Dia 27 (11 de setembro) - Se eu fosse Ciro Gomes
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Dia 27 (11 de setembro) - Se eu fosse Ciro Gomes

Na sexta-feira, dia 9, a pesquisa Datafolha revelou queda de 2 pontos percentuais de Ciro Gomes e aumento correspondente na preferência do eleitor por Bolsonaro. As redes sociais da esquerda, sobretudo a petista, foram à loucura. Houve muita ...

Diogo Machado
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Leonel Brizola e Darcy Ribeiro
Leonel Brizola e Darcy Ribeiro

Na sexta-feira, dia 9, a pesquisa Datafolha revelou queda de 2 pontos percentuais de Ciro Gomes e aumento correspondente na preferência do eleitor por Bolsonaro. As redes sociais da esquerda, sobretudo a petista, foram à loucura. Houve muita crítica contra Ciro e sua campanha, pois os constantes ataques a Lula estariam contribuindo para o crescimento do atual presidente nas pesquisas.
Há exageros e verdades nesse raciocínio. 
É certo que aproximadamente 30% do eleitorado do Ciro Gomes rejeita votar em Lula de qualquer maneira. São os chamados antipetistas. Naturalmente, à medida que o processo de campanha eleitoral se vai estendendo, parte desses eleitores buscarão o voto útil à direita, para fortalecer o candidato que seria sua escolha no segundo turno. Os ataques de Ciro ao petista, então, jogam contra sua própria campanha, pois incentiva involuntariamente esses eleitores a abandonar a jangada da campanha do “cearense”.
Além disso, os ataques (muitas vezes injustos, como aquele que colocou em xeque a saúde do ex-presidente) contribuem para alimentar a rede de vídeos e memes da extrema direita. Ora, se o Ciro busca lutar contra o tão odiado fascismo, não seria prudente focar seus ataques contra Bolsonaro? Sim, caro leitor, eu sei que as chances de conquistar votos à esquerda são maiores. No entanto, há que se preservar, antes de qualquer coisa, a sobrevivência de nossa democracia.
Os outros 70% do eleitorado de Ciro Gomes são compostos por eleitores que jamais votariam em Bolsonaro e, muito provavelmente, votariam em Lula no segundo turno. Prova disso é a fácil vitória do petista no segundo turno contra o atual presidente. É matemática simples.
Esses 70% não são votos garantidos, contudo. A militância do PDT e de Ciro, apesar de barulhenta nas redes sociais, não é muito grande. A maior parte dos seus eleitores compreende pessoas que buscam um projeto de governo sério, bem articulado e com perspectiva de promover um salto qualitativo na gestão política nacional e nos indicadores sociais, especialmente em ganhos de produtividade do trabalhador e em níveis de escolaridade. 
Esses eleitores não se comprometem com personalidades. Eles não são fiéis a nenhum profeta político ou santidade ideológica. Seu voto é estudado e racional. Sendo assim, quando Ciro ataca Lula e contribui, direta ou indiretamente, para o crescimento bolsonarista, essa parcela de seu eleitorado passa a se questionar sobre seu voto no primeiro turno, afinal de contas, antes de qualquer projeto de governo vem a defesa da Democracia, a defesa dos povos indígenas, do meio ambiente etc.
O cenário não está favorável para o pedetista. Ainda assim, há uma saída inteligente para o problema. 
Em se considerando que Ciro Gomes propagandeia a importância de se eleger ideias no lugar de candidatos, ele deveria pensar com muito carinho na possibilidade de eleger seu programa de governo, mesmo que ele próprio não seja eleito.
Ora, seus 8% do eleitorado, em 2022, representam milhões de votos que podem decidir ou não as eleições no primeiro turno. Considerando, ainda, que 70% desses eleitores naturalmente migrariam para Lula em um segundo turno contra Bolsonaro, o capital político que Ciro possui nestas últimas semanas de primeiro turno é enorme. Seu apoio agora, pode decidir tudo.
Desse modo, negociar um apoio ao PT no primeiro turno - com voto crítico a Lula - seria a oportunidade perfeita para eleger seu Plano Nacional de Desenvolvimento. O PDT poderia tentar o nome de Mauro Benevides Filho para o Ministério da Economia. Poderia também buscar a pasta da Educação, afinal, o MEC tem sido dilapidado desde o primeiro dia desse desgoverno bolsonarista. Os números da educação básica no Ceará são um forte argumento para o pleito e a histórica plataforma de Leonel Brizola e de Darcy Ribeiro seria finalmente colocada em marcha.
Não creio, contudo, que o candidato Ciro Gomes se colocará em segundo plano. Parece que os bastidores da política falam mais alto nesse caso específico. As alegadas traições do Partido dos Trabalhadores contra sua pessoa devem doer demais para ele colocar o PND antes de si mesmo.
Mas sua inação em relação à situação presente pode custar caro, não para sua imagem, como tentam emplacar os militantes do PT e a imprensa de esquerda, mas para nós, brasileiros eleitores do PND. Este sim deve ser levado em consideração antes de qualquer decisão político-eleitoral.
Cuidado, Ciro... Cuidado, PDT… os próximos dias serão fundamentais para as eleições e para o futuro de milhões de crianças brasileiras, que merecem uma educação digna de seu potencial.