Luciano comemora gol do São Paulo contra o América-MG — Foto: Fernando Moreno/AGIF
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Brasil, país do futebol… | ||
Saio da desnecessariamente emocionante partida entre América e São Paulo para fazer uma reflexão rápida no dia de hoje. | ||
Já ouvi de muita gente, nos meus 18 anos de belo-horizontino, que boa parte da torcida do América Mineiro é composta pela dita elite de BH (hoje não foi diferente). Isso me fez lembrar de um episódio que envolve parte da elite brasileira. | ||
Apareceu, em vários meios de comunicação, que empresários brasileiros de certo sucesso, como o “véio da Havan”, teriam dito, em um grupo de Whatsapp, que prefeririam um golpe de Estado à vitória do Lula, em 2022. | ||
Isso me fez refletir a respeito da elite brasileira. Não necessariamente a respeito de empresários bolsonaristas, mas da elite como um todo. | ||
A história brasileira coleciona eventos sociopolíticos que beneficiaram a elite econômica do país em detrimento do restante da população, como a Lei de Terras, de 1850, que contribuiu para a concentração fundiária e o prolongamento da escravidão, ou a incipiente cobrança do imposto de renda que, durante anos, recaiu exclusivamente sobre o funcionalismo público. | ||
Atualmente, a elite nacional teme perder sua ampla influência sobre algumas das instituições brasileiras, sobretudo o Poder Executivo, afinal, a “ameaça comunista” estaria colocando em risco toda a estabilidade do país e, por conseguinte, suas fortunas. | ||
Na verdade, contudo, a elite brasileira teme perder privilégios, que custaram centenas de anos para serem edificados. Desde a constituição da Guarda Nacional e seus coronéis nomeados pelo poder central do Império, em 1832, até o atual teto de 8% sobre o imposto de heranças, a elite brasileira se beneficia de normas que lhe dão mais e mais poder sobre o restante da população brasileira. | ||
Hoje, os “véios da Havan” provavelmente temem perder privilégios, como aqueles que a Reforma Trabalhista concederam, ou isenções fiscais nebulosas que os beneficiam. No todo, preferem a ruptura democrática ao risco de perderem suas benesses (se é que o Lula iria trazer alguma real ameaça). Argumentam ainda que investidores internacionais, caso o “petê” volte ao poder, deixarão de investir no Brasil. | ||
Tolos, todos eles… | ||
Ainda assim, sem querer e ter capacidade analítica para acertar, eles podem tropeçar em uma realidade global que, hoje, está bastante incerta. Quem pode afirmar que, em 2023, o mundo estará realmente preocupado com o respeito à democracia, para calcular o portfólio de investimentos de um fundo qualquer? | ||
Você, leitor, acha mesmo que um país como a China, ou como a Rússia, estaria preocupado com as instituições democráticas brasileiras para decidirem sobre a compra de um poço de petróleo na nossa costa? Ou mesmo os EUA, os campeões ocidentais da democracia, estariam preocupados com as instituições políticas brasileiras caso não lhes fosse conveniente em uma nova “batalha” por influência contra os chineses e os russos? | ||
Esse exercício de abstração serve para dizer que não há garantias de que um rompimento institucional, no Brasil, seria impossível aos olhos dos atores internacionais de maior importância geopolítica, afinal, estamos em um período da história repleto de incertezas. | ||
Lembro que golpes de Estado dificilmente teriam vingado, no passado, sem o apoio de elites econômicas. É preciso, pois, manter nossos olhos atentos a quaisquer arroubos autocráticos de nossa elite econômica.. | ||
Estamos frágeis demais para resistir a uma ruptura institucional… |