“Aos elogios do mundo, prefiro os aplausos da minha consciência.”
“Aos elogios do mundo, prefiro os aplausos da minha consciência.” | ||
A frase de Rui Barbosa cabe muito bem neste momento de extrema importância para o futuro do Brasil e de sua democracia. Não posso vacilar agora! | ||
Os meus amigos mais íntimos já sabiam que, caso Ciro Gomes não conseguisse alavancar sua candidatura e Lula estivesse com chances de vencer no Primeiro Turno, eu votaria no petista. Pois então, hoje, curiosamente faltando 12 dias para o pleito, decidi que apertarei o 13. | ||
Apesar de já ter escrito, em outro texto, que nosso voto é soberano e, por isso, não carrega consigo a necessidade de explicações, sinto que devo elucidar alguns fatos. Quem sabe eles podem ser úteis a outros eleitores de Ciro Gomes e de Simone Tebet? | ||
Idealmente, gostaria que o Brasil estivesse cumprindo seu destino inveterado de grandeza, compartilhando suas riquezas de forma equitativa entre os nacionais e servindo de inspiração para seus irmãos latino-americanos. Sei, contudo, que nossa realidade é bem diferente. | ||
Ainda custará ao povo brasileiro muita luta e dedicação para superar os mais de 3 séculos de escravidão, a história de desigualdade e de autoritarismo, e o preconceito de classe. Essa luta não acaba em um mandato ou em uma legislatura. Neste momento, nosso Brasil carece de um cuidado especial, pois sua democracia está seriamente ameaçada. A permanência de Bolsonaro no Palácio do Planalto pode colocar a perder todas as conquistas e proteções que sucederam a Ditadura e que estão lavradas em nossa Constituição. | ||
Nossas instituições estão sob ataque diário! | ||
Imagine só, caro leitor, se o inominável permanecer mais quatro anos no poder? Sinceramente, não sei se o Judiciário será capaz de resistir a tamanha pressão. O STF, que tanto atuou nesses últimos 4 anos para conter as arbitrariedades desse presidente, poderia ter seu corpo de juízes ampliado, para que uma nova maioria seja formada, dessa vez conivente com todas as barbáries bolsonaristas. Depois disso, distopias como as de Margaret Atwood e de Ray Bradbury podem dar um exemplo de alternativas para o futuro. | ||
Nesse contexto, inevitavelmente complexo, adiarei o sonho do Brasil ideal, objeto do Plano Nacional de Desenvolvimento, compactuado pelo voto e articulado de forma civilizada, em detrimento da realidade do Brasil possível, cuja democracia se encontra ameaçada. | ||
Sei que Bolsonaro contestará o resultado das urnas. Isso é um fato! A todo momento, o atual presidente coloca em dúvida o sistema eleitoral brasileiro. Sei também que ele conta com uma base sólida de fanáticos dispostos a se mobilizar de modo semelhante ao que ocorreu nos Estados Unidos, no fatídico episódio do assalto ao Capitólio. Infelizmente, Bolsonaro ainda conta com o apoio de militares, o que Donald Trump não contava e que foi crucial para o insucesso de suas investidas golpistas contra a democracia norte-americana. | ||
Não disse “dos militares” porque imagino existir, ainda, algum compromisso com o dever constitucional dentro das Forças Armadas. No entanto, certamente haverá apoio à tentativa de ruptura liderada por Bolsonaro e seus asseclas, tanto nas Forças Armadas quanto nas forças policiais. | ||
Resta a mim, pois, dificultar qualquer intento golpista da parte do atual presidente. Vencê-lo no primeiro turno, oxalá por uma considerável margem de votos, seria o melhor cenário político e social para evitar maior adesão ao ataque à democracia que certamente virá. Não se pode dar espaço para mais demagogia golpista! | ||
Assim, se eu não votar por minhas convicções políticas e econômicas, votarei por Ilza Ramos Rodrigues; por Bruno Pereira; por Marielle Franco; por Paulo Gustavo; pelos biomas brasileiros ameaçados pela mineração e desmatamento ilegais; pelos indígenas que estão morrendo em defesa de suas terras; pelos trabalhadores informais que só têm perdido direitos; pelas mulheres, sobretudo jornalistas, que são constantemente humilhadas pelo machismo cada vez mais naturalizado; pelos cidadãos LGBTQA+; pelos negros, que tem visto a história de seus heróis atacada pela própria Fundação Palmares; e por todos aqueles que sofreram e que sofrem com este desgoverno. | ||
Votar em Lula neste primeiro turno não se trata de votar a favor da polarização. Pelo contrário, trata-se de demonstrar que há o mínimo de união entre aqueles que defendem o Brasil democrático e plural. Votar em Lula neste primeiro turno não se trata de votar a favor da corrupção, afinal de contas, como combater a corrupção sem democracia? É preciso instituições fortes e capazes de investigar, contestar e punir os desvios na gestão pública. | ||
Os eventos políticos de 2013 e 2014 - as manifestações generalizadas e a contestação do resultado da eleição de Dilma Rousseff - iniciaram um processo social importante no Brasil, que descortinou uma parcela da população brasileira extremamente autoritária. Essas pessoas conseguiram aglutinar outros brasileiros, utilizando o antipetismo, para eleger Bolsonaro em 2018. Hoje esse perigoso grupo está no centro do poder nacional e já fez muito estrago ao nosso país e à nossa sociedade. É preciso frear seu avanço, restabelecer o mínimo de decência na Presidência da República e tentar limitá-los às franjas do processo político. | ||
Precisamos mudar os rumos deste país, para que ele volte a ser mais inclusivo, mais empático e mais aberto às diferenças e ao diálogo. Precisamos voltar a nos relacionar de forma amistosa com o mundo. Precisamos exaltar nosso Estado laico, que abraça todas as formas de religião e de crença. | ||
Por tudo isso é que deixo o sonho do Brasil ideal para logo mais. Antes, cuidarei da existência de nossa democracia e, assim, terei tranquila minha consciência. |