por Marco Polo Del Nero (ex-presidente da CBF banido do futebol pela FIFA por acusação de corrupção e recebimento de propina) para assumir o cargo de diretor de Ética e Transparência da CBF.

Hoje, Marcelo Aro se apresenta como “candidato do Zema” ao Senado Federal.

Muito me estranha o design de seu material de campanha. Apesar da cor característica de seu partido (Progressistas) ser azul, Aro utiliza o laranja do Partido Novo e de Romeu Zema. Será que  líderes do PP, como Artur Lira e Ciro Nogueira, opinaram sobre a decisão? 

Apesar de não integrar o partido de Romeu Zema, Aro combina bastante bem com as pautas do Novo. Como deputado federal, nos últimos anos, Aro votou:

  • A favor do processo de impeachment contra Dilma Rousseff em 2016 (mas se ausentou na votação que cassou o mandato de Eduardo Cunha, no mesmo ano);
  • A favor da Reforma Trabalhista de 2017;
  • A favor da PEC dos Precatórios (na minha opinião, um absurdo inconstitucional);
  • Foi contrário ao afrouxamento das regras da reforma da previdência para professores, mas apoiou a mesma medida para policiais;
  • A favor da Reforma da Previdência de Paulo Guedes que, provavelmente, nos levará a um caminho semelhante ao que o Chile vive atualmente;
  • A favor da privatização da Eletrobrás; e
  • A favor do aumento do valor do fundo eleitoral (o que para muitos é um problema).

Apesar de usar a paleta de cores do Partido Novo, Marcelo Aro se parece mesmo é com o Centrão. Em uma lista divulgada pelo jornal O Globo, com os nomes de 209 parlamentares que receberam R$3,2 bilhões pelo orçamento secreto, consta que o deputado mineiro recebeu R$6,95 milhões. Seu partido foi o quarto mais beneficiado pelo esquema, atrás somente do PSD (de Alexandre Silveira), DEM e MDB.

Para quem não sabe, e com devido cuidado e eufemismo, o orçamento secreto tem sido utilizado pelo governo Bolsonaro como mecanismo para conquistar o apoio do Congresso Nacional e, ao mesmo tempo, evitar fiscalizações contra corrupção.

É nesse contexto que Marcelo Aro se apresenta como possível representante dos interesses de Minas Gerais no Senado. 

Mas poucos falam sobre ou conhecem sua história política, sustentada pelo mais tradicional patriarcalismo. Sua família, favorecida pelo regime militar, até hoje está à frente da FMF (seu irmão, Adriano, preside a instituição) e transita nos salões políticos mais poderosos de Minas Gerais e do Brasil.

Fosse nordestino, Marcelo Aro certamente receberia a alcunha (preconceituosa, claro) de “Coroné do futebol”.

PS: O candidato já declarou seu apoio a Bolsonaro na eleição para Presidente.