Bolsonaro colecionou crimes eleitorais em viagem a Londres para prestar condolências à falecida Rainha britânica, no fim de semana. Na condição de Chefe de Estado, o atual Presidente fez campanha eleitoral com seus minions que moram em Londre...
Bolsonaro colecionou crimes eleitorais em viagem a Londres para prestar condolências à falecida Rainha britânica, no fim de semana. Na condição de Chefe de Estado, o atual Presidente fez campanha eleitoral com seus minions que moram em Londres, utilizando inclusive a Embaixada do país como palanque eleitoral. | ||
Esse foi apenas o último episódio de quatro anos de vergonha e humilhação do Brasil nas relações internacionais. | ||
Desde que tomou posse, o discurso do atual governo tem sido altamente ideologizado, em desrespeito ao mandato constitucional. A política externa brasileira se apequenou e criou situações conflitivas com aliados históricos. | ||
Na América do Sul, hoje, o Brasil encontra-se isolado, pois Bolsonaro fez campanha aberta para candidatos de direita e colocou a relação institucional com os vizinhos em risco. Felizmente, todos os candidatos de direita, apoiados por ele, perderam suas respectivas eleições. Foi assim na Argentina, no Peru, no Chile e, mais recentemente, na Colômbia. | ||
Não sei se o leitor se lembra mas, em 2019, o ex-chanceler Ernesto Araújo empreendeu um esforço patético de tentar desestabilizar o governo de Nicolás Maduro, com o pretexto de enviar ajuda humanitária para a Venezuela. Na contramão de toda tradição diplomática do Brasil, o governo atual buscou a confrontação no lugar do diálogo. | ||
A mesma falta de respeito com o princípio da não ingerência em assuntos externos dos países ocorreu no processo eleitoral dos Estados Unidos, quando Bolsonaro declarou abertamente apoio a Donald Trump e, mesmo após a confirmação da vitória de Joe Biden, demorou quase um mês para felicitar o então presidente eleito norte-americano. Resultado disso, os canais de comunicação da Casa Branca com o Palácio do Planalto estão prejudicados desde janeiro de 2021. | ||
Com a China, nosso principal parceiro comercial, as relações diplomáticas foram estremecidas pela necropolítica do governo e por declarações preconceituosas do filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, e do ex-ministro da Educação. A provocação despropositada colocou em risco relações bilaterais que sempre foram pragmáticas. | ||
O mais temerário, no entanto, é o projeto pessoal de Bolsonaro que visa a destruição de nossa Floresta Amazônica, em apoio à atuação da mineração ilegal e de madereiras clandestinas. A política deliberada de enfraquecimento de órgãos importantes de fiscalização, como o IBAMA, e de proteção dos povos nativos, como a FUNAI, aumentou a incidência de queimadas e de desmatamento no Bioma. Nesse cenário, a União Europeia, liderada por França e Alemanha, colocou em questão a ratificação do Acordo de Livre Comércio finalizado com o MERCOSUL, em julho de 2019. | ||
Bolsonaro então decidiu partir para o ataque grosseiro contra a França e seu presidente, Emmanuel Macron. Seu ministro da Economia, o Posto Ipiranga Paulo Guedes, chegou a insultar a primeira-dama francesa, em uma demonstração de extrema falta de respeito. Até recentemente, Paulo Guedes colocava em dúvida a relevância da França para a economia brasileira. Talvez ele não saiba, mas o intercâmbio e influência culturais históricos da França ajudaram a moldar a sociedade brasileira, nossa cultura e nossa educação. Os investimentos franceses estão presentes na indústria nacional e no setor de serviços (há 890 empresas com ao menos 10% de capital acionário francês instaladas no Brasil). Existem mais de 100 mil brasileiros residindo na França. Os franceses participam do PROSUB, projeto da Marinha de construção do submarino nuclear brasileiro, cuja tecnologia será transferida pela Marinha do país europeu. Hoje, somente Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia, China e Índia detêm essa tecnologia. | ||
Bolsonaro colocou toda essa vasta cooperação em risco. | ||
Esta semana, o presidente viaja para Nova Iorque para participar da Assembleia Geral da ONU. Certamente dará um jeito de fazer campanha em seu discurso para os representantes do mundo todo. | ||
Aproveitando a presença na cidade norte-americana, Bolsonaro encontrará os presidentes de Equador, Guatemala, Polônia e Sérvia. O que esses líderes têm em comum? Todos são considerados conservadores ou ultra-conservadores e mantêm uma agenda política populista como a empreendida por Bolsonaro nesses longos quatro anos. Foi-se o tempo em que os mais importantes países buscavam o Brasil para articular cooperação em torno de temas e agendas importantes das relações internacionais. Outrora articulador indispensável nos temas ambientais, por exemplo, hoje o Brasil é visto como parte do problema. | ||
Fato é que o Brasil se apequenou nesses últimos anos, sobretudo na gestão desse presidente. | ||
A imagem brasileira precisará ser amplamente reconstruída, com os vizinhos sul-americanos, com os poderosos Estados Unidos e União Europeia e com a indispensável China. | ||
Acima de tudo, o Brasil poderá se colocar na posição de interlocutor no âmbito da crise que assola a Venezuela, em busca de uma saída negociada para o país. Não há opção senão o diálogo. | ||
Finalmente, por fazer parte do “bloco ocidental” e, ao mesmo tempo, integrar o BRICS, quem sabe a diplomacia brasileira não poderá ter um papel construtivo na busca de entendimento entre Ucrânia e Rússia? Certamente, não seríamos protagonistas nessa difícil empreitada, mas poderíamos contribuir para aparar algumas arestas que causam desconfianças e impedem o diálogo. | ||
Enfim, o Brasil precisa voltar a ser Brasil. Precisa retomar seu lugar de destaque no sistema-mundo. Precisamos de um Presidente à altura do cargo! | ||
Ainda bem que este governo fará sua despedida da cena internacional agora em setembro… | ||
PS: enquanto Bolsonaro distorce a realidade brasileira, propagandeando que o preço do combustível em Londres é mais alto que no Brasil (sim, ele não mentiu, embora tenha omitido que o salário mínimo no Reino Unido seja o correspondente a R$9.000,00), a pesquisa BTG/FSB mostra crescimento de Lula nessa reta final. Mais importante ainda, mostra que o eleitor de Ciro Gomes se mostra cada vez mais dividido entre o voto no seu candidato e o voto útil. |